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Opinião Econômica

Publicada em 15 de Outubro de 2024 às 18:53

Lamento informar, mas a recuperação da Bolsa não tem fôlego

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Marcos de Vasconcellos
Marcos de Vasconcellos
A alta de 4,5% da Bolsa no segundo semestre, até agora, parece um belo refresco, ainda mais para o investidor que viveu o pesadelo da queda de 7,8% nos primeiros seis meses do ano. Mas trago más notícias: nosso mercado está sem fôlego.
O problema é que o Ibovespa, termômetro da Bolsa, é composto pelas 86 ações consideradas mais importantes do mercado. E a alta dos últimos meses foi puxada por apenas 36% desses papéis. Para você ter ideia, o salto de 2023, quando o índice voou 22,28%, foi sustentado por 51% das ações.
O cálculo é baseado em quantas ações do Ibovespa superaram o índice no período. Quanto mais papéis nesse grupo, menos o índice está sujeito às oscilações de uma ou outra empresa. Você sabe como é perigoso se agarrar ao sobe e desce da Vale ou da Petrobras, tão sensíveis à boa vontade chinesa e a decisões do governo federal, respectivamente.
Se na escalada de 2023 tivemos 45 ações acima do indicador, na alta dos últimos três meses foram apenas 31. Em uma palavra, isso mostra "fraqueza", resume o analista técnico de ações Eduardo Marzbanian. Ainda mais quando comparado com o ano passado.
No fim das contas, a "saúde" da Bolsa nos últimos meses é quase uma miragem. Quando olhamos com mais cuidado, vemos que ela está apoiada em um grupo restrito de empresas, de forma perigosa. Quanto mais concentrada a performance, mais vulnerável fica a nossa Bolsa.
Isso é o que enxergamos olhando para trás. Para tentar vislumbrar o futuro, muitos analistas usam um indicador semelhante, mas que, em vez de medir o desempenho abaixo ou acima do índice, contabilizam quantas ações do Ibovespa estão em tendência de alta ou em tendência de baixa. É o chamado "market breadth", ou indicador de amplitude do mercado.
E, por essa perspectiva, os dados também não são nada animadores. Olhando as ações do Ibovespa, na sexta-feira (11), 35% mostravam tendência clara de queda, enquanto menos de 10% estavam em tendência de alta, segundo os indicadores de "market breadth" da casa de análise PhiCube, usando tendências semanais.
No ano passado, o mercado premiou aquelas empresas mais ligadas ao consumo interno e que se beneficiaram com as perspectivas que levaram ao ciclo de corte de juros, observou Alan dos Santos, que é analista da PhiCube.
Agora, em 2024, quem está liderando são as exportadoras e as empresas de proteína animal. Empresas que exportam muito, em geral, têm mais demanda quando o dólar está alto, já que o real desvalorizado significa produtos baratos para seus clientes ao redor do mundo. E mais demanda faz os investidores apostarem em suas ações.
Você sabe que é impossível prever o futuro e que uma notícia tem poder de estourar uma manada de compradores ou vendedores na Bolsa. Mas a fotografia do momento mostra que a Bolsa correu nos últimos meses com pernas fracas e, agora, tem pouco fôlego para manter o pique.
 Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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