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Teatro
Antônio Hohlfeldt

Antônio Hohlfeldt

Publicada em 19 de Dezembro de 2024 às 19:29

Cassandra Calabouço: Espetáculo de travestimento excelente

'Onde Está Cassandra?', um dos destaques das artes cênicas do Estado na temporada 2024

'Onde Está Cassandra?', um dos destaques das artes cênicas do Estado na temporada 2024

/FAB LÜTZ/DIVULGAÇÃO/JC
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Antonio Hohlfeldt
O universo drag queen ganhou visibilidade internacional quando o diretor Stephan Elliott dirigiu The adventures of Priscilla, queen of the desert, que estrearia no Brasil em 1994, sob o título Priscila, a rainha do deserto. Aliás, no Brasil, seguindo a iniciativa da Broadway, também houve a produção de um musical, com Reynaldo Gianecchini, em 2024. De lá para cá, e na esteira das políticas públicas de dar visibilidade às (falsas) minorias étnicas, sexuais e culturais, artistas neste segmento se projetaram, alcançando enorme sucesso, ora apenas explorando a curiosidade e o divertimento do público, ora discutindo, mais aprofundadamente, as condições de invisibilidade e de marginalização social que tais transformistas enfrentam.
O universo drag queen ganhou visibilidade internacional quando o diretor Stephan Elliott dirigiu The adventures of Priscilla, queen of the desert, que estrearia no Brasil em 1994, sob o título Priscila, a rainha do deserto. Aliás, no Brasil, seguindo a iniciativa da Broadway, também houve a produção de um musical, com Reynaldo Gianecchini, em 2024. De lá para cá, e na esteira das políticas públicas de dar visibilidade às (falsas) minorias étnicas, sexuais e culturais, artistas neste segmento se projetaram, alcançando enorme sucesso, ora apenas explorando a curiosidade e o divertimento do público, ora discutindo, mais aprofundadamente, as condições de invisibilidade e de marginalização social que tais transformistas enfrentam.
Esta foi a linha adotada por Onde está Cassandra?, que tem roteiro de Cassandra Calabouço (em colaboração com Gui Malgarizi), que também é sua principal personagem e intérprete. Na dramaturgia e, depois, na direção do espetáculo, na coreografia e na escolha e montagem da trilha sonora, participou, ainda, o coreógrafo Diego Mac que, há alguns anos, criou e dirigiu uma excelente companhia de dança contemporânea que atuou na cidade. O resultado não é surpreendente se a gente presta atenção nos demais nomes que emprestaram seu talento à produção, mas é altamente compensador para o espectador que vai sem maior expectativa assistir ao espetáculo.
Primeiro, a escolha do roteiro musical: ele é de extremo bom gosto, começando com as tradicionais faixas de músicas norte-americanas, mas enveredando depois para a música popular brasileira, inclusive o samba e suas muitas variações. A narrativa, por seu lado, é conduzida pela personagem, que é a intérprete, Cassandra Calabouço, não apenas sob uma perspectiva autobiográfica, mas de reflexão a respeito da condição do travestimento e dos artistas deste gênero em sua sobrevivência no País. Mais que isso, já no início do espetáculo, com pouco mais de uma hora de duração, há uma importante reflexão a respeito da memória e do que resta da história e da vida de um artista, se ele mesmo não se preocupar em documentar e registrar seus trabalhos e criações.
Os figurinos de Antonio Rabadan, marcados pelas lantejoulas, são de muito bom gosto, sem excessos, enquanto a iluminação de Gui Malgarizi é muito eficiente, fazendo passagens de tempo e de espaço e ritmando o trabalho, em boa parte das interpretações musicais e coreográficas.
Um grande achado do espetáculo é que toda a dialogação, para além das composições musicais, está dublada. E todas as figuras em cena ecoam a mesma figura, Cassandra Calabouço que, assim, se desdobra nestas diferentes figuras, não importa que intérprete venha a integrar o elenco. Diga-se de passagem que as vozes gravadas não são as mesmas dos intérpretes, o que valoriza ainda mais a opção por este tipo de composição do espetáculo. Aline Karpinski, Nilton Gaffré Jr (Cassandra Calabouço), Lady Vina, Lauro Gesswein e Maria Laura Granada são os cinco intérpretes absolutamente sincrônicos na coreografia (criação de Cassandra Calabouço e Diego Mac) e também nas canções e falas (aliás, gravadas) de modo que o espetáculo ganha uma efetividade que normalmente não se encontra neste tipo de trabalho.
A narrativa centralizada na figura de Cassandra, deste modo, conta sua história, desde criança, o bullying sofrido, os preconceitos, os desafios para o início de carreira e as dificuldades que ainda hoje enfrenta; mas se encerra com uma perspectiva positiva, com uma sequência de músicas que vão do desfile carnavalesco às trilhas dos grandes musicais da Broadway, mostrando sempre qualidade que encanta e prende a atenção.
Nota curiosa, à parte, tem a ver com o público: há parte da plateia que assiste ao trabalho como a outro espetáculo qualquer, deleitando-se com os bons momentos, divertindo-se, aplaudindo, ou rindo. Mas há um outro segmento (arrisco dizer que metade do público, ao menos na noite em que assisti ao espetáculo) que parece ser adicto deste tipo de trabalho e, a cada menção feita a algum artista do universo drag queen local ou internacional, manifesta-se aplaudindo ou gritando, o que dá um colorido ainda mais dinâmico ao trabalho.
É de se esperar que Cassandra Calabouço (personagem de Nilton Gaffré Jr.) e Diego Mac, além de Gui Malgarizi, não parem nesta única experiência. Acho que há espaço para tais espetáculos, tendo mostrado o grupo capacidade e competência. Aguardamos as próximas montagens.
 

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