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Teatro
Antônio Hohlfeldt

Antônio Hohlfeldt

Publicada em 12 de Setembro de 2024 às 17:17

Espetáculo Moúses e o street dance libertário

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Antonio Hohlfeldt
Em 1961, o longa metragem West Side Story, de Robert Wise, tendo Nathalie Wood e Richard Beymer, um filme musical que fazia uma livre transcrição da peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare, para os ambientes latinos de Nova York, arrebataria multidões e chegaria a ser refilmado em 2021, sem o mesmo extraordinário resultado, por Steven Spielberg. Boa parte das sequências coreográficas eram rodadas nas ruas da cidade, com uma câmera que acompanhava os bailarinos na sua movimentação. Nascia, de certo modo, a dança de rua, ao menos, os registros da dança de rua pelo cinema. Em 1977, Embalos de sábado à noite, de John Badham, com John Travolta, revitalizava e relia esta perspectiva. A partir dos anos 2000, este tipo de filme se popularizaria, refletindo a popularização do próprio gênero, a dança de rua. Há, inclusive, para os interessados, um link bastante interessante que nos remete aos dez melhores filmes de streed music (dancaderua.com/estilos/street-dance/10-melhores-filmes-street-dance#google_vignette)
Em 1961, o longa metragem West Side Story, de Robert Wise, tendo Nathalie Wood e Richard Beymer, um filme musical que fazia uma livre transcrição da peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare, para os ambientes latinos de Nova York, arrebataria multidões e chegaria a ser refilmado em 2021, sem o mesmo extraordinário resultado, por Steven Spielberg. Boa parte das sequências coreográficas eram rodadas nas ruas da cidade, com uma câmera que acompanhava os bailarinos na sua movimentação. Nascia, de certo modo, a dança de rua, ao menos, os registros da dança de rua pelo cinema. Em 1977, Embalos de sábado à noite, de John Badham, com John Travolta, revitalizava e relia esta perspectiva. A partir dos anos 2000, este tipo de filme se popularizaria, refletindo a popularização do próprio gênero, a dança de rua. Há, inclusive, para os interessados, um link bastante interessante que nos remete aos dez melhores filmes de streed music (dancaderua.com/estilos/street-dance/10-melhores-filmes-street-dance#google_vignette)
Tudo isso surge a propósito do espetáculo Moúses - Filhas da Memória, que a New School Drama, alegadamente de Caxias do Sul, mas cuja sede me parece ficar em Porto Alegre, apresentou no projeto do Edital Atos e Cenas do Rio Grande do Sul, em sua segunda edição. O grupo é super conhecido e isso fez com que o espetáculo, inclusive, tivesse uma segunda sessão na mesma noite, fato que tem ocorrido, aliás, em outras de suas performances.
Moúses parte de uma referência mítica às nove musas gregas que seriam as artes originárias. Moúses é uma palavra que sintetiza tal realidade. Chamou-me a atenção, no grupo, o preparo corporal e o desenvolvimento técnico do espetáculo. Não se percebe um titubeio, um erro, por menor que seja, na realização da coreografia que, aliás, não é fácil, pela variedade de movimentos que exige. Outra coisa importante e altamente positiva no grupo é a quebra das exigências de certos padrões corporais para um 'bailarino', o que significa que qualquer pessoa pode vir a se tornar um intérprete de street dance, desde que tenha vontade, disposição pessoal e, claro, disciplina.
Aléxia Chaves, Dora Flach, Gabriela Carvalho, Isadora Lapa, Josyane Ramos, Luisa Machado, Marie Santos, Rafaela Caporela e Sophia Paranhos integram este elenco exclusivamente feminino, sob a direção de Gustavo Silva, que assina a trilha sonora, a coreografia e a direção do espetáculo, de cerca de uma hora de duração. A iluminação lembra os "embalos" das baladas de tantos filmes e festas, com uma indumentária marcadamente negra, que fica valorizada pela dinâmica iluminação.
O espetáculo agrada ao público, porque tem ritmo, é preciso e evidencia segurança. O que a mim deixou curioso é falta de conexão entre aquela primeira parte, justamente a que dá título ao espetáculo, e refere às musas gregas, e o restante do trabalho. Pessoalmente, acho que o primeiro bloco coreográfico, se fosse cortado, não faria nenhuma falta e não prejudicaria a unidade do trabalho porque, efetivamente, não há nenhuma relação direta entre aquela proposta e os dois blocos subsequentes da coreografia: nenhuma bailarina representa qualquer uma das musas mencionadas antes, não há nenhuma personificação das diferentes artes e, assim, por consequência, aquele primeiro boco fica inteiramente artificial em relação ao restante, o que só não prejudica mais o trabalho porque a performance em si é excelente e evidencia personalidade das integrantes do grupo.
O edital que permite a apresentação de espetáculos como esse, neste sentido, é altamente positivo. Afinal, a dança, chamada clássica, sempre foi considerada altamente elitista, até mesmo por sua origem nos salões da aristocracia europeia. A dança de rua, ao contrário, é a incorporação de outras referências estéticas, de outros valores e de outras narrativas, incluindo movimentos menos codificados e, por isso mesmo, mais livres e, neste sentido, mais libertários. Isso ficou evidente, neste espetáculo e justifica, com certeza, o sucesso deste trabalho que, inclusive, encontrou, no espaço do Teatro Olga Reverbel, uma proximidade física e emocional ideal com o público.
 

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