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Visão de Mercado
João Satt

João Satt

Publicada em 03 de Julho de 2024 às 20:59

Dignidade

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Apenas quem viveu na pele os efeitos da enchente, sabe que: a "ressaca dos afogados" é muito mais abrangente do que se possa imaginar. Ao encontrarmos as fronteiras da nossa vulnerabilidade, bate a culpa da própria impotência. Essa dor profunda, traz a reboque o efeito colateral da vergonha do "não conseguir".
Apenas quem viveu na pele os efeitos da enchente, sabe que: a "ressaca dos afogados" é muito mais abrangente do que se possa imaginar. Ao encontrarmos as fronteiras da nossa vulnerabilidade, bate a culpa da própria impotência. Essa dor profunda, traz a reboque o efeito colateral da vergonha do "não conseguir".
Pense um pai e uma mãe sem condições de proporcionar uma vida digna aos filhos. A ausência de um telhado, proteção, enfim, dormir em paz, ter um canto para chamar de seu, tudo isso são carinhos esperados e imprescindíveis. Um filho quando chamado para ajudar sua família a superar um impacto dessa magnitude, invariavelmente, tem sequestrada parte da trajetória da sua própria vida. Naquele momento seus projetos e sonhos profissionais ficam em segundo plano. Isso traz consequências para o resto dos seus dias. Só quem perdeu sabe o quanto dói enfrentar um luto.
Nos últimos dias, iniciamos um novo estudo de mercado, com objetivo de escutar o desabafo de três segmentos da sociedade. Muitos estão extremamente irritados, outros negam a realidade, sendo que a maioria apresenta um olhar vago quando fala do momento atual. Nossos profissionais entrevistaram:
1. Quem perdeu a casa;
2. Quem perdeu o negócio e/ou emprego;
3. Quem teve sua mobilidade afetada.
O ponto comum a todos entrevistados é que a rotina, o curso conhecido e normal de suas vidas, foi afetada pelas águas escuras dessa tragédia. O renomado psiquiatra Carl Jung, em sua obra "O Homem e seus Símbolos", aborda o conceito de misoneísmo, ao explicar que o ser humano reage com "um medo profundo, irracional e supersticioso ao novo".
O Rio Grande do Sul passou por um evento com a capacidade destrutiva comparado a uma verdadeira guerra. O despreparo face ao impacto do invasor, levou governantes e os diferentes recortes da população a um quadro de total impotência. Não se pode desconsiderar tudo que aconteceu, é importante sentar e conversar, a força renasce do diálogo franco e transparente.
O recado que vem dos entrevistados para os líderes políticos é suportado no tripé: verdade, agilidade e concretude. "Amar e trabalhar" foi considerado por Freud, como a síntese da sanidade mental. A dignidade reside em sentir-se reconhecido através do amor e do trabalho. O mecanismo de luta e fuga nos leva a escolher entre os inimigos imaginários e os reais. Nossa saída não é a fuga, e sim o bom combate: transformador, pleno em inovação, focado, comprometido com o inevitável salto da evolução. Todo problema, por pior que seja, traz uma oportunidade.
O Japão pós-guerra chorou, mas se reinventou como modelo e parque industrial. Pasmem, atualmente, é a terceira maior economia do mundo, ficando atrás apenas da China, e dos Estados Unidos, em primeiro. Os produtos japoneses têm garantia de origem e são respeitados em todo planeta. Os japoneses resgataram o orgulho-nação.
Não podemos nos entregar, é hora de agir. Construir um novo Rio Grande do Sul, a partir dos valores que nos trouxeram a ser uma das mais importantes economias do Brasil. Podemos ser o que nos propusermos, desde que seja reconstruída nossa autoestima, dignidade e capacidade de amar e trabalhar.
 

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