As vitórias de Johnica

Por JC

Os estudos são parte importante na vida da haitiana Johnica, que cursa Ensino Médio à tarde em Porto Alegre
Desde cedo, desafios fazem parte da vida de Johnica Gabriel. Até os oito anos, ela enfrentou, ao lado da família, as dificuldades do Haiti, o país mais pobre das Américas, repleto de conflitos e afetado por terremotos e furacões. Como muitos haitianos, a mãe dela decidiu vir para o Brasil, e foi assim que, ainda criança, Johnica chegou a Porto Alegre. Ela é a primeira personagem da série Inspira CIEE-RS, que apresenta histórias de pessoas ligadas à instituição e que são exemplos inspiradores.
Recém-chegada à capital gaúcha, Johnica aprendeu o português na Escola Décio Martins Costa, no bairro Sarandi, instituição com experiência no atendimento a imigrantes. Ela se alfabetizou em uma turma com outras crianças que aportavam na cidade em meio ao êxodo haitiano, iniciado em 2010.
Johnica tem hoje 17 anos e o português é uma barreira superada. Ainda existem, porém, muitos outros obstáculos. Mesmo com as palavras corretas do idioma na cabeça, era difícil colocá-las para fora. A situação ficou evidente quando entrou como aprendiz no setor de Marketing do CIEE-RS. A timidez impedia Johnica de pedir auxílio e falar em reuniões. “Sempre tinha vergonha, minha comunicação não estava bem”, relembra.
Para vencer o problema, recebeu uma sugestão de colegas para fazer aulas de teatro. Correu atrás e conseguiu uma bolsa na oficina da autora e diretora Vanja Ca Michel, consagrada por peças como “Adolescer”. Apresentar-se na produção “Os Invisíveis” se tornou símbolo de vitória.
Os estudos são parte importante na vida da haitiana Johnica, que cursa Ensino Médio à tarde em Porto Alegre. “Minha mãe me ajuda muito porque ela não quer que eu passe dificuldades”, destaca, sobre o incentivo que recebe para estudar e almejar uma profissão.
Os efeitos do esforço na comunicação apareceram enquanto atuava como aprendiz. “Eu achava que não ia conseguir fazer nada, mas fui pegando rápido. Eu não perguntava nada, e agora pergunto, peço se tem mais algo a fazer”, afirma. O desprendimento avançou, e Johnica agora produz vídeos para as redes sociais do CIEE-RS.
Desafios sociais igualmente desafiaram Johnica. Na zona norte de Porto Alegre, vive com a mãe, o padrasto e dois filhos dele. Viu a mãe trabalhar em confeitarias e como cuidadora de crianças. Na pandemia, a vida ficou mais difícil porque a mãe perdeu o emprego. No entanto, mesmo esse obstáculo foi superado. Atualmente, a mãe é camareira em um hotel, enquanto o padrasto trabalha como pedreiro e os filhos dele também são aprendizes.
Johnica diz que tem poucas recordações do passado no Haiti. O que vislumbra é o futuro. E os caminhos são inúmeros para uma jovem cheia de planos. Na escola, cursa magistério. Desde criança, sonha em ser professora, mas também pensa em fazer um curso técnico de enfermagem ou na área da medicina. O objetivo é ajudar as pessoas com algum trabalho social. Ela também tem vontade de fazer curso de dança, outra arte que a encanta. Apesar de jovem, Johnica já tem uma história com vários capítulos, e muitos ainda serão escritos.
CIEE-RS