Entre 1995 e 2021, uma lei municipal garantiu o passe livre nos ônibus do transporte coletivo de Porto Alegre em dia de eleições gerais e municipais e para o Conselho Tutelar. No fim do ano passado, no entanto,
a gratuidade nestas datas caiu com a aprovação de uma lei do governo municipal. O assunto pautou o debate público na semana passada e, depois de
ir parar na justiça, a prefeitura garantiu que o transporte de passageiros sem custo no primeiro turno do pleito, no domingo, dia 2.
Mas a pauta não ficou somente aqui. “Em um Brasil profundo e de dimensões continentais, muitos encontram dificuldades para ter acesso às suas zonas eleitorais, principalmente nas periferias”, diz um trecho do manifesto “
Passe livre pela democracia”, lançado pelo Pacto pela Democracia, iniciativa da sociedade civil voltada à defesa e ao aprimoramento da vida política. Esse foi um ponto de debate das entidades em 2018 e foi retomado quando estourou o caso de Porto Alegre.
Isso porque o transporte é entendido como “um direito que dá acesso a outros direitos”, sustenta Rafael Calábria, coordenador de mobilidade urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Como exemplo, cita a pesquisa de 2022 da Rede Nossa São Paulo sobre mobilidade urbana: na capital paulista, 10% da população afirma que já deixou de ir a uma consulta médica ou fazer exames por falta de dinheiro para pagar a passagem. Sobe para 32% quando se soma quem já fez isso em algum momento. Dados semelhantes aparecem quando o assunto é acesso à escola, a atividades de lazer ou visita a familiares.
A proposta de ter passe livre nas eleições sensibilizou mais de 60 prefeituras, que ofertaram o serviço sem custo ou com redução na tarifa no dia 2. Agora, a mobilização segue visando o segundo turno em 30 de outubro. Conforme nota do Idec, “com essa medida, as prefeituras chamam a atenção para a urgência do problema e mostram que é viável abolir a cobrança por um dia”. O instituto também pleiteia a ampliação do financiamento ao transporte público e busca isso com o governo federal.
Em Porto Alegre a pauta estará presente nas discussões da Câmara Municipal nas quatro semanas até o segundo turno. Um projeto de lei para retomar a obrigatoriedade do passe livre em dias de eleições municipais, estaduais e federais, foi apresentado pelos vereadores petistas Aldacir Oliboni, Laura Sito e Leonel Radde. “Já teve economia com (a redução de) outras datas, e eleição é somente a cada dois anos”, argumenta Radde. Para ele, não ofertar transporte sem custo no dia de eleição é um “cerceamento focado em questão de classe”.
Presidente do Legislativo, Idenir Cecchin (MDB) não vê abertura para retomar o debate localmente. Ele reverbera a proposta do prefeito Sebastião Melo (MDB), de discutir o assunto como o governo Federal ou com o Tribunal Superior Eleitoral, já que eleições acontecem ao mesmo tempo em todos os municípios. Como exemplo, cita a mobilização recente da Frente Nacional de Prefeitos, que reivindicou da União o
financiamento para as passagens de pessoas com mais de 65 anos, já que a medida está prevista na Constituição Federal.