Uma análise sobre ganhos e perdas de vegetação nativa relacionado à data de aplicação do Código Florestal, em 2008, mostra que dentre todos os municípios presentes na Mata Atlântica, 45% apresentaram algum ganho entre 2008 e 2023. Por outro lado, 18% perderam área de vegetação nativa no mesmo período.
Apesar disso, 60% dos municípios possuem menos de 30% de vegetação nativa. E, dos municípios com mais de 50% de vegetação nativa (caso de Porto Alegre, por exemplo), 53% contam com alguma Unidade de Conservação dentro dos seus limites, isso sem considerar as áreas de proteção ambiental (APAs) existentes.
Estes são os dados mais recentes do
MapBiomas, divulgados em 26 de novembro, que integram a
Coleção 9 de mapas de cobertura e uso da terra no Brasil. Trata-se de um projeto que atua desde 2015 como uma rede colaborativa de especialistas atuantes nos biomas brasileiros, com o objetivo principal de elaborar mapas anuais de cobertura vegetal e uso do solo para todo o Brasil. As informações e o texto são do MapBiomas.
Com apenas 31% de cobertura vegetal nativa, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro que mais sofreu transformações nos últimos séculos. Embora 67% de sua área tenha uso antrópico (ou seja, pelo ser humano), a perda de vegetação nativa entre 1985 e 2023 foi de 3,7 milhões de hectares, ou 10% do total. Nos últimos 39 anos, apenas três estados tiveram aumento na área de vegetação nativa: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.
Nos dois anos do intervalo do estudo, Santa Catarina, seguida pelo Rio Grande do Sul, são os Estados com maior percentual de manutenção das áreas naturais de Mata Atlântica nos municípios cobertos pelo bioma. A cobertura era, respectivamente, de 53% e 52% em 1985, e de 45% e 42% em 2023. Em terceiro lugar aparece a Bahia, com 46% e 38% de áreas naturais no mesmo período.
Em relação ao desmatamento no bioma em 2023, um destaque importante é a redução de 49% da área desmatada quando comparado ao que foi desmatado no ano 2000. Essa perda acontece principalmente em áreas de formação florestal e mais da metade ocorreu em áreas de vegetação secundária, que são áreas que já foram desmatadas anteriormente e estavam em processo de regeneração.
Nas áreas naturais, a floresta foi o tipo de cobertura com maior queda entre 1985 e 2023: 2,7 milhões de hectares a menos. Essa classe, que inclui áreas de formação florestal, formação savânica, mangue e restinga arbórea, passou de 33,92 milhões de hectares para 31,06 em 2023.
"A Mata Atlântica convive simultaneamente com o desmatamento e a regeneração, mas em regiões que não coincidem. Ainda perdemos matas nas regiões onde ainda há uma proporção relevante de remanescentes e ganhando onde a devastação ocorreu décadas atrás e sobrou muito pouco. O desmatamento zero e a restauração em grande escala vão garantir o futuro do bioma, contribuir para enfrentar as crises globais do clima e da biodiversidade, garantir serviços ecossistêmicos e evitar tragédias localmente", afirma Luis Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica.
O bioma concentra 51,5% de toda a área urbanizada no Brasil, com um aumento de 2,5 vezes da área ocupada em 1985, cerca de 1,3 milhões de hectares a mais. Os estados com maior expansão em área foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais, com 707 mil hectares, 294 mil hectares e 227 mil hectares de áreas urbanizadas em 2023, respectivamente.
Entre 1985 e 2023, a área agrícola na Mata Atlântica teve um salto de 91%, passando de 10,6 milhões de hectares para 20,2 milhões de hectares - um ganho de 9,5 milhões de hectares. De toda a área de agricultura no Brasil, um terço (33%) encontra-se na Mata Atlântica. Os estados com maior aumento proporcional de agricultura nos últimos 39 anos foram Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e São Paulo. No Rio Grande do Sul, o uso agrícola da área do bioma passou de 26% para 37% no mesmo período.
Enquanto a agricultura foi a classe de uso do solo pelo ser humano que mais cresceu no bioma desde 1985, a pastagem foi a que mais perdeu, principalmente pela conversão para cultivos agrícolas. Apesar disso, em 2023, a pastagem ainda representa o principal uso antrópico do território, ocupando 26,23% de toda a área do bioma, ou 29,02 milhões de hectares.
As áreas de agropecuária, incluindo pastagem, mosaico de usos, agricultura e silvicultura, passaram de 69,81 milhões de hectares em 1985 para 71,99 milhões de hectares em 2023. Nesse último ano, 28% dos municípios da Mata Atlântica têm a agricultura como uso predominante.
A soja e a cana-de-açúcar somam 87% da área de lavoura temporária do bioma. Em 39 anos, o cultivo da cana-de-açúcar cresceu 225%, um ganho de 4,2 milhões de hectares. De toda a área de cana-de-açúcar do país em 2023, 66% ocorrem na Mata Atlântica e têm no estado de São Paulo seu maior destaque, com 71% de todo cultivo no bioma.
A soja apresentou aumento de 4,5 vezes na área cultivada, passando de 2,4 milhões de hectares em 1985 para 10,6 milhões de hectares em 2023. Paraná e Rio Grande do Sul concentram 76% dessa cultura na Mata Atlântica. As lavouras temporárias incluem, também, arroz, algodão e outros cultivos.
Já a silvicultura teve sua área quadruplicada em 39 anos, passando de 900,39 mil hectares em 1985 para 4,51 milhões em 2023. Isso equivale a 50% da área de florestas plantadas em todo o país. Santa Catarina, Paraná e Bahia somam mais de 60% da silvicultura da Mata Atlântica.
A Mata Atlântica está distribuída em 17 Estados brasileiros: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
Cerca de 70% da população brasileira vive em áreas de Mata Atlântica.