Na semana passada, o palco do Theatro São Pedro assistiu a uma mais que justa homenagem feita a uma 'dama da dança', Vera Bublitz. Diretora de uma escola de dança, Vera completou, no início do ano, 80 anos de vida, mais de 50 anos dedicados ao ensino da dança. Sua escola tem formado bailarinos que hoje se destacam em todo o País e também integram agrupamentos internacionais.
A partir deste motivo, a Fundação Theatro São Pedro resolveu propor uma homenagem à criadora, que escolheu duas atividades diferentes, mas complementares, para a festividade. Numa primeira jornada, apresentou diferentes bailados para crianças de escolas públicas, que tiveram acesso gratuito aos mesmos. Na segunda noite, a verdadeira 'gala', os bailarinos de suas escolas se apresentaram numa seleção de solos de diferentes bailados que são mundialmente conhecidos e que integraram, em algum momento, os repertórios dos espetáculos da escola.
Vera Bublitz surpreendeu a todos abrindo o espetáculo com uma La classe de danse, em que ela escolheu artistas mais jovens para ilustrarem uma espécie de aula sintética sobre a história da dança no Ocidente. Com esta iniciativa, Bublitz mostrou a preocupação em formar não apenas o artista e intérprete, mas também o público.
Depois, o espetáculo se desdobrou em passagens clássicas, como Noite de Walpurgis, com música de Gounod; um pas de deux de A escrava e o mercador, de Petipa; um pas de trois de O corsário, ainda de Petipa; uma passagem lúdica de La fille mal gardée, de Jean Dauberval; e, por fim, passagens de Paquita, novamente de Petipa, e que é uma espécie de pièce de resistance de todos os grupos coreográficos. Para estas passagens, além dos grupos formados pelos alunos da escola, Bublitz conseguiu trazer dois bailarinos da Cia. Paulista de Dança, Paulo Vítor Rodrigues e Marcos Silva que, obviamente, tornaram-se atrações à parte de toda a programação.
Depoimentos, gravações, memórias, além de uma exposição apresentada no átrio do teatro e na sua sala de exposição, de certo modo homenagearam, mas também evidenciaram os motivos mais do que justificados para a homenagem, sobretudo porque, na plateia, havia muita gente que, um dia, em sua infância ou adolescência, também havia sido aluno de Vera Bublitz.
A coreógrafa não perdeu tempo para mostrar novidades. Seu neto Patrick Bublitz, que foi um dos dois mestres de cerimônia da noite, mostrou a coreografia de Instinto, com música de Nina Simone, bela e cativante pequena peça a mostrar que a escola não está fechada na redoma do balé clássico, assim como, no momento de abertura, também se teve pequena passagem de dança de rua, que imediatamente cativou a plateia. Vera Bublitz enfatizou, ainda, em sua fala, a necessidade de financiamento, e pediu ajuda dos presentes para o projeto do festival de dança que a filha Carla desenvolve há três anos e que terá nova edição em agosto vindouro, como sempre, com professores e diretores de escolas convidados de todo o mundo, propiciando bolsas de estudos para os jovens estudantes sul-rio-grandenses.
No final da noite, enfim, a homenagem. As placas que são ritualmente entregues a artistas homenageados ficam nas paredes do teatro. Mas a Fundação Theatro São Pedro inovou e, desde o ano passado, além da placa oficial entrega também uma réplica que, esta sim, fica em mãos do agraciado. Todo frequentador do teatro já deve ter tido sua atenção chamada por estas homenagens, desde o final do século XIX e que continuam anda hoje em dia. A placa fala do artista mas, evidentemente, também constitui uma narrativa que forma a história do próprio teatro. Por exemplo, o espectador atento encontrará um registro da presença do compositor e maestro Heitor Villa Lobo, nos anos 1950 que, logo após a criação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, veio a Porto Alegre regê-la, ficando o registro daquela visita. Encontramos pianistas, regentes, bailarinos, artistas de teatro - enfim, gente que deixou seu nome na história da arte brasileira e mundial e que também tem seu registro nas paredes do teatro. Vera Bublitz, desde a semana passada, soma-se a estes homenageados. Oitenta anos de vida, creio, são justificativa mais do que suficiente para tal homenagem.