Um dos maiores letristas da Música Popular Brasileira e dono de uma das vozes mais marcantes da história do País, o cantor e compositor Milton Nascimento - ou Bituca, apelido pelo qual gosta de ser chamado - fez sua última apresentação em Porto Alegre na noite deste domingo (21), no Ginásio do Gigantinho. Na turnê A Última Sessão de Música, Milton encerra sua carreira musical de 60 anos com passagens por várias cidades do Brasil e da Europa.
Aos 80 anos de idade, Milton realizou um show de quase duas horas, cantando mais de 30 músicas - entre clássicas de sua autoria e outras tradicionais da MPB. Apesar de sentado em frente ao público durante todo o show (ele se levantou apenas ao final, para agradecer à plateia), a voz única de Bituca e suas letras fortes foram suficientes para cativar o público presente ao Gigantinho.
Antes da chegada de Milton ao palco, o show contou com a abertura de Zé Ibarra, músico e integrante da banda de Bituca em sua última turnê. Após breve performance, as luzes do ginásio se apagaram e um emocionante documentário da trajetória da carreira de Milton Nascimento foi exibido no telão. Depois, as cortinas se abriram e Bituca apareceu para o público, sentado ao centro do palco e vestido com um poncho colorido. Ao fundo, dava-se para ouvir os instrumentos tocando o clássico Ponta de Areia, eternizada pelas vozes de Milton e Elis Regina, primeira música do show. Três músicas depois do início, Milton retirou o poncho e a produção o levou sua clássica boina azul e seu óculos escuros arredondados. O público olhava, agora, para a versão mais clássica do cantor; era, de verdade, o Bituca que se apresentava.
Milton se apresentou com seu visual clássico. Foto: TÂNIA MEINERZ/JC
Milton permaneceu, até o fim da apresentação, sentado no centro do palco, em uma posição quase transcendental, em que seu corpo não movia a não ser pela boca e mãos, mas a sonoridade inconfundível de seu timbre resultava em lágrimas de emoção e agradecimento do público presente. O êxtase veio quase ao fim da apresentação, quando a música Maria, Maria foi cantada por Milton e toda a plateia. Bituca ainda cantou clássicos como Tudo que você podia ser, Fé Cega, Faca Amolada, Paula e Bebeto, Caçador de Mim, além das infantis Bola de Meia, Bola de Gude e Peixinhos do Mar. Algumas canções tiveram longos agudos puxados por Milton - marca registrada de sua cantoria -, demonstrando que, apesar de fisicamente abalado em razão da idade, o cantor ainda realiza performances únicas e características de sua carreira musical de mais de meio século.
O baixista da banda de Milton em sua turnê de despedida, Frederico Heliodoro, comentou, em depoimento à reportagem, a alegria e a grande oportunidade de tocar com este ícone da música que ele considera, em suas próprias palavras, "um dos maiores artistas do mundo" - uma vivência que destacou como "uma experiência muito ímpar na minha vida". "É a última turnê (de Milton). Depois dela, eu nunca mais teria a chance de participar disso, e agora eu tive a chance. Eu estou muito feliz, muito grato."
O sentimento do baixista se assemelha ao do público. A estudante Letícia Haas acompanhou o show, que definiu como "um momento de pura contemplação e de gratidão para esse gênio da música brasileira". Ela ainda brincou: "se você não quer se emocionar, se não quer sentir algo muito profundo, realmente não dá pra sair de casa".
"Bituca, eu te amo": esta foi a frase mais repetida pela plateia durante a apresentação. Ao longo do show, Milton lembrou que Porto Alegre é a cidade natal do grande amor de sua vida: a cantora Elis Regina. Houve ainda homenagens à argentina Mercedes Sosa, ao cantar a música Volver a los 17. A apresentação se encerrou com Milton recebendo ajuda para se postar de pé e agradecer o emocionado público - em uma demonstração recíproca de gratidão entre artista e fãs. "Me despeço dos palcos, mas da música nunca" - a frase de Bituca, dita no documentário que deu início ao show, certamente vai ficar por muito tempo na mente dos presentes.