Com pranchetas na mão, algumas pessoas percorriam o corredor das feiras de artesanato e de produtos orgânicos na manhã de sábado, dia 15, coletando assinaturas em uma folha com as palavras "S.O.S REDENÇÃO" em destaque. À tarde, a banca de encontro para entregar as folhas preenchidas e sair com novas ganhou um cartaz feito à mão com a mesma escrita. A mobilização ampliou e se repetiu no domingo. Nas abordagens, o discurso era contra a proposta da prefeitura de Porto Alegre de entregar à iniciativa privada a gestão do Parque Farroupilha - mais conhecido como Redenção.
Poucos dias antes, na terça-feira, o prefeito Sebastião Melo (MDB) apresentou a
proposta de concessão de quatro áreas públicas, divididas em dois lotes: o primeiro une a Redenção com o calçadão da Praia do Lami, no extremo sul - distante 30 quilômetros do Centro; e no segundo lote o Parque Marinha do Brasil e o trecho vizinho na orla do Guaíba. A intenção do governo é passar tudo para empresas ou consórcios que façam a gestão por 30 anos, em troca da exploração econômica das áreas. Melo assegura que estes parques permanecerão abertos, sem cercamento.
"É um espaço democrático" foi a definição repetida por praticamente todas as pessoas que falaram com a coluna. "É um bem público que não exclui ninguém. A concessão exclui a cidadania, quem não tem poder de compra", alertou Rosa Angela Chieza. Vizinho do parque, Victor Santana sustenta que é preciso qualificar o parque com o mesmo cuidado que se teve no início do ano, às vésperas do Baile da Cidade em comemoração aos 250 de Porto Alegre. "Depois, deixaram deteriorar". Para Rosa, a entrega que a prefeitura pretende "não se trata de falta de recurso (para a gestão); é estratégia" - o que ela aponta ter sido feito com o Orquidário, substituído pela área de gastronomia chamada de Refúgio do Lago.
Com 37 hectares e ladeado pelos bairros Bom Fim, Farroupilha, Cidade Baixa e Centro, o Parque da Redenção recebe diariamente diferentes públicos. No sábado, um grupo de jovens flautistas do Lar de São José se apresentou em frente ao Monumento ao Expedicionário. "O parque é um espaço aberto que podemos usar. Temos que usar o que a comunidade nos proporciona. Assim, consigo qualificar o atendimento das nossas crianças", explica Maria da Glória Grecco dos Santos, representante da entidade. Ela conta que as crianças também visitam o espaço no verão para fazer piquenique, uma atividade lúdica e que não demanda muito recurso financeiro.
"O parque é ponto de memória desde a mais tenra infância", conta Ana Maria Dalla Zen, que lembra dos passeios em família que iniciavam no bonde e tinham como destino a Redenção. A memória afetiva, o uso livre da área e a diversidade de público "que vem aqui como quer, (porque) não tem distinção de classe", como destaca Solange Rita Bassani Lorenzini, é outro ponto comum na fala de quem decidiu se mobilizar contra a concessão.
Ana Maria frequenta o Parque da Redenção desde criança e participou da coleta de assinaturas. Foto: Bruna Suptitz/Divulgação/JC
A busca por assinaturas iniciou online na terça-feira passada e no domingo contava com mais de 13 mil adeptos na
plataforma virtual. A estas serão somadas as adesões coletadas fisicamente. A organização é coletiva e são convidados a participar todos que concordem com a reivindicação e rechacem a intenção da prefeitura.
Mais atos estão sendo organizados para o próximo fim de semana. Por parte da prefeitura, há uma
consulta pública aberta até o dia 24 de novembro e receberá sugestões sobre as minutas já elaboradas do edital, do contrato e anexos das concessões pretendidas. Também em novembro será realizada audiência pública na Câmara Municipal para debater as concessões.