Lideranças do agronegócio gaúcho se reunirão, hoje, com bancos e cooperativas de crédito para discutir o tamanho e o perfil do endividamento dos produtores gaúchos. O objetivo é realizar um diagnóstico detalhado sobre as perdas, atendendo à demanda do governo federal, que sinalizou que a suspensão das cobranças será limitada e condicionada à elaboração desse raio-X.
A reunião visa um alinhamento prévio ao encontro, ainda sem data marcada, em Brasília entre as entidades ligadas ao agro, entidades financeiras e o governo federal. "Pela milésima vez, temos a tarefa de fazer um diagnóstico do endividamento para a União. Já fizemos um milhão deles, mas vamos montá-los de novo para chegar às mesmas conclusões", afirma o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz.
Desta vez, a ideia do setor é ir além e detalhar os casos mais graves de endividamento, além de identificar mecanismos legais para "levantar" produtores que estejam com nomes em cadastros negativos de crédito, como SPC e Serasa. "O produtor foi mal em 2022, parcelou as dívidas. Aí veio 2023, enchente e agora 2025 com estiagem e no meio desse caminho o produtor chega num ponto que precisa trocar o crédito, de rural para crédito comercial. A ideia é saber como vamos colocar esse produtor numa renegociação mais ampla", afirma Luz.
Cerca de 38 mil produtores negociaram o crédito livre, no ano passado. E desses, a imensa maioria só piorou a situação nesse ano. Sim. "Não teve um ano de respiro", diz.
"A expectativa é de que os bancos tragam os números para a reunião e que o governo esteja acessível para rever a sua posição, pois eles estão dizendo que são poucos produtores que estão efetivamente endividados. Diante dos dados, o governo vai ter que acreditar na gente: que são muitos produtores em situação grave de endividamento", afirma o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva.
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O dirigente diz que a proposta do setor é utilizar recurso do Fundo Social do Pré-Sal e fazer a securitização para os produtores, num prazo de 20 anos.
Luz informa que a Farsul estudou profundamente a linha do Fundo Social do Pré-Sal, um recurso que, quando foi criado em 2010, tinha sete propósitos, entre eles acudir produtores em situação como esta. "A ideia do setor seria: ao invés de o Tesouro emitir títulos de dívida, como prevê o projeto que trata da securitização, ele usa os recursos do fundo, porque a emissão de títulos de dívida significa o Tesouro se endividar mais ainda. E da forma como nós sugerimos para o governo, não tem um centavo de equalização de juros", explica Luz.
O economista acredita que não haverá tempo hábil para que as medidas possam valer para as parcelas com vencimento em abril. "Não vejo a possibilidade de o governo montar uma linha em tempo tão exíguo. Ele precisará fazer uma prorrogação", completa Luz.
O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul, (Fecoagro-RS), Paulo Pires, diz que é preciso decisão política e técnica, baseada principalmente na condição de pagamento. "São três anos de frustração de safra e a questão da perda de renda, com a baixa dos preços. Hoje, o produtor praticamente não tem renda. O socorro que estamos pedindo é para eles conseguirem plantar na próxima safra", diz Pires. Segundo ele, os investimentos a campo também seguem comprometidos frente ao endividamento, como é o caso da irrigação. "O governo fala tanto em irrigar, mas o produtor tem que estar com as suas contas mais ou menos em dia para ele conseguir fazer essa mudança", completa o dirigente.
Na semana passada, o Ministério da Fazenda negou o pedido de suspensão das dívidas dos produtores rurais com vencimento em abril. A medida, que havia sido recomendada pelos ministérios da Agricultura (Mapa) e do Desenvolvimento Agrário (MDA), foi rejeitada em reunião realizada no dia 15 de abril, em Brasília. Uma nova reunião está com data ainda pendente, mas, em princípio, será realizada ainda nesta semana.
Outra reunião de caráter técnico ficou pré-agendada, sem data ainda definida, para tratar da viabilização do uso do Fundo Social do Pré-Sal como plataforma a sustentar a renegociação das dívidas. A ideia é reunir as entidades que representam o setor com técnicos do governo e dos agentes financeiros para avaliar as possibilidades e os caminhos para viabilizar a utilização dessa ferramenta no alívio da situação do Estado.