Todos os anos entre 2015 e 2021 alcançaram a marca de serem os mais quentes já registrados na história do planeta. E, pelo que os estudos indicam até o momento, 2022 também chegará a esta marca: a estimativa é que fique, na média, 1,15 ºC acima dos níveis pré-industriais.
Desde os anos 1980, cada década tem sido mais quente que a anterior, o que deve continuar, informa a ONU. A década mais recente, entre 2013 e 2022, deve fechar com 1,14 ºC acima da média registrada antes da era industrial. Ou seja, muito cedo para chegar tão perto da meta de manter o aquecimento em no máximo 1,5 ºC até o fim do século.
Os dados fazem parte de estudos de especialistas ao redor do mundo, que foram revisados e compõem o mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU que trata das questões climáticas.
Divulgada na abertura da
COP27, que acontece até o dia 18 deste mês no Egito, a notícia veio acompanhada de um novo alerta: a velocidade e a intensidade do aumento da temperatura, e das consequentes alterações climáticas que isso provoca, têm potencial para “devastar vidas em todos os continentes”, disse em seu discurso o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Mas, para quem encarou manhãs com geada e noites com temperaturas abaixo dos 10 ºC em novembro, quando é primavera no Brasil (e em todo o hemisfério sul), parece uma contradição dizer que 2022 está entre os anos mais quentes que o mundo já vivenciou. Então, o que significa isso?
Quando se fala de aumento da temperatura – o aquecimento global – a referência é a temperatura média do planeta até a época chamada pelos cientistas de pré-industrial (para a ONU, entre 1850 e 1900). A partir de então, aumentou a emissão de gases poluentes devido ao uso de combustíveis fósseis na indústria, nos transportes e em outras atividades humanas.
A concentração desses gases na atmosfera intensifica o efeito estufa (processo natural do planeta Terra para reter o calor necessário às condições de vida), o que provoca o aquecimento da atmosfera e dos oceanos. A temperatura média mais alta impacta as mudanças climáticas. Ondas de calor extremo, secas e inundações devastadoras que tomaram conta do mundo nos anos recentes são consequência disso.
Para garantir condições de vida no planeta, é preciso frear o aquecimento global. Medidas que garantam isso estão sendo discutidas na COP27, assim como já foram tratadas em anos anteriores, e devem ser implementadas por governos de todos os níveis e em todos os países.
O aumento médio da temperatura na superfície do planeta
(em comparação ao nível pré-industrial 1850-1900)
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2021: 1,1 ºC*
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2020: 1,2 ºC
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2019: 1,1 ºC
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2018: 1 ºC
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2017: 1,1 ºC
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2016: 1,1 ºC
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2015: 1 ºC**
* Sob o efeito do fenômeno La Niña, o aumento médio ficou abaixo do ano anterior, mas mais acima de outros anos impactados pelo mesmo fenômeno.
** 2015, 2016 e 2019 estiveram sob efeito do fenômeno El Niño.
Fonte: Elaboração própria com base em dados da Organização Meteorológica Mundial e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)
As mudanças climáticas provocam fenômenos climáticos extremos, como chuvas em excesso ou secas prolongadas. E o aquecimento global faz com que esses impactos das mudanças climáticas sejam mais intensos e frequentes. Ainda assim, é preciso muito estudo e comparação entre diferentes dados para apontar a relação entre um evento e as mudanças climáticas.
Uma maneira de chegar a resultados que confirmem essa influência é por meio da atribuição, num modelo que usa métricas e modelos já existentes para analisar os fenômenos de forma rápida, mantendo o padrão científico. É o que faz a iniciativa “World Weather Attribution”, ou atribuição climática global, em tradução livre.
Um exemplo dessa atribuição no Brasil foi o período de chuva intensa que atingiu Pernambuco em maio deste ano. Em menos de 24 horas, entre os dias 27 e 28, choveu mais de 70% do esperado para todo o mês. Isso aconteceu após uma semana de chuvas intensas que ganharam força no dia 25, atingindo também outros estados do Nordeste.
A análise feita pelo grupo, que teve como base em métodos revisados e publicados, indica que “eventos como este são agora mais prováveis de acontecer do que seriam em um clima que não tivesse sido aquecido pelas atividades humanas”. Ainda, aponta que a chuva, caso “ocorresse em um clima 1,2 ºC mais frio, teria aproximadamente metade da intensidade”.
Área de Recife (PE) afetada pela chuva; foto do dia 30 de maio. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR/JC
Sobre a iniciativa de atribuição climática