Hugo Muller
O ano se encaminha para o final, e chega a época das retrospectivas e das avaliações dos resultados obtidos ao longo de 2024. Para fazer isso, nada melhor do que comparar resultados. A seleção de futebol da Argentina, por exemplo, ganhou a Copa América disputada nos Estados Unidos e é a atual campeã mundial, enquanto o nosso time nacional não vem entregando as conquistas que o povo brasileiro almeja. Futebol à parte, não é só na modalidade esportiva mais celebrada do mundo que os hermanos estão ficando à frente do Brasil.
Na política econômica e fiscal, Brasil e Argentina, como bons rivais, implementam ações completamente opostas. Também temos hoje duas personalidades diferentes e com visões de mundo conflitantes como chefes de Estado. Dois lados divididos por uma fronteira de mais de 1,2 mil quilômetros de extensão e que nos permitem medir os efeitos e comparar as medidas governamentais de cada país.
A Argentina vem sofrendo há muito tempo com instabilidades macroeconômicas. Governada por longos anos com um viés de inchaço do aparato estatal, o país via suas contas públicas em patamares astronômicos, com déficits recorrentes e aumentando a cada ano. Quando assumiu a Presidência do país, Javier Milei implementou um plano de cortes e de eficientização do governo buscando justamente estabilizar as contas públicas. Juntamente às ações de cunho interno, Milei buscou diminuir o número de regulamentações, retirando as amarras do empresariado. Em menos de um ano de governo, a inflação passou de 25% ao mês, em dezembro de 2023, para 2,4% em novembro de 2024, um reflexo direto do modo como o país está sendo conduzido.
Do nosso lado do rio Uruguai, a situação é oposta. O Brasil, mesmo após um período de pandemia, quando da troca de governo em 2022, apresentava um superávit primário e uma dívida decrescente. Com a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, a política econômica e fiscal se inverteu. Aos moldes dos antecessores de Milei, Lula acredita que gastos e inchaço da máquina pública são a solução para o país. Já no primeiro ano de governo, o Brasil teve mais de R$ 230 bilhões de déficit primário. O cenário deficitário se mantém em 2024 e deve continuar nos anos seguintes. A receita experimentada pelos argentinos no passado recente está sendo seguida pelo Brasil com uma velocidade surpreendente.
Um dos sintomas da loucura é fazer o mesmo esperando um resultado diferente. Por isso, o Brasil repete a Argentina do passado: já se sentem os efeitos do trato fiscal irresponsável, com a escalada do dólar e os juros reais passando dos 7% no último mês do ano. Já na disputa pelos recursos do exterior, vemos a Argentina crescendo no volume de capital estrangeiro, enquanto o Brasil registrou no ano uma retirada de mais de R$ 30 bilhões de investidores de fora do país da Bolsa de Valores. Os números falam por si, pois o ano se encaminha para uma alta recorde nas ações negociadas na Argentina, ao mesmo tempo em que o Ibovespa registra queda. Enfim, o cenário está longe de ser positivo para o nosso país. Torço para que não se repita uma derrota de 7 a 1, como aquela para a Alemanha na semifinal da Copa de 2014, desta vez no plano monetário.
Diretor Financeiro do IEE