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Bruna Suptitz

Bruna Suptitz

Publicada em 24 de Setembro de 2024 às 21:21

Arquiteta Érica Dall’Asta destaca importância da relação de espaços construídos com o meio ambiente

Pesquisadora e arquiteta Érica Dall'Asta defende 'mesclar' a natureza com o espaço construído

Pesquisadora e arquiteta Érica Dall'Asta defende 'mesclar' a natureza com o espaço construído

INSTITUTO LING/DIVULGAÇÃO
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Integrar áreas verdes ao espaço urbano, projetar edifícios com maior eficiência energética e adaptar as cidades para conviver agora e no futuro com as mudanças do clima – estes são alguns dos pontos destacados pela pesquisadora e arquiteta Érica Dall’Asta sobre a relação que a arquitetura e o urbanismo devem estabelecer com a natureza frente aos desafios ambientais e climáticos que já estamos vivenciando. "A busca por soluções de projeto e construção que trabalhem a favor do planeta é a atual missão da arquitetura e do urbanismo", destaca a profissional em entrevista concedida (por escrito) à coluna.
Integrar áreas verdes ao espaço urbano, projetar edifícios com maior eficiência energética e adaptar as cidades para conviver agora e no futuro com as mudanças do clima – estes são alguns dos pontos destacados pela pesquisadora e arquiteta Érica Dall’Asta sobre a relação que a arquitetura e o urbanismo devem estabelecer com a natureza frente aos desafios ambientais e climáticos que já estamos vivenciando. "A busca por soluções de projeto e construção que trabalhem a favor do planeta é a atual missão da arquitetura e do urbanismo", destaca a profissional em entrevista concedida (por escrito) à coluna.
Érica Dall’Asta ministra nesta quarta-feira, 25 de setembro, às 19h, o curso "Arquitetura e Mudanças Climáticas: caminhos para um futuro sustentável". A atividade integra o projeto "Arquitetura: modos de pensar", realizado pelo Instituto Ling em parceria com a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura do Rio Grande do Sul (Asbea-RS), voltada ao público em geral e a todos os interessados no assunto. A atividade será às 19h no centro cultural, na Rua João Caetano, 440, no bairro Três Figueiras.
O projeto contará com outras atividades, sendo duas aulas online: uma com o arquiteto Eduardo Souza, editor da plataforma Archdaily, apresentando materiais resilientes e sustentáveis em experiências internacionais, no dia 2 de outubro; e outra com a arquiteta e pesquisadora Luiza Muñoz mostrando a adaptação de cidades e edifícios às mudanças climáticas, no dia 10 de outubro. O encerramento será com a palestra presencial, no dia 16, com o engenheiro Mauro Touguinha de Oliveira abordando a construção sustentável na prática.
A aula de abertura foi ministrada no início de setembro com o antropólogo colombiano Santiago Uribe Rocha. Na ocasião ele revelou que Porto Alegre foi uma das inspirações para a transformação urbana e social em Medellín:  "todos nós que estudávamos Ciências Sociais sonhávamos um dia vir a Porto Alegre".
Jornal do Comércio - Qual o papel da arquitetura frente a crise do clima que estamos vivenciando?
Érica Dall’Asta - As edificações consomem muita energia tanto na fase de uso, quanto na fase de construção. Para serem construídas, muitos materiais são demandados e muitos resíduos são gerados. Por isso, buscar uma maior eficiência energética em todo o ciclo de vida das edificações pode contribuir com a redução da emissão de gases do efeito estufa que favorecem as mudanças climáticas.
Também temos de considerar que, para a existência do ambiente construído, o ambiente natural foi modificado. O sol, a chuva, o vento e o solo são fundamentais para a nossa existência, mas a intensidade desses elementos da natureza pode ser igualmente nociva. Por isso, considerar a relação da humanidade com o planeta é tema chave para todas as áreas. Na arquitetura e no urbanismo essa relação se intensifica, pois as cidades e as edificações ocupam o ambiente natural, ou seja, nós consumimos espaços e recursos naturais para construir edifícios e cidades.
A busca por soluções de projeto e construção que trabalhem a favor do planeta é a atual missão da arquitetura e do urbanismo. Essas soluções permeiam: o desenho urbano adaptado ao sítio, ao clima e à cultura; o desenho das edificações para aproveitar ao máximo os recursos naturais disponíveis (como sol, vento, luz e sombra); a pesquisa, desenvolvimento e escolha de materiais que impactem menos o meio ambiente (sem componentes tóxicos, que sejam reutilizáveis ou recicláveis); a adoção de hábitos mais saudáveis para utilizarmos as edificações de maneira mais eficiente (buscar se adequar ao clima através da edificação e ligar menos aparelhos para estar em conforto nos ambientes).
Dada a nova realidade climática, teremos de buscar soluções de projeto que se espelham nos sistemas naturais para replicarmos os milhares de anos da evolução no ambiente que está sendo construído por nós, apenas nos últimos séculos.
JC - Podemos pensar em adaptação ou o caminho será reformular as cidades e os espaços construídos?
Érica - Adaptação. Mesmo que tenhamos cometido falhas na produção das edificações e cidades, temos muitas lições aprendidas que devem ser consideradas para a elaboração de cenários urbanos futuros.
Temos tecnologia e conhecimento acumulado desde a revolução industrial, que foi quando passamos a viver predominantemente nas cidades, o que precisamos agora é compreender melhor como os sistemas naturais funcionam e combinar esse aprendizado com a tecnologia disponível. Nessa perspectiva, certamente vamos buscar novas soluções que preferencialmente utilizem a infraestrutura já construída (que inclusive já consumiu muitos recursos) ao mesmo tempo em que trazem um desempenho mais eficiente frente aos desafios climáticos. No caso de Porto Alegre e muitas outras cidades gaúchas, da relação com a água.
Para isso, precisamos pensar em como queremos as nossas cidades no futuro, um plano de longo prazo (25, 50 anos), pensado por todos os atores e gestores e com muito engajamento comunitário. Sem essa visão clara de futuro não temos como agir de forma eficiente agora no presente. A participação de todos é fundamental para criar um senso de pertencimento e responsabilidade compartilhada.
JC - Como conciliar área construía - já existente ou que está por vir - ao convívio com a natureza?
Érica - Mesclando a natureza com o espaço construído. Temos de ter uma melhor relação com a natureza: esses espaços não são apenas locais de visita aos finais de semana, eles devem fazer parte da cidade, das atividades urbanas, pois são parte de nós, seres humanos, que evoluímos enquanto espécie vivendo na natureza.
Por exemplo: Singapura tem uma meta de ter um parque a no máximo 10 minutos a pé de todos os seus residentes. Esses espaços naturais funcionam como corredores de diversidade que vão auxiliar na preservação da flora e fauna locais, além de serem áreas que podem trabalhar funcionando como atenuadores do imperativo climático que já é a nossa realidade: como parques alagáveis, bacias de retenção, valas de infiltração, jardins de chuva, por exemplo. Também há melhora na qualidade do ar e nas ilhas de calor que se formam nas áreas menos verdes das cidades, sem falar do sombreamento nos períodos quentes. Outro benefício é para a saúde mental e física dos cidadãos, pois estar na presença do verde estimula a sensação de bem-estar, além de incentivar a prática de caminhadas e outras atividades sociais.
O caminho é entender que a infraestrutura verde é parte da infraestrutura da cidade assim como são as ruas, as redes de água, energia, saneamento e afins.

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