Cecilia Machado
A produtividade -o quanto se produz por quantidade de insumo- é uma medida de eficiência econômica importante. No caso do trabalho, quando conseguimos produzir mais por hora trabalhada, das duas, uma: ou expandimos a produção sem precisar trabalhar mais ou então produzimos o mesmo, mas podemos usar o tempo que sobra para descansar ou fazer outras coisas.
Para os trabalhadores, ganhos de produtividade podem ser utilizados para embasar as renegociações salariais e contribuem para o crescimento dos salários (acima da inflação). Para a população, menores custos de produção e, consequentemente, preços mais baixos expandem as possibilidades de consumo.
Em linhas gerais, ganhos na produtividade se refletem em maior crescimento econômico, salários mais altos e melhores condições de vida. Mas, no Brasil, a evolução da produtividade mostra que avançar nessas frentes pode ser mais desafiador.
Nos últimos cinco anos, a produtividade do trabalho ficou praticamente estagnada, ao crescer apenas 0,4% ao ano, apesar das vantagens que a adoção de tecnologia e do trabalho remoto no período poderiam implicar. Em perspectiva comparada, algumas economias parecem ter se beneficiado muito mais dessas mudanças. Nos Estados Unidos, a produtividade do trabalho cresceu 1,8% ao ano em igual período, acima inclusive do que se observou naquele país em anos anteriores.
Há inúmeros motivos que tornam a experiência americana distinta da brasileira. Entre eles a criação de empresas e a realocação dos trabalhadores entre elas, como mostra estudo recente do BIS. Se de um lado o bom ambiente de negócios e a flexibilidade no mercado de trabalho facilitam os ajustes que geram mais dinamismo para a economia americana, de outro essas características de pouco serviriam se os trabalhadores não conseguissem se adaptar ao novo cenário.
Os ganhos de produtividade se materializam quando as habilidades e os aprendizados acumulados ao longo da vida permitem que os trabalhadores aproveitem de melhor forma as suas horas de trabalho, seja adotando tecnologias, seja usando novas máquinas e equipamentos em seus processos, seja empregando melhores práticas gerenciais. Uma educação de qualidade é peça-chave nesse processo.
Apesar de o panorama educacional no Brasil mostrar progressos ao longo do tempo (como em métricas de acesso e de permanência dos alunos), a qualidade da educação ainda é muito baixa. O investimento na primeira infância está aquém do necessário e a progressão de série se dá mesmo quando os alunos não dominam as competências esperadas para a idade e a série.
A aprendizagem em matemática é adequada para apenas 36,7% dos alunos do 5º ano do ensino fundamental, de acordo com dados do Saeb. No Pisa, 73% dos alunos brasileiros de 15 anos registraram baixo desempenho em matemática, nível que é considerado o padrão mínimo para que os jovens possam exercer plenamente sua cidadania, de acordo com a OCDE.
Isso significa que o pífio progresso da produtividade do trabalho traz implicações relevantes para as políticas públicas de valorização salarial. No caso do salário mínimo, tudo indica que o novo balizador será dado pelo limite de crescimento dos gastos do governo, já que diversas despesas (como a Previdência) crescem com ele. Mas, na ausência de ganhos de produtividade, aumentos salariais exercem pressão de custos, ora repassados para os consumidores, ora repassados para os trabalhadores, via emprego. Dito de outra forma, ganhos de produtividade são fundamentais para permitir que valorização salarial seja de fato capaz de melhorar a vida das pessoas.
Economista-chefe do Banco BoCom BBM, é doutora em economia pela Universidade Columbia