Nas últimas semanas, o Brasil se viu coberto por uma nuvem de fumaça oriunda das queimadas na Amazônia, as maiores em mais de vinte anos, e no Pantanal. Capitais como Belo Horizonte, São Paulo e até Porto Alegre viram o céu completamente desfigurado e a qualidade do ar cair enormemente. A situação chegou a tal extremo que São Paulo foi rebaixada ao nível de pior cidade do planeta neste último quesito. As imagens de satélite são assustadoras, pois mostram a maior parte do território nacional tomada por uma densa camada de fumaça, um cenário catastrófico que chamou atenção do mundo.
Além dessa tragédia que assola nossas florestas e cidades, recentemente fomos cobertos por outra nuvem. Uma nuvem escura como as togas de nossos juízes. O Brasil se uniu a países ditatoriais como China e Coreia do Norte, proibindo a plataforma X (ex-Twitter), com mais de 20 milhões de usuários, de operar no País. Além dessa decisão, na mesma ordem judicial se proibia as operadoras de celular de oferecerem, com pena de multa milionária, serviços de VPN, que simulam outra localização para o usuário e, assim, permitem acessar sites bloqueados. Apesar de não ter sido mantida, tal medida mostra a ânsia por controle absoluto, algo que não é compatível com uma democracia.
Esses dois acontecimentos, os incêndios e a questão da rede social, parecem não estar conectados, mas eles reforçam uma imagem extremamente negativa do Brasil internacionalmente. Ou ao menos deveriam. Isso porque, poucos anos atrás, uma das maiores críticas feitas ao então presidente Jair Bolsonaro, em um contexto de queimadas menos intensas do que as atuais, era de que os incêndios nas florestas brasileiras reforçavam uma visão muito ruim para os negócios e as relações com outros países. É só lembrar as intermináveis polêmicas com o presidente francês Emmanuel Macron, um acusador daquilo que chamou de "crise internacional", sugerindo uma discussão no G7 a respeito do assunto. Sobre o X, o atual governo até mesmo aproveitou a oportunidade para reforçar seu antiamericanismo e seu discurso em defesa de uma soberania nacional, supostamente sob ataque do empresário Elon Musk, dono da rede social.
Ora, onde estão os críticos de outrora, de dentro e de fora do Brasil, que clamavam por moderação institucional e cuidado com as nossas florestas? Onde estão os Macrons deste planeta? Onde estão os Leonardos DiCaprios, as Kims Kardashians, os Marks Ruffalos? Não estou nem mesmo perguntando sobre aqueles que estão no campo da esquerda, mas sobre aquelas pessoas de perfil moderado que fizeram coro aos discursos inflamados (sem trocadilho) das celebridades do momento. Pelo bem do Brasil, seria excelente se tivéssemos mais uma vez suas vozes somadas e suas assinaturas em cartas, em sites, em veículos de imprensa, em redes sociais, no X. Ops, no X, não.