Kunhã Karai é um termo guarani que remete à mulher sábia, que cuida da casa de reza. Na cultura indígena, são essas mulheres as guardiãs do conhecimento, das memórias e das histórias do seu povo. Para Paola Mallmann, a expressão simboliza “várias mulheres que têm essa caminhada com a espiritualidade, que falam de si e são porta-vozes da narrativa da terra”.
Produtora cultural e mestre em Antropologia, Paola se inspirou na descendência indígena e no contato que já tinha com comunidades originárias da região metropolitana de Porto Alegre para partir em busca desse “arquétipo ancestral que fala com todas e tem consciência da sua voz”. É desse chamado que nasce “Kunhã Karai e as narrativas da terra” – primeiro longa documentário que dirige e assina como produtora associada. Exibido essa semana na Cinemateca Capitólio, em sessão fechada para a equipe e apoiadores, o documentário seguirá agora para festivais e mostras.
Paola, que assina a direção e fez parte das filmagens, apresenta sua relação com o enredo logo nos primeiros minutos de tela, a partir da referência à sua avó, que tem origem indígena, embora desconheça a etnia. “Quis destacar isso. Senti que, ao falar da história da minha avó, estaria falando da história de muitas pessoas com as suas avós”.
Para esse trabalho, percorreu o Brasil do sul ao norte e vivenciou a cultura indígena em aldeias e cidades. “O perímetro urbano vai se expandindo e, por necessidades diversas, (os povos indígenas) foram ocupando espaços da cidade. Isso vem para nos provocar sobre o lugar do indígena, que pode ser nas cidades, mas pensar em cidade mais sustentável”, destaca.
Em referência a uma fala de
Shirley Krenak, uma das mulheres que dá voz aos saberes dos povos originários no filme, Paola aponta que “o planeta está vivendo um processo em que os saberes dos povos indígenas se mostram fundamentais e valiosos, na contramão da relação com a terra como sendo de exploração, mas de ser parte da terra”.
Selecionado pelo antigo Ministério da Cultura na linha de edital “Audiovisual gera futuro”, o documentário tem produção executiva de Beto Rodrigues, da Panda Filmes e Linha de Produção, e a Opará Cultural, de Paola, como produtora associada. A montagem é de Vanessa Leal dos Santos O trailer e mais informações estão no
site da produtora.