Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 08 de Dezembro de 2022 às 19:58

O centenário Dias Gomes merece voltar a nossos palcos

Antonio Hohlfeldt
No dia 19 de outubro de 1922, no mesmo ano da chamada Semana de Arte Moderna, que ocorria em fevereiro, em São Paulo, nascia, num bairro de Salvador, Alfredo de Freitas Dias Gomes, que se tornou internacionalmente conhecido apenas como Dias Gomes. Ele viria a falecer tragicamente no dia 18 de maio de 1999 quando o táxi em que viajava foi abalroado por um ônibus, ao fazer um retorno proibido.
No dia 19 de outubro de 1922, no mesmo ano da chamada Semana de Arte Moderna, que ocorria em fevereiro, em São Paulo, nascia, num bairro de Salvador, Alfredo de Freitas Dias Gomes, que se tornou internacionalmente conhecido apenas como Dias Gomes. Ele viria a falecer tragicamente no dia 18 de maio de 1999 quando o táxi em que viajava foi abalroado por um ônibus, ao fazer um retorno proibido.
Estamos completando, pois, neste ano, o centenário de nascimento deste dramaturgo brasileiro que foi pioneiro sob vários aspectos em nossa dramaturgia.
Podemos começar pela quantidade (e qualidade, por consequência, pela repercussão imediata junto ao público e crítica), de sua obra. Dentre as peças de teatro que mais chamaram a atenção, tivemos, já em sua estreia, aquela que, de imediato, projetaria seu nome internacionalmente: trata-se de O pagador de promessas, de 1959. Logo receberia uma versão cinematográfica, de Anselmo Duarte, em 1962, vencendo o festival de Cinema de Cannes, onde recebeu a Palma de Ouro; em 1988, o texto seria transformado em mini-série para a televisão.
Mas seguiram-se obras como O bem-amado, de 1962 que, igualmente, receberia versão para a televisão, com enorme sucesso popular, de modo que seu personagem principal, Odorico Paraguaçú tornar-se-ia figura absolutamente conhecida de todo o País, sendo sua cidade ficcional, Sucupira, evidente metáfora e paródia do próprio Brasil. Tivemos, ainda, O berço do herói, de 1963, mas foi a peça de 1966, O Santo Inquérito, a que mais chamaria a atenção da censura para o seu nome. A peça parte de um caso real, no período do Brasil colonial, envolvendo processo movido pela Inquisição da Igreja Católica, na Bahia, para, na verdade, discutir a realidade imediata do Brasil, que acabara de sofrer o golpe cívico-militar de 1964 e que viveria os chamados "anos de chumbo" a partir da edição do AI-5, de dezembro de 1968.
Outros textos importantes de Dias Gomes para o teatro foram Dr. Getúlio, sua vida, sua obra, que assumia a linguagem do teatro musical para valorizar a contribuição de Getúlio Vargas para a classe trabalhadora (diminuindo e quase omitindo a ditadura do Estado Novo, tão violenta quanto a de 1964), Amor em campo minado (1969), sobre as dificuldades da sobrevivência num país sob um regime de excepcionalidade política; Campeões do mundo, de 1979, que aproveitava o tema da Copa do Mundo para discutir as relações entre política e futebol (lembrando que, na década anterior, o ditador populista Emilio Garrastazu Médici aproveitara muito o tricampeonato para promover sua administração); e, enfim, Roque Santeiro, o musical, de 1995, que revisitava o roteiro de telenovela que ele escrevera para a TV Globo, e que deveria ter estreado em 1975, quando foi inopinadamente proibido pela censura, na própria noite de sua estreia, provocando reações de indignação até mesmo de Roberto Marinho, então o mandatário supremo da rede televisiva. Roque Santeiro viria a ser reescrita e estrearia em 1985, mas já sem o mesmo impacto do texto e do contexto originais.
Aliás, Dias Gomes foi pioneiro em, diante das dificuldades criadas pela censura contra as peças de teatro (havia, na época, uma dupla censura: a do texto original, que era proibido ou liberado com cortes; e a do espetáculo, que ocorria às vésperas da estreia e que poderia significar a falência de uma produtora), optar por aderir ao novo grande veículo comunicacional, no caso, a televisão que, embora censurada, e sobretudo em se tratando da TV Globo, alcançava maior flexibilidade dos censores. Dias Gomes escreveu dezenas de roteiros para a televisão, alguns a partir de suas próprias obras, como O bem-amado (estreada em 1973), criando textos originais, como Saramandaia (1976) ou, enfim, adaptando textos de outros dramaturgos, como o remake de Irmãos Coragem (1995) ou Dona Flor me seus dois maridos (1998).
Vinculado organicamente ao PCB, Dias Gomes, talvez por isso mesmo, tenha sido marginalizado depois de sua morte, o que é uma injustiça pela qualidade de sua dramaturgia (enquanto texto) e pela oportunidade de seus temas e enfoques (ainda hoje infelizmente atuais). Por isso, vamos, nas próximas semanas, abordar um pouco a obra deste dramaturgo referencial do País, e que merece voltar a ser apresentado em nossos palcos.
 
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO