Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 02 de Junho de 2022 às 17:22

Dança e guerra na última semana do Palco Giratório

Antonio Hohlfeldt
Terminou a 22ª edição do Palco Giratório, promovido anualmente pelo Sesc/RS. Tivemos espetáculos de forte impacto social, com denúncias objetivas a respeito das diferenças que experimentamos entre múltiplas classes, como em Para não morrer, dramaturgia de Francisco Mallmann, com direção de Babaya e interpretação emocionante de Nena Inoue. O Iago de Geraldo Carneiro, interpretado por Márcio Nascimento, com direção de Miwa Yanagizawa, foi um trabalho experimental que, por trás de uma aparente facilidade, evidenciou solução de problemas bem complicados para a encenação: um ator, que é Iago, contracena com dois bonecos que representam Desdêmona e Otelo; ao mesmo tempo, em algumas passagens, Desdêmona é corporificada em bonecos compostos exclusivamente por um tecido que, amassado e dobrado, torna-se a personagem viva. Iago inverte a perspectiva narrativa: se a tragédia shakespeareana faz um estudo sobre o ciúme, no texto aqui apresentado temos sobretudo o foco na capacidade de manipulação de um ser humano sobre os demais.
Terminou a 22ª edição do Palco Giratório, promovido anualmente pelo Sesc/RS. Tivemos espetáculos de forte impacto social, com denúncias objetivas a respeito das diferenças que experimentamos entre múltiplas classes, como em Para não morrer, dramaturgia de Francisco Mallmann, com direção de Babaya e interpretação emocionante de Nena Inoue. O Iago de Geraldo Carneiro, interpretado por Márcio Nascimento, com direção de Miwa Yanagizawa, foi um trabalho experimental que, por trás de uma aparente facilidade, evidenciou solução de problemas bem complicados para a encenação: um ator, que é Iago, contracena com dois bonecos que representam Desdêmona e Otelo; ao mesmo tempo, em algumas passagens, Desdêmona é corporificada em bonecos compostos exclusivamente por um tecido que, amassado e dobrado, torna-se a personagem viva. Iago inverte a perspectiva narrativa: se a tragédia shakespeareana faz um estudo sobre o ciúme, no texto aqui apresentado temos sobretudo o foco na capacidade de manipulação de um ser humano sobre os demais.
Estudo nº 1: Morte e Vida, do Grupo Magiluth, que já veio a este festival em ocasião anterior, com direção de Luiz Fernando Marques e interpretações altamente criativas e improvisadas de Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres e Mário Sérgio Cabral, num cenário que mescla o tradicional artesanal com a vanguarda tecnológica, é uma dolorida reflexão a respeito da obrigatória imigração a que os pobres e miseráveis se vêm obrigados. Há um roteiro, sim, no espetáculo, mas há muito de improviso na encenação, cujo ritmo é extremamente dinâmico (sem o que o espetáculo não sobreviveria, diga-se de passagem), mostrando a marginalização a que está votada boa parte de nossa população.
Uma série de espetáculos de dança se sucederam nesta última semana, com Cllã, de Alex Sander dos Santos, Preta Mina: O fim do silêncio. O eco do incômodo, de Preta Mina e Silvania Rodrigues, refletindo sobre a herança afro-brasileira, tema que também caracteriza outro espetáculo de dança, A reminiscência dos tambores do corpo no âmago dos homens ifa na crença do Maria, Marias, amálgama de vários espetáculos de Daniel Amaro, que vem produzindo sucessivos trabalhos com grupo coreográfico que criou em Pelotas. Aqui, em espetáculo solo, ele sintetiza estas pesquisas, num trabalho que mistura tradição religiosa e cultural com história e competência coreográfica.
Em chamas, de Manjula Madmanabhan, dramaturga hindu, é um espetáculo que já havia cumprido temporada em Porto Alegre, sob a direção de Matheus Melchionna. Trata, também, das difíceis relações sociais entre seres diferentes e distantes, tema mais do que compreensível para uma escritora que vem de uma nação marcada pela existência de castas sociais que perduram ainda hoje. O espetáculo funciona como uma espécie de ritual, à luz de velas, e é absolutamente atual, sobretudo se considerarmos as escabrosidades a que temos assistido (e sobretudo aquelas a que não temos assistido) na guerra da Rússia contra a Ucrânia. Também Palácio do fim, da dramaturga inglesa Judith Thompson cumpriu duas diferentes temporadas na cidade, uma, pouco antes da pandemia de covid-19, num pequeno espaço de fotografia, para pequenas plateias e outra, já em formato virtual, ao longo do ano passado. O texto, dirigido por Carlos Ramiro Fernsternseifer, com tradução de Liane Venturella, tem as interpretações dela mesma e de Nelson Diniz, abordando a questão da guerra no Iraque, a partir de três diferentes narrativas, cada qual mais contundente que a outra, reunidas num único trabalho. O espetáculo é inesquecível e obrigatório, também ele cada vez mais oportuno.
O festival se encerrou com a revisitação do Grupo Galpão, de Belo Horizonte, trazendo seu De tempo somos, que já havíamos conhecido em 2015.
Precisaremos referir, ainda, alguns outros espetáculos desta agenda, mas isso fica para a próxima semana.
 
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO