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Bruna Suptitz

Bruna Suptitz

Publicada em 01 de Novembro de 2024 às 17:33

Estudo aponta concentração de poluentes no Centro Histórico de Porto Alegre

Representação da qualidade do ar no Centro Histórico de Porto Alegre aponta recirculação do fluxo em direção à praça da Alfândega

Representação da qualidade do ar no Centro Histórico de Porto Alegre aponta recirculação do fluxo em direção à praça da Alfândega

Reprodução/Atitus/Divulgação/JC
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Quando a fumaça das queimadas florestais nas regiões Norte e Centro-Oeste do País chegaram a Porto Alegre, no fim do inverno deste ano, pautou o debate público, e a população passou a cobrar das autoridades informações sobre a qualidade do ar que se respira na Capital. A resposta surpreendeu a muitos: a medição e o monitoramento da qualidade do ar não são feitos na cidade pelo menos desde 2015.
Quando a fumaça das queimadas florestais nas regiões Norte e Centro-Oeste do País chegaram a Porto Alegre, no fim do inverno deste ano, pautou o debate público, e a população passou a cobrar das autoridades informações sobre a qualidade do ar que se respira na Capital. A resposta surpreendeu a muitos: a medição e o monitoramento da qualidade do ar não são feitos na cidade pelo menos desde 2015.
Nestes dez anos, outras análises do ar, pontuais, foram realizadas pela iniciativa privada, por acadêmicos e até mesmo pelo próprio poder público. Um destes trabalhos é da pesquisadora Marluse Guedes Bortoluzzi, mestranda em Arquitetura e Urbanismo da Atitus, que recentemente compartilhou o resultado da sua pesquisa. Através de quantitativos de aerossóis presentes na atmosfera e simulações computacionais, ela analisou a qualidade do ar do Centro Histórico de Porto Alegre.
Para o estudo, Marluse usou imagens de satélites disponibilizadas pela Agência Espacial Europeia (ESA), referente aos anos de 2019, 2020 e 2021. Para o tratamento das imagens e a coleta de informações foi utilizado um software de Sistema de Informações Geográficas. O resultado aponta que a preocupação não deve se restringir a fatores externos, como a fumaça das queimadas que chegou até a cidade em setembro.
A pesquisa identificou o trecho entre a Praça da Alfândega e a Praça Brigadeiro Sampaio como ponto de maior concentração de contaminantes do ar na área pesquisada. As amostras examinadas apresentaram elementos tóxicos em nanopartículas e partículas ultrafinas, entre eles: Arsênio (As), Cádmio (Cd), Chumbo (Pb), Cromo (Cr), Mercúrio (Hg) e Níquel (Ni). Os dados são da pesquisa, divulgada pela assessoria de comunicação da Atitus.
Os principais poluentes identificados no estudo são oriundos do tráfego de veículos motorizados, bem como da proximidade de ferrovias e indústrias. O resultado dialoga com o Inventário dos Gases de Efeito Estufa de Porto Alegre, elaborado em 2021 pela administração municipal, que tem como base o ano de 2019. O documento aponta o setor de transporte como responsável por 67,7% das emissões na Capital, seguido de 23% de fontes estacionárias (edificações, podendo ser fábricas, por exemplo), 8,8% do sistema de gestão de resíduos e 0,5% ligado ao manejo do solo.
Além dos dados já citados, Marluse analisou também a ventilação urbana em todo o Centro Histórico. Foi realizada uma simulação computacional de fluidodinâmica no software Vento AEC, resultando em um modelo com aproximadamente 2.993 edificações e uma área total de 22,46 km². “Através de simulações de fluxo de vento, foi possível observar a formação das áreas em que ocorre a estagnação e recirculação de ar, causando um agravamento na concentração de poluentes dispersos na atmosfera”, destaca Marluse.
Conforme a mestranda, o estudo mostra que o impacto da morfologia urbana no comportamento da ventilação é de grande importância para o conforto e para a saúde. “Isso mostra a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa para identificar as fontes de poluição, além de subsidiar novas obras públicas”, aponta. O estudo também apontou a redução da concentração de poluição atmosférica na área durante a pandemia de Covid-19, o que se deve à diminuição de atividades industriais e da circulação de veículos, consequentemente, reduções drásticas na libertação de aerossóis para a atmosfera.

Medição em Porto Alegre

A volta da medição e do monitoramento permanente do ar em Porto Alegre está prevista para o início de 2025, informa a prefeitura, quando passarão a operar seis estações, sendo uma móvel, de referência, e cinco instaladas em bairros com maior risco de sofrerem ondas de calor, locais com grande fluxo de veículos, áreas com adensamento expressivo e entradas e saídas da cidade.
Serão monitorados os seguintes poluentes: Dióxido de Carbono (CO2); Dióxido de Enxofre (SO2); Dióxido de Nitrogênio (NO2); Monóxido de Carbono (CO); Ozônio (O3); e material particulado com diâmetro até 2,5µm (PM2,5) e maior que 2,5 µm e menor que 10µm (PM10). Além dos gases, os equipamentos também irão monitorar temperatura, pressão atmosférica, precipitação pluviométrica, umidade relativa, velocidade e direção do vento e radiação total.

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