Do lixo recolhido pela prefeitura de Porto Alegre, apenas 3,2% vai para a reciclagem. O dado corresponde a 2021, divulgado em 2023 no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.
Este percentual não representa o todo da cidade, pois muito do material descartado acaba não entrando na conta dos resíduos sólidos urbanos (RSU), mas dá uma dimensão do quanto ainda é preciso avançar na gestão e no aproveitamento dos resíduos gerados. Olhando o outro lado da conta, 96,8% do que foi recolhido pela prefeitura em 2021 não teve qualquer aproveitamento e foi descartado no aterro sanitário.
Dos 3,2% reciclados, 2,1% são os secos. Na coleta seletiva, o lixo seco é recolhido nas ruas pelos garis da Cootravipa e entregue às cooperativas de catadores contratadas pelo poder público - atualmente são 17. Nestes locais, ocorre a separação por tipo de material (papelão, vidro, metal, diferentes classificações de plástico, entre outros). O que for rejeito (o lixo de banheiro, por exemplo) é descartado e o que tiver aproveitamento será comercializado para as indústrias que fazem a transformação.
O 1,1% restante corresponde a podas de árvores feitas pela prefeitura, e a reciclagem se dá por meio da compostagem, que é a transformação da matéria orgânica em adubo.
A coluna apresenta a seguir o que consta nas propostas de governo de Maria do Rosário (PT) e de Sebastião Melo (MDB) para a gestão de resíduos sólidos em Porto Alegre.
A proposta de governo de Maria do Rosário trata da gestão de resíduos sólidos em três eixos, sendo um específico sobre "políticas para catadores e reciclagem de resíduos". No fim do ano passado, a candidata recebeu uma carta da categoria com reivindicações, que foram incorporadas ao seu plano, a exemplo da remuneração para os profissionais que atuam nas cooperativas contratadas pela prefeitura.
No documento enviado à Justiça eleitoral, a chapa Maria do Rosário e Tamyres Filgueira sustenta que o atual sistema de gestão do lixo é "muito caro, está na contramão da Política Nacional de Resíduos e das urgentes medidas de sustentabilidade ambiental que nosso tempo exige".
A petista promete a criação de um programa de apoio para melhorias nas cooperativas classificadas como unidades de triagem pelo poder público, além de apoio aos catadores informais, "com capacitação e integração ao sistema de reciclagem". No eixo sobre qualidade socioambiental, aponta que catadores e a administração promoverão campanhas de educação ambiental "muito além do ambiente escolar e envolvendo a população e empresas".
No eixo dos catadores e em outro, sobre limpeza urbana, consta que será adotado um "novo modelo de coletores de resíduos separados nas ruas" - um contêiner para resíduos orgânicos e outro para coleta seletiva. Com o material orgânico, a candidata propõe criar usinas de compostagem para a geração de energia com biogás. A ideia é criar também uma usina para a reciclagem dos resíduos da construção civil.
A ideia de conceder para a iniciativa privada a gestão integral dos contratos relacionados a resíduos sólidos em Porto Alegre, que vem sendo desenhada desde 2021, aparece na proposta de governo de Sebastião Melo (MDB). A tendência é que seja levada adiante caso ele seja reeleito. Não há, no documento enviado à Justiça Eleitoral, uma seção dedicada ao tema resíduos sólidos.
Sobre a concessão, consta no documento, no eixo parcerias, a intenção de "concretizar a parceria público-privada para concentrar os 70 contratos envolvidos na coleta de lixo e na destinação de resíduos", mas sem detalhar como será. De fora ficariam os serviços de varrição, roçada e capina de vias, praças e parques, hoje realizados pela Cootravipa, mesma cooperativa responsável pela coleta dos recicláveis nas ruas.
Outra proposta é adotar contêineres para o descarte de resíduos recicláveis, junto ao equipamento existente, destinado a receber orgânicos e rejeitos. A contratação já está em andamento na atual gestão. A intenção é incentivar a separação dos resíduos - é muito comum encontrar resíduos recicláveis no contêiner do rejeito, mesmo não sendo esta a finalidade.
Conforme o documento, a chapa Sebastião Melo e Betina Worm se compromete em "expandir o combate de focos de lixo crônicos na Capital", que são os depósitos irregulares de resíduos, geralmente em terrenos baldios, e em "implantar novas unidades de Destino Certo", que são lugares para onde podem ser encaminhados resíduos diretamente pela população, especialmente os especiais ou de grande volume.
Os contêineres cinza para o descarte de orgânicos e rejeito estão nas ruas de Porto Alegre desde
julho de 2011. Atualmente, 18 bairros são atendidos.
Em
novembro de 2018,
contêineres de cor verde foram colocados no Centro destinados a receber somente resíduos recicláveis – o lixo seco. Mas já não estão mais: foram retirado das ruas
três anos e três meses depois. A prefeitura alegou que o uso foi inadequado, (o que também acontece com os cinza).
Tanto Maria do Rosário quanto Sebastião Melo propõem a retomada deste modelo de separação.
Cascas e sobras de alimentos, borra de café e erva-mate são exemplos de resíduos orgânicos e que podem ser "reciclados" por meio da compostagem, que é a transformação destes resíduos em adubo.
Outro aproveitamento que pode se dar aos orgânicos é a transformação em biogás, combustível renovável que pode ser usado em fogões e como energia mecânica ou elétrica, por exemplo.
A estimativa é que, em Porto Alegre, resíduos orgânicos representam 39,7% do que vai para o aterro sanitário.