Esta é uma semana significativa para as artes cênicas em Porto Alegre e, por consequência, no Rio Grande do Sul. O Theatro São Pedro, após o belo recital da pianista Simone Leitão, no último domingo, fechou suas portas provisoriamente. A partir desta semana será repaginado para, entre outras coisas, cumprir legislação mais recente, produzida depois do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, e do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. O trabalho de prevenção de incêndio já está com suas etapas iniciais - como o isolamento dos motores do sistema de ar-condicionado, no forro do teatro, e a colocação do sistema de exaustão, para evitar que as pessoas morram por inalação de fumaça - concluídas. Este conjunto está complementado por uma passarela externa, que servirá de rota de fuga, em caso de incêndio, mas que também atende aos cadeirantes, que poderão ingressar diretamente na plateia do teatro, sem qualquer escadaria. A etapa que se inicia agora é a da aplicação de tecidos específicos anti-incêndio e pintura do madeirame. Isso inclui carpetes, cortina de pano de boca, receios das poltronas e suas coberturas.
Ao mesmo tempo, haverá uma intervenção complementar no sentido de garantir a acessibilidade, sobretudo de pessoas idosas e portadores de deficiência. Na lateral do hall de entrada, junto à chapelaria atual, será implantado um elevador, sendo a atual escada de madeira substituída por uma de ferro, com menor aclive. Também os banheiros serão reorganizados para receber cadeirantes, ao mesmo tempo que receberão modernização visual. O elevador, que virá desde o memorial, passando pelo átrio e chegando ao café, vai permitir ampla mobilidade de todos os espectadores.
Também será refeita toda a rede hidráulica, que é do início do século XX e possui canos de ferro, sendo substituída por uma rede de material menos corrosível, fazendo-se igualmente a recuperação de todo o forro do teatro, incluindo as belas pinturas que ali foram criadas, culminando na automatização do candelabro, para que ele possa ser descido mais facilmente para a periódica limpeza e substituição de lâmpadas. A obra se completa com uma iluminação externa que deverá valorizar o prédio em relação ao seu contexto do entorno.
Ao mesmo tempo, na quinta-feira, ocorreu a abertura do Teatro Simões Lopes Neto, que conclui as obras do Multipalco, num complexo de sete pisos, com entrada principal pela rua Riachuelo. Para ali será transferida toda a programação do Theatro São Pedro durante sua recuperação. No ano vindouro, o complexo contará com três salas, de dimensões variadas e, consequentemente, também diferentes propostas artísticas. A Sedac anunciou, igualmente, a recuperação do Teatro Bruno Kiefer, no sexto piso da CCMQ, ao mesmo tempo em que os projetos para a reconstrução do Teatro do IPE, na avenida Borges de Medeiros, estão avançando.
A prefeitura de Porto Alegre, pela Secretaria Municipal de Cultura, foi contagiada positivamente, e anunciou para este ano a recuperação do Teatro Renascença, no Centro Municipal de Cultura, enquanto a Federação dos Bancários garante a conclusão de seu novo teatro, na Fernando Machado, para o segundo semestre de 2025.
Resta mencionar, ainda, a retomada do projeto de construção da sede própria da Ospa. Pensei que o projeto havia sido abandonado mas fui informado de que, inclusive, houve uma reformulação do estudo arquitetônico, que integrará o prédio da orquestra com uma marina à beira do Guaíba. O governo do Estado pretende articular esta proposta com a prefeitura: se esta proposta vingar, teremos um complexo muito bonito, cujo princípio lembrará a Ópera de Sidney, na Austrália, sem a mesma grandiloquência, é evidente, do que não necessitamos. Mas a integração entre o verde do parque e o azul da água será um grande achado que valorizará a construção e dará maiores motivos de atração para além da música propriamente dita.
Em síntese, depois da tempestade que foi a enchente do ano passado, parece que chegamos à bonança da recuperação e ampliação dos nossos espaços culturais. Ao menos em Porto Alegre, já que em Novo Hamburgo, reina a desolação pela decisão (absolutamente equivocada, é óbvio) do novo alcaide em retirar as verbas de subsídio à Orquestra de Sopros do município. Vale mais asfaltar e asfixiar a cidade...