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'Mudança climática deve ser tratada nas cidades', diz especialista de Yale
Lisa Fernandez, de Yale, fala da responsabilidade dos governos locais
Os chamados fenômenos climáticos extremos são realidade em todo o mundo, com impactos distintos em cada região. Tratar desse assunto é uma questão absolutamente local, defende Lisa Fernandez, diretora associada do Centro de Comunicação em Mudanças Climáticas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, referência em pesquisa sobre a percepção deste assunto.
Fernandez sustenta, com base em dados levantados por seu grupo de estudos, que a população entende melhor o tema quando consegue estabelecer uma conexão entre o discurso e os impactos próximos da sua comunidade.
Nesta entrevista, a pesquisadora afirma que cabe aos governos locais, especialmente os municípios, informar as pessoas e implementar políticas públicas para reduzir a emissão de poluentes que causam o aquecimento global.
Fernandez sustenta, com base em dados levantados por seu grupo de estudos, que a população entende melhor o tema quando consegue estabelecer uma conexão entre o discurso e os impactos próximos da sua comunidade.
Nesta entrevista, a pesquisadora afirma que cabe aos governos locais, especialmente os municípios, informar as pessoas e implementar políticas públicas para reduzir a emissão de poluentes que causam o aquecimento global.
JC - Qual é o papel dos governos locais em comunicar as mudanças climáticas?
Fernandez - Para o tipo de trabalho que fazemos em comunicação, a chave é que as autoridades locais estejam constantemente explicando e divulgando que há uma conexão entre o aquecimento global e o que as pessoas estão vendo e sentindo no nível local em termos de impacto. A ideia é transmitir essa informação e essa conexão em todas as oportunidades. Descobrimos em nossa pesquisa que existe o que chamamos de “espiral de silêncio do clima”. Por exemplo, os políticos não pensam que seus eleitores se preocupam com as mudanças climáticas, então não falam sobre isso. Mas o oposto é verdadeiro: mais de 75% dos norte-americanos acreditam que a mudança climática está acontecendo e mais da metade agora entende que é causada pelo ser humano. Há um consenso crescente entre o público, de que é real e precisa ser abordado. E é uma questão que pode levar à vitória e não à derrota. Estamos vendo cada vez mais plataformas de campanha de políticos locais optando por usar as palavras “mudanças climáticas” e propor soluções diretamente no nível local, porque é com isso que os eleitores se preocupam. É mais verdade, é claro, entre progressistas e liberais, mas também é verdade com os políticos do espectro mais conservador, particularmente em nível local.
Fernandez - Para o tipo de trabalho que fazemos em comunicação, a chave é que as autoridades locais estejam constantemente explicando e divulgando que há uma conexão entre o aquecimento global e o que as pessoas estão vendo e sentindo no nível local em termos de impacto. A ideia é transmitir essa informação e essa conexão em todas as oportunidades. Descobrimos em nossa pesquisa que existe o que chamamos de “espiral de silêncio do clima”. Por exemplo, os políticos não pensam que seus eleitores se preocupam com as mudanças climáticas, então não falam sobre isso. Mas o oposto é verdadeiro: mais de 75% dos norte-americanos acreditam que a mudança climática está acontecendo e mais da metade agora entende que é causada pelo ser humano. Há um consenso crescente entre o público, de que é real e precisa ser abordado. E é uma questão que pode levar à vitória e não à derrota. Estamos vendo cada vez mais plataformas de campanha de políticos locais optando por usar as palavras “mudanças climáticas” e propor soluções diretamente no nível local, porque é com isso que os eleitores se preocupam. É mais verdade, é claro, entre progressistas e liberais, mas também é verdade com os políticos do espectro mais conservador, particularmente em nível local.
JC - Há uma maneira de analisar se medidas dos governos estão indo pelo caminho certo? Penso que algumas vezes os políticos não colocam em prática o próprio discurso.
Fernandez - A maneira de um eleitor ver isso é: “O prefeito está fazendo o que disse que ia fazer? Colocaram a ciclovia?”. Tenho certeza de que o prefeito que está dizendo que vai fazer algo será punido e não será eleito novamente se não fizer. É isso que torna as mudanças climáticas tão importantes em nível local, porque é onde os eleitores sentem o maior impacto das políticas e podem responsabilizar seus líderes. Minha colega Karen Cito é uma das principais autoras, no relatório do IPCC que saiu recentemente, sobre as mudanças climáticas nas cidades. Sua pesquisa é fascinante e fala sobre como haverá um tremendo crescimento das cidades nos próximos 30 anos. E as cidades hoje já contribuem com cerca de 2/3 das emissões, portanto, será muito importante que pensem estrategicamente sobre como querem se desenvolver. O que vamos ver, se as lideranças forem progressistas nessa questão, é tornar as cidades densas, em vez de apenas tomar a terra e se espalhar. Construir em altura e preservar o espaço aberto que se tem. Isso será muito importante, e comunicar as razões para isso é algo que será estudado mais. Será muito, muito importante que as cidades continuem limitando cada vez mais suas contribuições para o aquecimento global, tornando-se mais caminháveis e amigas dos pedestres, que você possa ir a pé fazer as suas compras, ir a pé a eventos culturais, ir de bicicleta ao médico na clínica local, ir à escola sem precisar do carro. Ironicamente, as cidades mais antigas é que são assim, e mesmo as não tão antigas, mas que se desenvolveram muito antes da era do carro, são hoje as mais densas. Nova York também é uma das poucas cidades nos EUA onde não se precisa de carro, porque há um bom sistema de metrô. É o desenvolvimento orientado ao transporte coletivo (TOD, na sigla em inglês), pensando e implementando o transporte público para que as pessoas caminhem e não precisem mais do carro. Eu sei que o Brasil está fazendo um bom trabalho nisso, muito melhor do que estamos fazendo em nosso país.
