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Bruna Suptitz

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Publicada em 19 de Novembro de 2024 às 00:20

O compromisso com a circularidade nas construções

Construções flexíveis podem ser adaptadas a novos usos dos espaços

Construções flexíveis podem ser adaptadas a novos usos dos espaços

/Luis Gonzalez/Unsplash/Divulgação/JC
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Em 2012, o então secretário-geral da Organização das Nações Unidas Ban Ki-Moon declarou que "nossa luta pela sustentabilidade global será vencida ou perdida nas cidades". Dez anos depois, a construção de edifícios foi responsável por 37% da energia operacional global e das emissões de CO2 na atmosfera. Os dados constam no Relatório de Status Global para Edificações e Construção, elaborado e lançado no início deste ano pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Aliança Global para Edifícios e Construção (GlobalABC).
Em 2012, o então secretário-geral da Organização das Nações Unidas Ban Ki-Moon declarou que "nossa luta pela sustentabilidade global será vencida ou perdida nas cidades". Dez anos depois, a construção de edifícios foi responsável por 37% da energia operacional global e das emissões de CO2 na atmosfera. Os dados constam no Relatório de Status Global para Edificações e Construção, elaborado e lançado no início deste ano pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Aliança Global para Edifícios e Construção (GlobalABC).
Não é possível, diante deste cenário, não trazer para o debate climático a responsabilidade do setor. E, frente à crise climática que já se impõe, a exemplo das enchentes que em maio atingiram o Rio Grande do Sul, é preciso fazer mais que somente frear as emissões: é preciso criar um futuro realmente sustentável.
Dados como este e um aprofundamento do tema foram tratados pela arquiteta e urbanista Joana Giugliani, sócia fundadora da Bgreen Consultoria Estratégica em Sustentabilidade, em uma das palestras técnicas que integram a agenda online do evento Greenbuilding Brasil 2024 Inovar Sinduscon-RS, realizado no início do mês.
"Precisamos buscar formas de reverter os danos e não somente limitar os impactos. E uma das formas de se fazer isso é justamente através da circularidade, que provoca uma redução dramática nas emissões de modo geral, também na extração de recursos e na geração de resíduos", defendeu.
E essa circularidade também pode ser praticada na construção de novos edifícios, com foco nos materiais utilizados. Para Joana, "é sobre saber de onde esses materiais vêm, como se comportam ao longo do tempo e o que nós podemos fazer com eles depois". Dessa maneira, a construção pode "priorizar o uso de materiais que possam ser facilmente desmontados depois", além de "projetar para que os espaços sejam flexíveis e adaptáveis ao longo do tempo, possibilitando uma transformação para outros usos além daqueles previstos inicialmente". Ou seja, "planejar o futuro daquele edifício desde a sua concepção".
 

Banco de materiais e retrofit

Joana Giugliani aponta que a principal razão para a demolição precoce de edifícios é a obsolescência. "Isso é um grande desafio. Já passou da hora de projetar edifícios que tenham uma vida útil prolongada e que possam ser reinventados além da sua função original". Um caminho é entender uma construção como "um verdadeiro estoque de recursos". Ou "minas urbanas".
"Ao projetar e construir com componentes que possam ser desmontados e reaproveitados, nós prolongamos o ciclo de vida dos materiais e, ao mesmo tempo, reduzimos a extração de novos recursos (da natureza). Isso se alinha diretamente com os princípios da economia circular", sustenta a arquiteta. Ela acredita que "essa mudança de visão também resulta em uma drástica redução da geração de resíduos", fazendo com que, "ao final do ciclo de vida de um edifício, esses materiais não são simplesmente descartados, mas sim direcionados para novos usos".
Novos usos, inclusive, estão na essência do conceito de retrofit, como expresso na famosa fala do arquiteto norte-americano Carl Elefante: "O edifício mais verde… é aquele que já está construído". Para Joana, retrofit é modelo de circularidade: "em vez de descartar um edifício e construir do zero, ele permite renovar e adaptar as estruturas existentes, prolongando sua vida útil e reduzindo significativamente o consumo de recursos naturais".

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