Tiago Dinon Carpenede
"The bomb has been planted." Em português, "a bomba foi plantada". Essa frase pode soar familiar para entusiastas do jogo Counter-Strike. O alerta é emitido quando o jogador ativa uma bomba-relógio, e começa a contar o tempo para que os oponentes localizem e desarmem o artefato explosivo antes da destruição. Migrando para a economia brasileira, uma bomba-relógio foi plantada pelo governo federal. Revogação do teto de gastos. Expansão desordenada de programas assistencialistas. Tentativas de arrecadação por vias incertas e maior tributação. Contabilidade criativa para calcular o resultado fiscal. O arcabouço parece mais um calabouço fiscal.
Por quase dois anos do atual governo, os agentes econômicos assistiram às políticas econômicas com um misto de ceticismo e esperança. Entretanto, nos últimos meses, o descompasso do governo entre discurso e ação gerou grande preocupação com as contas públicas. Foi prometido um pacote fiscal que endereçaria o problema. Mas, nas últimas semanas, a situação se escancarou.
Há pouco tempo, o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto era o bode expiatório do governo federal para problemas econômicos. Como Gabriel Galípolo foi indicado por Lula, não serve mais como alvo. Então, a Faria Lima foi escolhida como nova antagonista do "nós contra eles" econômico. À la Homer Simpson, "a culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser", o governo federal coloca a culpa na Faria Lima.
O mercado financeiro é veloz em antecipar cenários. Assim, os preços do presente já refletem as perspectivas futuras, positivas ou negativas. São justamente esses diferentes horizontes temporais que a equipe econômica do governo federal parece não (querer) entender. Ao trazer números atuais da economia para contrapor a flutuação de preços no mercado financeiro, o governo pratica negacionismo econômico.
Taxas de atividade e nível de emprego aquecidas - como o momento atual - costumam ser excelentes ingredientes para o desenvolvimento econômico. Quando interagem com descontrole fiscal e desancoragem de expectativas futuras, entretanto, tornam-se ingredientes inflamáveis.
Acompanhamos recentemente a apreensão do mercado: explosão das taxas de inflação, de juros reais de médio e longo prazo e de câmbio. Diferentemente do que o governo diz, investidores, empresários e famílias não estão agindo politicamente. Apenas buscam se antecipar para proteger seu patrimônio e suas economias. Muitos estão sentindo um déjà-vu do segundo mandato Dilma, quando o contexto econômico pareceu um cenário de Counter-Strike - tamanha a devastação.
A economia é movida pelo comportamento das pessoas, com toda a sua incerteza inerente: por isso, é uma ciência social, e não exata. Quem melhor entendeu isso foi a escola austríaca, pois coloca o indivíduo no centro de análise. Devido à complexidade e à dinamicidade da economia, infelizmente não temos um visor preciso, com a contagem regressiva para a explosão da bomba. Perdão pelo trocadilho: é uma bomba-relógio sem relógio.
O começo de ano é ótimo para refletirmos criticamente sobre as escolhas e ajustarmos a rota. Inclusive, para admitir verdades inconvenientes. Esperamos que o governo federal tenha humildade e responsabilidade para desarmar a bomba que ele mesmo plantou.
Vice-presidente do IEE