Ainda com água dentro dos galpões, as cooperativas de catadores de Porto Alegre que foram alagadas com a cheia do Guaíba não têm perspectiva de quando será a retomada do trabalho, nem de como isso será possível. Passado praticamente um mês do dia em que as águas começaram a subir na cidade, a condição posta pela prefeitura é de seguir na espera, pois os esforços da Secretaria de Desenvolvimento Social, que presta apoio à categoria, seguem concentrados no acolhimento e atendimento às pessoas desabrigadas e desalojadas.
Para não deixar as cooperativas desassistidas - dez foram tomadas pelas águas, e dessas seis são contratadas pelo município - o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) vai manter o pagamento integral do contrato durante o período que vigorar o decreto de calamidade pública na Capital, mesmo sem a prestação do serviço, que está totalmente prejudicado. Está mantida a exigência de emissão das notas fiscais.
Diretor-geral do órgão, Carlos Alberto Hundertmarker confirma que recebeu a demanda da categoria - um ofício assinado pelo Fórum de Catadores, pelo Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis e pela Frente Parlamentar de Catadores da Assembleia Legislativa foi enviado no dia 16. "Além da nossa solidariedade, já iríamos flexibilizar a remessa de pagamento pela relação com as cooperativas", afirma o gestor. Está em andamento o repasse referente ao mês de abril, que deve ser concluído até sexta-feira.
Mas, além do pagamento, será necessário apoio na recuperação estrutural dos galpões. O trabalho foi interrompido nos primeiros dias de maio e "não tem ainda como voltar", relata Josué da Roza Moreira, presidente da Cooperativa Mãos Unidas, que fica no bairro Sarandi, um dos mais afetados pela chuva e pela cheia. "Na quinta (dia 23) foi feita limpeza no refeitório, mas a água voltou a subir", conta.
Lá e nas demais cooperativas atingidas, todo o resíduo no interior da cooperativa foi contaminado pela água e pela lama e não pode mais ser aproveitado. Ainda não há uma perspectiva de quando os resíduos inutilizados serão removidos para dar condições de limpeza e espaço para a chegada de material para a triagem. No modelo de contrato vigente em Porto Alegre, a remuneração dos cooperados está atrelada à venda dos recicláveis. Sem ter como trabalhar, não há remuneração garantida, e o recurso que receberão este mês será do auxílio emergencial pago pela prefeitura desde o início do ano.
Mesmo as cooperativas que não foram diretamente atingidas sentem o impacto da cheia, pois estão recebendo resíduos que não são próprios para a reciclagem - os descartes da enchente não devem ser encaminhados para a coleta seletiva. É o caso do Centro de Triagem da Vila Pinto, no bairro Bom Jesus. O volume de rejeito da enchente chegando ao galpão foi suficiente para formar poças de água, relata a presidente Ana Paula Medeiros.
Até o momento, a prefeitura não elaborou uma proposta de atendimento voltado especificamente para a categoria. A Secretaria de Desenvolvimento Social informou à Coluna que a prioridade é o acolhimento às pessoas desabrigadas e desalojadas, e que não terá programa para atividades específicas "até que seja possível fazer uma análise dos reais danos causados pelas enchentes". Ainda assim, quando considerar possível fazer vistoria e análise das unidades de triagem, garante que "o trabalho será intenso para sanar as dificuldades e as perdas nesse setor".