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Cultura

- Publicada em 31 de Maio de 2021 às 19:49

Nelson Coelho de Castro lança álbum e disponibiliza discografia nas plataformas

Cantor e compositor apresenta 'Umbigos modernos', com gravações dos anos 1980

Cantor e compositor apresenta 'Umbigos modernos', com gravações dos anos 1980


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
"Eu sou assim mesmo, meio dependurado no pretérito. Eu custei para lançar um CD, era quase um sonho que eu tinha na época, e só fui lançar em 1996. E só pude chegar nas plataformas digitais agora, uns 15 anos atrasado." No universo de Nelson Coelho de Castro, as coisas não são movidas pela pressa - um ritmo que talvez não encaixe no consumo rápido e pouco engajado da contemporaneidade, mas dá a seus movimentos musicais a liberdade de quem não está preso a compromissos.
"Eu sou assim mesmo, meio dependurado no pretérito. Eu custei para lançar um CD, era quase um sonho que eu tinha na época, e só fui lançar em 1996. E só pude chegar nas plataformas digitais agora, uns 15 anos atrasado." No universo de Nelson Coelho de Castro, as coisas não são movidas pela pressa - um ritmo que talvez não encaixe no consumo rápido e pouco engajado da contemporaneidade, mas dá a seus movimentos musicais a liberdade de quem não está preso a compromissos.
Para novos e velhos ouvintes, a chance de unir reencontro e descoberta já está disponível nas plataformas digitais. A partir de agora, a discografia completa do compositor gaúcho está disponível online - acompanhada de um novo lançamento, Umbigos modernos, que resgata gravações registradas entre 1985 e 1988, até então inéditas.
As oito faixas funcionam como crônicas de uma época, em Porto Alegre e no Brasil - retratos que, curiosamente (ou talvez nem tanto), não parecem nem um pouco fora do lugar na realidade atual. "São canções cronistas, bem agarradas a um momento específico", concorda. "Depois de 1985 (quando saiu o LP Força d'água), só foi sair disco mesmo em 1996 (Verniz da madrugada). Nesse meio tempo, outras músicas cronistas tinham surgido, estavam mais novas, e aí o que está mais perto de ti acaba ganhando território. Quando descobri essas fitas (do Umbigos modernos) de novo, levei um susto, porque, mesmo tendo o caráter daquela quadra do tempo, tem muita coisa ali que se reflete no agora", pondera.
A sequência de acontecimentos que trouxe Umbigos modernos ao mundo surgiu de uma percepção bastante prática: a de que estava passando da hora de ter a obra de Nelson Coelho de Castro disponível online. "Um colega de profissão da minha esposa levou o filho para ver um show do Zeca Baleiro, e ele cantou uma música minha. O adolescente, filho dessa pessoa, perguntou como era mesmo o nome, fez uma busca (em uma plataforma de streaming) e disse para o pai: 'esse cara não existe'", lembra Nelson, dando risada. "No canal de busca dele, eu não existia, e ele estava absolutamente correto. Aí fiquei pensando 'cara, estou na caverna, estou que nem aquele soldado japonês na floresta, que achava que a guerra não tinha acabado'".
Com a ajuda do compositor Luciano Mello, do designer gráfico Patrick Tedesco e do engenheiro de som Marcos Abreu, o processo de digitalização de músicas e capas dos álbuns originais foi sendo realizado. Motivado por esse resgate, Nelson mergulhou nas gavetas do passado e encontrou, no meio das fitas cassete, as gravações que virariam Umbigos modernos. "Mandei umas 10 ou 12 músicas para o Luciano e ele me respondeu todo empolgado: 'tem que subir isso aí também, tu estás com um disco inédito pronto'. Resolvi ouvir o que essas pessoas, mais antenadas no mundo atual do que eu, estavam me dizendo", afirma o compositor, animado.
Na voz de um artista tão pouco apegado aos avanços vertiginoso da atualidade, Umbigos modernos acaba falando das coisas que foram e das que estão sendo, sem perder nada da mensagem pelo caminho. "Venho dos anos 1970, tínhamos que estar próximo uns dos outros, porque o inimigo era forte. Andávamos em bandos, como na música do Bebeto (Alves, a clássica De um bando). A música Umbigos modernos foi escrita numa época em que as pessoas começavam a se dispersar, a se distanciarem, e a música diz isso, que os umbigos falam de si, que as pessoas foram cuidar de seus quintais. Aí, hoje, as pessoas cada vez mais distantes... São conceitos que se repetem."
Em princípio, o novo álbum iria apenas para o ambiente online, "ser parceiro dos outros nas nuvens", como diz Nelson. Mas a paixão pela mídia física fez com que Umbigos modernos ganhasse também uma versão em CD. "A emoção que senti quando chegou a caixa dos discos novos foi a mesma de quando abri a caixa do meu primeiro disco independente de 1981 (Juntos)", garante. "Ainda tenho essa coisa de piá, de quando via os discos da minha mãe e do meu pai e ficava imaginando que milagre era aquele que fazia os músicos estarem dentro do vinil. E não quero orientar muito esse piá, quero que essa fantasia se mantenha intacta."
A expectativa é que, depois desse resgate do passado, não demore muito para Nelson Coelho de Castro trazer novos lançamentos. Desde a chegada da pandemia, dois projetos estão pendentes: um disco com a cantora e compositora Mônica Tomasi, em torno do show conjunto Pérola no veludo, e um novo trabalho do Juntos, projeto ao lado de Antonio Villeroy, Bebeto Alves e Gelson Oliveira.
E deve surgir também um novo álbum próprio, que estava planejado para 2020 e, agora, aguarda um momento mais seguro para a concretização. "Quem te move a fazer o disco é a música. Tu podes inventar mil desculpas, mas, quando a música vem até ti, ela não quer saber de porta fechada. Tenho músicas que estão me dizendo isso, que a hora de gravá-las é agora", anima-se.
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