A cada cinco anos, os países signatários do Acordo de Paris, tratado multilateral de 2015 que busca frear o aquecimento global, devem atualizar as suas metas individuais de redução global da emissão de gases de efeito estufa (GEE) com foco nos 10 anos seguintes – para isso, devem ter como base dados atualizados pela ciência climática no período.
O documento recebe o nome de
Contribuições Nacionalmente Determinadas – NDCs, na sigla em inglês. Neste ano,
das 197 nações signatárias, apenas 13 entregaram a atualização, a segunda da série,
no prazo, que encerrou na segunda-feira, dia 10 de fevereiro. Apesar da data, a entrega pode ser protocolada a qualquer momento junto à Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Ter o compromisso de cada país documentado – assim como sua entrega no prazo – é importante para guiar debates e acordos climáticos a nível global. O
Instituto ClimaInfo aponta que "o descumprimento quase que generalizado do prazo dificultará a análise da ambição climática agregada dos países, instrumento vital para avaliar os compromissos nacionais" nas conferências das partes sobre o clima.
Em novembro deste ano,
a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) será sediada no Brasil, em Belém, capital do Pará. O país foi o segundo a entregar suas NDCs. Poucos dias antes, em novembro passado, os Emirados Árabes Unidos inauguraram a série de 2025.
Em terceiro na lista estão os Estados Unidos, ainda na gestão de Joe Biden, portanto antes de Donald Trump abandonar o Acordo de Paris pela segunda vez. Completam a lista, na ordem da data de envio, Uruguai, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Equador, Santa Lúcia, Ilhas Marshall, Singapura e Zimbábue.
No ano que completa uma década, o Acordo de Paris enfrenta os maiores desafios desde a sua elaboração, na COP21, realizada na capital francesa. A ambição de reduzir as emissões de GEE para a manter o aquecimento global "idealmente" em 1,5°C até o fim do século (2100) foi superado já nos primeiros anos da segunda década: 2024 foi o ano mais quente já registrado e alcançou 1,55ºC.
Além de não terem conseguido frear o aquecimento do planeta, os países que seguem no acordo terão que lidar com uma nova virada na postura dos EUA – em sua posse, Trump declarou: "Temos algo que nenhuma outra nação jamais terá: a maior quantidade de petróleo e gás de qualquer país da Terra. E vamos usá-la".
O país é atualmente responsável por 11,13% da quota de emissão global de GEE, atrás somente da China, com 25,88%, conforme dados da plataforma de dados abertos
Climate Watch, gerida pelo
World Resources Institute (WRI) em colaboração com parceiros, que é uma contribuição para a Parceria NDCs.
A participação do Brasil nas emissões é bem menor que a dos dois gigantes, medida em 3,09%. Mas, apesar do governo brasileiro se apresentar como agente global capaz de mediar conflitos que envolvam clima, e tendo a Floresta Amazônica como cartão de visita e trunfo para a negociação, a prática destoa do discurso.
Na semana passada, o presidente
Lula voltou a defender a mineração de petróleo na foz do Rio Amazonas, na costa norte do país. "Nós (o Brasil), a hora que começamos a explorar a chamada Margem Equatorial, eu acho que gente vai dar um salto de qualidade extraordinária. Queremos fazer tudo legal, respeitando o meio ambiente, respeitando tudo. Mas nós não vamos jogar fora nenhuma oportunidade de fazer esse país crescer", disse.
São apenas dois exemplos que apontam o caminho inverso ao que pregam os cientistas climáticos. Conforme dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), para estabilizar a temperatura pelos próximos 20 anos, é necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 57%, que só será possível com a diminuição drástica da produção e do consumo de combustíveis fósseis.
No novo documento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), o Brasil estabeleceu uma faixa de redução das emissões dos gases de efeito estufa (GEE) entre 59% a 67%, para 2035, na comparação com 2005. A informação é da Agência Brasil. O corte levará o país a uma emissão líquida anual de 850 milhões de toneladas a 1,05 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e), unidade utilizada para medir as emissões de GEE em relação ao seu potencial de aquecimento do planeta.
2024 foi o ano mais quente já registrado. A temperatura média global da superfície foi 1,55 °C (com uma margem de ± 0,13 °C) acima da média de 1850-1900 (período que marca o início da era industrial, e também o início da medição nos padrões atuais). Isso significa que este foi possivelmente o primeiro ano com uma temperatura média global superior ao limite de 1,5°C previsto no Acordo de Paris.
Os últimos 10 anos estiveram todos entre os mais quentes, em uma série extraordinária de temperaturas recordes.
Em janeiro de 2025, a temperatura do planeta alcançou 1,75°C acima do nível pré-industrial. Foi
a maior já anotada pela série histórica do Serviço Copernicus para Mudanças Climáticas da União Europeia, com temperatura do ar na superfície de 13,23ºC. Isso representa 0,79°C acima da média de 1991-2020 para o mês e 0,09ºC do último recorde para janeiro, que foi em 2024. Cabe destacar que
o recorde foi registrado mesmo com a incidência do fenômeno La Niña, que em anos anteriores ajudou a aliviar o calor.
Com o início da industrialização do planeta, entre 1850 e 1900, aumentou a emissão de gases poluentes devido ao uso de combustíveis fósseis - na indústria, nos transportes e em outras atividades humanas. São exemplos de combustíveis fósseis o petróleo, o carvão mineral e o gás natural.
A concentração desses gases na atmosfera intensifica o efeito estufa, processo natural do planeta Terra para reter o calor necessário às condições de vida, o que provoca o aquecimento da atmosfera e dos oceanos. A temperatura média mais alta impacta o clima, e essa mudança provoca fenômenos climáticos extremos, como secas prolongadas e inundações devastadoras, mais intensos e mais frequentes.
Climate Watch é uma plataforma online projetada para fornecer dados climáticos abertos sobre o progresso dos países e do planeta em relação às mudanças climáticas. Saiba mais em
www.climatewatchdata.org.