Para finalizar esta série de colunas a respeito da temporada de 2024, continuamos nosso levantamento a respeito dos espetáculos ocorridos ao longo do ano.
Das produções locais, podem-se destacar, em fevereiro, a estreia de Sangue e pudins, nova criação dramatúrgica e direção de Luciano Alabarse em que, apesar da direção cuidada, a escolha do texto e do tema não chegou a agradar plenamente seu público mais tradicional. Em abril, Heptameron - A força da arte, novo texto do médico Gilberto Schwartzmann, dirigido por Zé Adão Barbosa, alcançou enorme repercussão, permitindo que retornasse por diversas vezes a espaços diferentes, na cidade.
No segundo semestre, Florbela à margem de um poema, de e com Luciana Éboli, foi um dos trabalhos mais emocionantes do momento, ao lado de Idade é um sentimento, da canadense radicada em Londres Haley McGee, com direção de Camila Bauer e interpretações de Gabriela Munhoz e Paola Kirst: fica evidente a presença crescente de dramaturgas, diretoras e atrizes em nossa cena, o que é excelente.
Por fim, e apesar de todos os percalços, a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul continuou seu trabalho. Depois de reprisar Carmen, em formato de concerto, o grupo nos apresentou La bohème, festejando o centenário de Puccini e, pelo mesmo fator, Gianni Schicchi, duas montagens que bem atestam a versatilidade do grupo.
Ano de triste memória, não impediu que, em março, a Cia. Rústica de Teatro festejasse seus 20 anos de existência, o que, somado a outros grupos que também tem evidenciado certa longevidade, evidencia que, em Porto Alegre, já dá para os grupos teatrais sobreviverem.
Vera Bublitz completou 80 anos de vida dedicada à dança, com um inesquecível espetáculo no Theatro São Pedro, e o Teatro de Câmara, que reabrira depois de muito tempo em obras, em março, foi imediatamente destroçado pelas enchentes, necessitando de novas intervenções para retomar suas atividades.
O que se pode adiantar, para esta temporada, é a retomada de um conjunto de espaços que foram afetados pelas enchentes, como o Teatro do Sesi, que já reabriu suas portas, ou a inauguração de novas salas.
A Fundação Theatro São Pedro abrirá, em 28 de março deste ano, seu novo espaço, o Teatro Simões Lopes Neto, com cerca de 600 lugares que, de imediato, substituirá provisoriamente o espaço do Theatro São Pedro que, enfim, estará fechando para obras de adaptação à atual legislação de prevenção de incêndios, depois dos episódios da Boate Kiss e do Museu Nacional. Tanto uma obra quanto a outra correm totalmente por conta dos cofres do governo do Estado que, assim, conclui o projeto do Multipalco, idealizado por Eva Sopher e cujas bases foram lançadas em 2003, assim como atualiza o prédio histórico do Theatro São Pedro que, no ano passado, completou 40 anos de reabertura de sua reforma ou reconstrução, que levou dez anos de trabalhos ingentes de Eva Sopher. Agora, no entanto, o prédio precisa ser adaptado à legislação de prevenção contra incêndios e, aproveitando, serão feitas também intervenções visando maior acessibilidade para os mais variados públicos.
A Federação dos Bancários, por seu lado, anunciou a construção de uma bela sala de espetáculos em sua sede da rua Fernando Machado, que se chamará justamente Teatro Bancários e, o mais importante, será dedicado sobretudo a espetáculos oriundos da América Latina, segundo Victor Ortiz, seu administrador.
Tecnicamente, a sala de pouco mais de 300 lugares está projetada para ser a mais versátil possível. Por isso, à semelhança do Teatro Bourbon (ainda que pouco usado), toda a parte de poltronas é retrátil, semelhante à sala São Paulo, da Orquestra Sinfônica de São Paulo, segundo o projeto do arquiteto Voltaire Dankcwardt, há muitos anos vinculado ao teatro.
Por fim, a Sedac deve reabrir, ainda neste ano, segundo sua titular, Beatriz Araújo, o Teatro do IPE, junto à Borges de Medeiros, espaço que teve enorme importância para os grupos teatrais locais e depois, infelizmente, foi abandonado.
Ou seja, literalmente, depois das tempestades de maio e junho de 2024, é lícito pressupor que tenhamos bonanças e belas colheitas em 2025.