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Clima

- Publicada em 10 de Novembro de 2022 às 22:05

O que significa dizer que os oito anos recentes são os mais quentes da história

Com pouca sombra, Orla ficou vazia num dos dias mais quentes já registrados capital, em janeiro deste ano

Com pouca sombra, Orla ficou vazia num dos dias mais quentes já registrados capital, em janeiro deste ano


LUIZA PRADO/JC
Bruna Suptitz
Todos os anos entre 2015 e 2021 alcançaram a marca de serem os mais quentes já registrados na história do planeta. E, pelo que os estudos indicam até o momento, 2022 também chegará a esta marca: a estimativa é que fique, na média, 1,15 ºC acima dos níveis pré-industriais.
Todos os anos entre 2015 e 2021 alcançaram a marca de serem os mais quentes já registrados na história do planeta. E, pelo que os estudos indicam até o momento, 2022 também chegará a esta marca: a estimativa é que fique, na média, 1,15 ºC acima dos níveis pré-industriais.
Desde os anos 1980, cada década tem sido mais quente que a anterior, o que deve continuar, informa a ONU. A década mais recente, entre 2013 e 2022, deve fechar com 1,14 ºC acima da média registrada antes da era industrial. Ou seja, muito cedo para chegar tão perto da meta de manter o aquecimento em no máximo 1,5 ºC até o fim do século.
Os dados fazem parte de estudos de especialistas ao redor do mundo, que foram revisados e compõem o mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU que trata das questões climáticas.
Divulgada na abertura da COP27, que acontece até o dia 18 deste mês no Egito, a notícia veio acompanhada de um novo alerta: a velocidade e a intensidade do aumento da temperatura, e das consequentes alterações climáticas que isso provoca, têm potencial para “devastar vidas em todos os continentes”, disse em seu discurso o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Mas, para quem encarou manhãs com geada e noites com temperaturas abaixo dos 10 ºC em novembro, quando é primavera no Brasil (e em todo o hemisfério sul), parece uma contradição dizer que 2022 está entre os anos mais quentes que o mundo já vivenciou. Então, o que significa isso?
Quando se fala de aumento da temperatura – o aquecimento global – a referência é a temperatura média do planeta até a época chamada pelos cientistas de pré-industrial (para a ONU, entre 1850 e 1900). A partir de então, aumentou a emissão de gases poluentes devido ao uso de combustíveis fósseis na indústria, nos transportes e em outras atividades humanas.
A concentração desses gases na atmosfera intensifica o efeito estufa (processo natural do planeta Terra para reter o calor necessário às condições de vida), o que provoca o aquecimento da atmosfera e dos oceanos. A temperatura média mais alta impacta as mudanças climáticas. Ondas de calor extremo, secas e inundações devastadoras que tomaram conta do mundo nos anos recentes são consequência disso.
Para garantir condições de vida no planeta, é preciso frear o aquecimento global. Medidas que garantam isso estão sendo discutidas na COP27, assim como já foram tratadas em anos anteriores, e devem ser implementadas por governos de todos os níveis e em todos os países.

O aumento médio da temperatura na superfície do planeta

(em comparação ao nível pré-industrial 1850-1900)

  • 2021: 1,1 ºC*

  • 2020: 1,2 ºC

  • 2019: 1,1 ºC

  • 2018: 1 ºC

  • 2017: 1,1 ºC

  • 2016: 1,1 ºC

  • 2015: 1 ºC**

* Sob o efeito do fenômeno La Niña, o aumento médio ficou abaixo do ano anterior, mas mais acima de outros anos impactados pelo mesmo fenômeno.
** 2015, 2016 e 2019 estiveram sob efeito do fenômeno El Niño.
Fonte: Elaboração própria com base em dados da Organização Meteorológica Mundial e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

Minidicionário

El Niño: aquecimento acima da média das águas do Oceano Pacífico Equatorial; potencializa o aumento de temperatura em várias regiões do planeta.
La Niña: resfriamento anormal e persistente nas águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial; contribui para a queda da temperatura média global.

Quais as consequências das mudanças climáticas

As mudanças climáticas provocam fenômenos climáticos extremos, como chuvas em excesso ou secas prolongadas. E o aquecimento global faz com que esses impactos das mudanças climáticas sejam mais intensos e frequentes. Ainda assim, é preciso muito estudo e comparação entre diferentes dados para apontar a relação entre um evento e as mudanças climáticas.
Uma maneira de chegar a resultados que confirmem essa influência é por meio da atribuição, num modelo que usa métricas e modelos já existentes para analisar os fenômenos de forma rápida, mantendo o padrão científico. É o que faz a iniciativa “World Weather Attribution”, ou atribuição climática global, em tradução livre.
Um exemplo dessa atribuição no Brasil foi o período de chuva intensa que atingiu Pernambuco em maio deste ano. Em menos de 24 horas, entre os dias 27 e 28, choveu mais de 70% do esperado para todo o mês. Isso aconteceu após uma semana de chuvas intensas que ganharam força no dia 25, atingindo também outros estados do Nordeste.
A análise feita pelo grupo, que teve como base em métodos revisados e publicados, indica que “eventos como este são agora mais prováveis de acontecer do que seriam em um clima que não tivesse sido aquecido pelas atividades humanas”. Ainda, aponta que a chuva, caso “ocorresse em um clima 1,2 ºC mais frio, teria aproximadamente metade da intensidade”.
 
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Área de Recife (PE) afetada pela chuva; foto do dia 30 de maio. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR/JC

Sobre a iniciativa de atribuição climática

A iniciativa World Weather Attribution (WWA) é uma colaboração entre cientistas climáticos do Imperial College London no Reino Unido, KNMI nos Países Baixos, IPSL/LSCE na França, Universidade de Princeton e NCAR nos EUA, ETH Zurich na Suíça, IIT Delhi na Índia e especialistas em impacto climático do Centro Climático da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho em todo o mundo. A WWA foi fundada para fornecer avaliações robustas sobre o papel das mudanças climáticas logo após o evento.

A pergunta que deve ser feita

Frederike Otto, uma das pesquisadoras responsáveis pela World Weather Attribution, palestrou em um dos seminários do curso de Jornalismo e Mudanças Climáticas, da Universidade de Oxford, do qual participei como aluna. Na ocasião, orientou aos profissionais de imprensa que o seguinte: “Não perguntem ‘isso foi provocado por mudança climática?’. Perguntem: ‘como as mudanças climáticas alteraram a possibilidade e a intensidade desse tipo de fenômeno extremo?’”.
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