Para os pesquisadores dos
Países Baixos que estiveram em Porto Alegre
em junho deste ano analisando o sistema de proteção contra cheias da cidade, foi "relativamente simples" o que aconteceu em maio: "o desenho do sistema foi feito para um certo nível de água, e o evento que aconteceu foi maior". A conclusão foi apresentada em coletiva de imprensa na tarde de segunda-feira, dia 19, por Ben Lamoree, conselheiro institucional da Agência Empresarial dos Países Baixos e chefe da equipe da missão em Porto Alegre. Junto a ele estava Maurício Loss, diretor-geral do Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae), na sede do órgão público.
Mais de 20% do território da Capital sofreu com inundações ou alagamentos na maior enchente já vivenciada no Rio Grande do Sul. Em alguns pontos, a água ficou acumulada por mais de um mês.
A água atingiu 5,35 metros no Centro, tendo como parâmetro para inundação a cota de 3 metros. O sistema deveria comportar cheias de até 6 metros. No entanto, o levantamento dos holandeses indica que há lugares onde o dique não alcança a altura projetada. "Nenhuma das gestões (da prefeitura) viu, não foram lá fazer topografia. Nós também não nos ativemos a isso", reconheceu Loss.
Como recomendação, os pesquisadores estrangeiros sugerem, a curto prazo, aprimorar sistemas de monitoramento dos fenômenos climáticos e de alerta à população. A médio e longo prazo, aumentar a proteção e adotar medidas para reduzir o nível de inundação, como a criação de áreas de escape para que a água possa se espalhar sem atingir a área urbanizada. A prefeitura informa que já trabalha em reparos nos pontos em que a manutenção foi falha: estrutura dos diques, vedação das comportas e funcionamento das casas de bomba. Lamoree, no entanto, pondera que "estes são problemas reais e importantes, mas nada poderia ter impedido o resultado que houve, a cheia foi realmente demais".
Anunciado na coletiva de imprensa, o relatório elaborado pela missão holandesa cita que a Capital "foi impactada pelas piores enchentes de que se tem registro em maio de 2024". O documento não foi disponibilizado oficialmente, o que só deve acontecer após análise pelo Dmae, mas já circula um rascunho com a análise do cenário e recomendações a serem seguidas pelo poder público. Entre as conclusões, consta que "o município de Porto Alegre tornou-se a entidade institucional legal para gerir o sistema de proteção contra inundações dentro de sua jurisdição", isso após a extinção do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), órgão que atuou na construção do sistema. É citada a transferência de responsabilidade dentro da administração, já que a função era exercida pelo Departamento de Esgoto Pluvial (DEP), o qual foi extinto e teve suas funções incorporadas pelo Dmae.
"A Agência Empresarial dos Países Baixos fornece especialistas relacionados à água por meio de seu programa de Suporte de Redução de Risco de Desastres (DRRS, na sigla original)". Informa a página do órgão governamental holandês em seu site. O trabalho "visa prevenir e reduzir o impacto de desastres relacionados à água e ao clima em todo o mundo e aumentar a resiliência das áreas e populações afetadas". Trata-se de uma iniciativa do governo daquele país e não há custo para as comunidades atendidas, caso de Porto Alegre.
De terça a quinta-feira desta semana, estão reunidos na Capital representantes da prefeitura, do governo do Estado, de agências nacionais, pesquisadores brasileiros e holandeses. Chamada de "Intercâmbio de conhecimento Brasil - Países Baixos: Repensando o sistema de gerenciamento de enchentes da região metropolitana de Porto Alegre", a atividade tem como um dos seus propósitos "sensibilizar tanto o Estado quanto o governo federal que o sistema de proteção contra a cheia não se resume a Porto Alegre", sustenta o diretor-geral do Dmae Maurício Loss. Uma das ideias é recuperar projetos da Metroplan que tratam de questões hídricas da região.