O termo não é novo, mas ganhou espaço na mídia e nas redes recentemente. Foi com as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio que o conceito de "cidade esponja" se popularizou. Em alguns momentos, junto à disseminação veio a ideia de ser a prática que solucionaria o problema dos alagamentos nas cidades. Será? Embora não seja a receita mágica para evitar novas cheias no futuro, será e até mesmo já é, em muitos lugares, um alívio para o sistema de drenagem urbana, responsável pelo escoamento da água da chuva.
"Cidades esponjas: implementando a resiliência nas comunidades" foi o tema de uma das palestras técnicas que integraram a agenda online do evento Greenbuilding Brasil 2024 Inovar Sinduscon-RS, realizado no início do mês. As engenheiras civis Rafaella Tecchio Klaus e Carolina Avila Braga ministraram a atividade.
Em época de seca, o excesso de concreto nas áreas urbanas contribui para aumentar a temperatura do entorno, formando assim as "ilhas de calor". Em época de chuva, prejudicam o escoamento da água, que se acumula sob o asfalto. Com o aquecimento global, fenômenos extremos são mais frequentes. Por isso é "importante construir cidades resilientes às mudanças climáticas", destaca Rafaella.
É então que o conceito de cidade esponja entra no debate. "Centros urbanos cinza, com muito concreto e asfalto e poucas áreas verdes, não conseguem absorver a água das chuvas que ocorrem com tanta intensidade", aponta Carolina. Já a proposta das cidades esponjas é valorizar áreas com vegetação e estruturas também conhecidas como "solução baseadas na natureza". Rafaella explica são espaços projetados "para reter e absorver a água da chuva no local onde ela cai, utilizando sistemas de drenagem urbana sustentáveis integrados à sua infraestrutura verde".
Quem viu na TV ou na internet os exemplos da China, vai imaginar que a adoção deste conceito demanda grandes planos e a construção de infraestrutura de grande porte. Pode até ser feito assim, mas em muitos casos a adaptação das pré-existências já dão conta: canteiros verdes entre avenidas, caimento do meio fio direcionado a uma pequena bacia de retenção, calçamento permeável, todas medidas viáveis de serem implantadas.
"No momento que evita que a água do centro da cidade entre na canalização, por exemplo, vai diminuir a sobrecarga do rio no momento de tempestade e chuvas rigorosas", sustenta Carolina. São práticas que seguem válidas no cenário climático oposto, quando a chuva é escassa. Segundo Rafaella, "cidades esponja aumentam a área verde da cidade, o que proporciona uma melhor qualidade do ar, e isso impacta na vida das pessoas, além de reduzir as ilhas de calor".
Aquecimento global é o aumento da temperatura média do planeta em relação ao período pré-industrial (por volta de 1850). Os principais causadores do aquecimento são gases poluentes emitidos a partir de atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis pela indústria, nos transportes e de outras formas.
A temperatura média do planeta mais alta impacta o clima. Ondas de calor extremo, secas severas e inundações devastadoras passam a ocorrer com mais frequência e maior intensidade. Fenômenos assim, que tomaram conta do mundo nos anos recentes, são consequência disso.
Para conviver com essas condições, é necessário que as cidades e as suas estruturas se adaptem às potenciais consequências deste clima aquecido.