Plano Diretor de Porto Alegre vai para a Câmara somente após a eleição municipal

Melo justifica novo adiamento por ação na Justiça que questiona funcionamento do Conselho

Por Bruna Suptitz

Prefeito Sebastião Melo na Conferência de Revisão Plano Diretor da Capital, realizada em novembro na Pucrs
A revisão do Plano Diretor de Porto Alegre não será votada antes da eleição municipal de 2024 e o envio da proposta do Executivo para a Câmara será feito "tão logo terminada a eleição", afirma o prefeito Sebastião Melo (MDB) - ou seja, somente após outubro do próximo ano. A decisão foi tomada no fim da semana passada, informa Melo, que alega não querer "contaminar um debate que é do presente e do futuro da cidade".
Com isso, todo o calendário será revisto. O processo de revisão, que teve início em 2019, já passou por quase todas as etapas previstas pela prefeitura: oficinas regionais e temáticas, seminários, conferência de avaliação e de revisão. Faltava a realização da audiência pública, considerada uma das atividades mais importantes da revisão, que aconteceria em 2023.
Porém, os planos mudaram com a judicialização da revisão. Por trás da determinação do prefeito está a decisão da Justiça, até o momento em caráter liminar, de suspender o funcionamento do Conselho do Plano Diretor enquanto não forem realizadas eleições para o colegiado, o que está em andamento. A decisão é de outubro.
Atendendo ao pedido de uma ação popular, o Judiciário coloca em dúvida a validade das decisões tomadas pelo colegiado desde 2020, quando deveria ter sido realizada a renovação dos conselheiros. À época e em situações posteriores, o mandato foi renovado por medida administrativa, à revelia do regramento existente para gerir o colegiado.
O argumento da prefeitura de que a prorrogação "foi acordada com os próprios integrantes para não comprometer o andamento dos trabalhos" da revisão não convenceu o Judiciário, que negou o pedido de reconsideração e, em decisão do fim de novembro, manteve o entendimento inicial da liminar.
O processo eleitoral para o Conselho do Plano Diretor teve início em novembro. Serão escolhidos novos representantes regionais e de entidades representativas da sociedade civil organizada. As votações serão entre janeiro e fevereiro de 2024. Considerando que isso atenderá a determinação da Justiça, a expectativa é que as atividades do colegiado sejam retomadas na sequência da posse da nova composição do colegiado, prevista para março.
Ainda assim, Melo pondera que o período que se seguirá, com as pré-convenções partidárias e o período eleitoral, não é adequado para o debate da revisão pelo Legislativo. Além disso, a prefeitura ainda teme "ter que refazer alguns atos" referentes à revisão, disse o prefeito à coluna. Quanto a isso ainda não há determinação por parte do Poder Judiciário.
O Plano atual de Porto Alegre é de 1999 e a primeira revisão, aprovada em 2009, foi sancionada em 2010. Assim, a atualização da lei deveria ter sido concluída em 2020, mas a demora da gestão passada em iniciar o processo atrasou o trâmite, também prejudicado pela pandemia.
 

15 anos

O Estatuto da Cidade, que regulamenta a política urbana prevista na Constituição Federal de 1988, prevê que “a lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos”. No entanto, pelo menos 15 anos terão se passado entre a revisão anterior do Plano Diretor de Porto Alegre, votada pela Câmara em 2009, e a previsão que se tem do envio do projeto para o Legislativo, no fim de 2024. Sebastião Melo, hoje prefeito da Capital gaúcha, era o presidente da Câmara Municipal em 2009.

Legislativo

Caso o Executivo cumpra com a promessa de enviar o projeto de revisão do Plano Diretor para
a Câmara “tão logo terminada a eleição”, a tarefa de conduzir o processo será do vereador Mauro Pinheiro (PL), que presidirá o Legislativo da Capital no ano de 2024. Esta será a sua segunda passagem pelo cargo, sendo a primeira em 2015, quando era filiado ao PT. Pinheiro compõe a base de apoio ao prefeito Sebastião Melo.

Dmae

Outro tema caro à atual gestão municipal, a concessão do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) para a iniciativa privada também ficará para o ano que vem. O prefeito Sebastião Melo chegou a anunciar, no início do ano, que o trâmite aconteceria ainda em 2023. No entanto, o governo decidiu postergar o andamento e vai esperar que um novo estudo do BNDES aponte o caminho a ser seguido. Após, o tema seguirá para o Legislativo - onde Melo sabe que, apesar de ter uma grande base de apoio, enfrentará resistência.