Fernandez - A maneira de um eleitor ver isso é: “O prefeito está fazendo o que disse que ia fazer? Colocaram a ciclovia?”. Tenho certeza de que o prefeito que está dizendo que vai fazer algo será punido e não será eleito novamente se não fizer. É isso que torna as mudanças climáticas tão importantes em nível local, porque é onde os eleitores sentem o maior impacto das políticas e podem responsabilizar seus líderes. Minha colega Karen Cito é uma das principais autoras, no relatório do IPCC que saiu recentemente, sobre as mudanças climáticas nas cidades. Sua pesquisa é fascinante e fala sobre como haverá um tremendo crescimento das cidades nos próximos 30 anos. E as cidades hoje já contribuem com cerca de 2/3 das emissões, portanto, será muito importante que pensem estrategicamente sobre como querem se desenvolver. O que vamos ver, se as lideranças forem progressistas nessa questão, é tornar as cidades densas, em vez de apenas tomar a terra e se espalhar. Construir em altura e preservar o espaço aberto que se tem. Isso será muito importante, e comunicar as razões para isso é algo que será estudado mais. Será muito, muito importante que as cidades continuem limitando cada vez mais suas contribuições para o aquecimento global, tornando-se mais caminháveis e amigas dos pedestres, que você possa ir a pé fazer as suas compras, ir a pé a eventos culturais, ir de bicicleta ao médico na clínica local, ir à escola sem precisar do carro. Ironicamente, as cidades mais antigas é que são assim, e mesmo as não tão antigas, mas que se desenvolveram muito antes da era do carro, são hoje as mais densas. Nova York também é uma das poucas cidades nos EUA onde não se precisa de carro, porque há um bom sistema de metrô. É o desenvolvimento orientado ao transporte coletivo (TOD, na sigla em inglês), pensando e implementando o transporte público para que as pessoas caminhem e não precisem mais do carro. Eu sei que o Brasil está fazendo um bom trabalho nisso, muito melhor do que estamos fazendo em nosso país.
JC - O que mais pode ser feito nas cidades para contribuir para frear o aumento da temperatura do planeta?
Fernandez - É muito importante que as cidades revertam sua contribuição para o aquecimento global, porque cerca de 2/3 das emissões de gases de efeito estufa são das cidades. A principal característica é tornar as cidades mais densas, o que significa cidades mais compactas e fáceis de percorrer, mais amigáveis a pé e de bicicleta, com ótimo transporte público ou empregos onde as pessoas vivem, serviços, compras e entretenimento todos próximos. Isso cria condições mais favoráveis ao clima, mas também reduz o tráfego e melhora a qualidade do ar. E conforme a cidade cresce, não acabar com espaços abertos que hoje são verdes, não “concretar” mais superfícies, não criar rodovias ou estacionamentos sem necessidade. A chave é pensar em preservar. Por exemplo, aumentando a cobertura da copa das árvores para evitar as ilhas de calor nas cidades.
Fernandez - É muito importante que as cidades revertam sua contribuição para o aquecimento global, porque cerca de 2/3 das emissões de gases de efeito estufa são das cidades. A principal característica é tornar as cidades mais densas, o que significa cidades mais compactas e fáceis de percorrer, mais amigáveis a pé e de bicicleta, com ótimo transporte público ou empregos onde as pessoas vivem, serviços, compras e entretenimento todos próximos. Isso cria condições mais favoráveis ao clima, mas também reduz o tráfego e melhora a qualidade do ar. E conforme a cidade cresce, não acabar com espaços abertos que hoje são verdes, não “concretar” mais superfícies, não criar rodovias ou estacionamentos sem necessidade. A chave é pensar em preservar. Por exemplo, aumentando a cobertura da copa das árvores para evitar as ilhas de calor nas cidades.
JC - Pode explicar do que se trata?
Fernandez - O efeito de ilha de calor urbano é um fator em que a temperatura de uma área inteira além da cidade pode ser a mesma, mas é muito mais alta na cidade, porque todo o calor e a luz do sol são refletidos nas vias pavimentadas a ponto de torná-las mais quentes. Como exemplo, na minha cidade, New Haven, Connecticut, onde fica Yale, foi feito um esforço para plantar muitas árvores. Isso tem o benefício adicional de encorajar as pessoas a caminhar mais, porque se tem sombra elas não sentem que precisam entrar no carro com o ar condicionado, podem caminhar para ir à loja e coisas assim. É importante que nunca se perca de vista falar sobre mudanças climáticas e soluções em nível local, garantindo que a população esteja ciente da conexão entre os impactos das suas experiências e as soluções.
Fernandez - O efeito de ilha de calor urbano é um fator em que a temperatura de uma área inteira além da cidade pode ser a mesma, mas é muito mais alta na cidade, porque todo o calor e a luz do sol são refletidos nas vias pavimentadas a ponto de torná-las mais quentes. Como exemplo, na minha cidade, New Haven, Connecticut, onde fica Yale, foi feito um esforço para plantar muitas árvores. Isso tem o benefício adicional de encorajar as pessoas a caminhar mais, porque se tem sombra elas não sentem que precisam entrar no carro com o ar condicionado, podem caminhar para ir à loja e coisas assim. É importante que nunca se perca de vista falar sobre mudanças climáticas e soluções em nível local, garantindo que a população esteja ciente da conexão entre os impactos das suas experiências e as soluções.