A situação que já era ruim ficou pior. A definição é repetida por catadoras e catadores e por representantes dos grupos de apoio em resposta ao questionamento de como
as enchentes que assolam o Rio Grande do Sul os afetam. A água que arrasou cidades inteiras encontrou no caminho grupos que vulneráveis, caso dos profissionais que diariamente fazem a triagem dos resíduos recicláveis. Muitos foram atingidos nas suas casas, na comunidade,no local de trabalho.
Em Porto Alegre, ao menos sete das cooperativas contratadas pela prefeitura e outras três que recebem material da coleta seletiva mesmo sem ter o contrato assinado, foram completamente alagadas no início de maio e desde então estão com água dentro do galpão. O material que lá estava e que seria encaminhado para a reciclagem virou lixo e não poderá mais ser aproveitado.
São elas, conforme levantamento do Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis e da coluna: Amac, Anitas, Anjos da Ecologia, Arevipa, Coadesc, Irmãos Cecchin, Mãos Unidas, Paraíba, Reciclando pela Vida e Sepé Tiaraju. A primeira da lista fica na Ilha Grande dos Marinheiros e a Mãos Unidas na Zona Norte, perto do terreno do antigo aterro. Todas as demais são da região do 4º Distrito. Confira os endereços no mapa a seguir.
A Sepé Tiaraju já havia sido atingida no início do ano pelo temporal e estava desde então sem telhado. Além das atingidas diretamente, todas as demais cooperativas que têm contrato ou recebem a coleta seletiva da prefeitura também foram impactadas de alguma maneira. Casos da Santíssima e da Ascat, também destelhadas em janeiro. Várias outras estão sem luz ou sem água, ou ambos. A Coopertinga trabalha sem energia desde o ano passado.
"Pior que muitos nem vão nem ter renda. A situação nivela todas, as alagadas ou atingidas indiretamente", explica Ana Paula Medeiros, uma das coordenadoras do Fórum de Catadores.
Por exemplo, com o sistema de emissão de nota fiscal do governo do Estado fora do ar, as cooperativas não têm como emitir nota, que é necessária para comprovar o encaminhamento do material à reciclagem e assim receber o pagamento das empresas que contratam das cooperativas o serviço de logística reversa.
Há ainda uma estimativa de que ao menos 1,5 mil catadores de rua de Porto Alegre e da Região Metropolitana também tiveram seu trabalho prejudicado, somado à perda do local de moradia ou passagem. Um levantamento detalhado está em andamento.
Demandas urgentes, referentes à estrutura de trabalho, já vinham sendo reivindicadas pelos grupos de catadores junto ao poder público. Agora se somam à necessidade de reconstrução dos galpões e, em muitos casos, das casas dos catadores, que vivem em comunidades próximas e também foram atingidos. Um dos pedidos ao poder público é que adiante o pagamento do auxílio emergencial à categoria e prorrogue o repasse até o fim do ano. Outros pedidos serão encaminhados nos próximos dias.
Além dos catadores de Porto Alegre, boa parte dos que trabalham em cooperativas de outras cidades gaúcha fecharão o mês com baixa ou nenhuma renda, projeta o catador e antropólogo Alex Cardoso. Isso porque a concentração dos compradores de resíduos está na Capital ou cidades da Região Metropolitana, e o bloqueio das rodovias prejudica a circulação dos materiais para outras cidades ou mesmo para fora do Estado.
Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis pede agenda para expor a situação dos catadores impactados pelas enchentes. Um dos pedidos é pelo pagamento de uma renda mínima, e, passada a emergência, converter a medida em pagamento por serviço ambiental aos catadores.
A Associação Nacional de Catadores (Ancat) está mobilizando parceiros nacionais e internacionais na busca por recursos financeiros que auxiliem na retomada de quem foi atingido pela tragédia climática. A campanha "Ajude as catadoras e catadores do Rio Grande do Sul" conta também com a parceria do MNCR e da Unicatadores. O valor arrecadado será distribuído às cooperativas, e destas aos seus associados e a catadores individuais.
Em Porto Alegre, segue no ar a campanha "SOS Cooperativas", organizada pelo coletivo POA Inquieta, que busca ser um canal permanente de apoio. A doação pode ser de produtos, cestas básicas, telhas ou dinheiro. O ponto de referência para a entrega das doações é o Centro de Triagem da Vila Pinto (avenida Joaquim Porto Vilanova, 143, bairro Bom Jesus).
Campanha Ancat
- Para doações internacionais:
Currency DOLAR AMERICANO – USD
Intermediate bank (field 56):
Account with: Jpmorgan Chase Bank
Swift Code: CHASUS33
Beneficiary bank (field 57):
In favor of Itaú Unibanco S.A.
Swift Code: ITAUBRSP
Final beneficiary (field 59):
For further credit to: ASSOC NAC DOS CATADORES E CATADOR DE MAT RECICLAVE
Branch number / Account number: 0251 / 0099510- 6
IBAN: BR6360701190002510000995106C1
Tax ID 03580632000160
Campanha POA Inquieta
Contato: Paula Medeiros – 51985002474
Centro Marli Medeiros
Banrisul. Agência: 0027. C.C.: 06.855515.8-7
- Doações de cestas básicas e outros produtos:
Centro de Triagem da Vila Pinto – Avenida Joaquim Porto Vilanova, 143, bairro Bom Jesus
Esta série de reportagens é realizada com apoio da Bolsa de Produção Jornalística sobre Reciclagem Inclusiva 2023, concedida pela
Fundação Gabo em parceria com a plataforma
Latitud R.
A matéria sobre a reciclagem do plástico, prevista para a edição de ontem, será abordada dentro da série em outra data. Os demais conteúdos estão disponíveis no blog Pensar a cidade.
Hoje - Levantamento das cooperativas alagadas
Próxima, dia 29/05 - Papel do poder público na recuperação dos galpões