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Opinião Econômica

Publicada em 01 de Outubro de 2024 às 19:23

Troque a Coca gelada pelo chá quente

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Folhapress
Acostumamos a olhar para o lado de cá do meridiano de Greenwich para pensar na economia internacional. Vai dar Donald Trump ou Kamala Harris? O que indicam as atas do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos)? E os números do payroll (relatório de empregos do governo americano)?
Acostumamos a olhar para o lado de cá do meridiano de Greenwich para pensar na economia internacional. Vai dar Donald Trump ou Kamala Harris? O que indicam as atas do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos)? E os números do payroll (relatório de empregos do governo americano)?
São informações essenciais, da maior economia do mundo. Mas a atenção exagerada a elas pode te fazer ignorar um hábito simples, que costuma me trazer boas indicações sobre o andar do mercado brasileiro: olhar o desempenho diário das bolsas da Ásia. Ou melhor, da China. É prático, aliás. Como o dia aqui é noite lá, de manhã cedinho já temos os dados do fechamento em mãos.
Claro que não é mágica nem matemática simples. Quando o mercado está "andando de lado", quando as notícias se sobrepõem às negociações cotidianas ou em dia de feriado, fica mais difícil digerir qualquer dado. Mas nos dias comuns (eles ainda existem) o valor desse hábito fica claro.
Nesta última semana, por exemplo, nos dias 24 e 26 tivemos altas impressionantes do principal índice do mercado chinês, chamado Shanghai Composite Index. Ele subiu 4,15% e 3,6%, respectivamente.
Nas mesmas datas, o Ibovespa, nosso principal indicador, registrou altas de mais de 1%, após cinco quedas consecutivas, sem notícias muito positivas daqui, nem grandes emoções nas bolsas de Nova York.
O que disparou corações e compras de ações no Oriente e em terras brasileiras foi o anúncio do novo pacote de estímulos do governo chinês, para garantir o crescimento do PIB (Produto Interno bruto) conforme a meta estabelecida, de 5% ao ano.
A China planeja emitir 2 trilhões de yuans (R$ 1,55 trilhão) em títulos soberanos para captar dinheiro para facilitar a oferta de crédito, bem como flexibilizar as exigências para compra e financiamento de imóveis.
Isso porque a crise imobiliária é um dos entraves para atingir o crescimento planejado você deve se lembrar da quebradeira que levou a Evergrande à lona.
E o que explica o reflexo desse bom humor diretamente aqui (e não necessariamente nos EUA)? Simpatia? Nada disso. Crescimento na Ásia significa mais vendas para grandes players brasileiros. A principal da lista é ela, sempre ela, a Vale. Expansão imobiliária e industrial demanda aço, e produzir aço, aqui ou na China, exige mais toneladas de minério de ferro.
Os investidores que já enxergaram o aumento da demanda foram atrás das ações da mineradora e, na última semana, os papéis VALE3 voaram 12%. Como essa é a ação mais influente do nosso Ibovespa, representando mais de 12% do índice, empurrou a Bolsa para seus dias positivos, mesmo sem qualquer novidade empolgante aqui ou nos EUA.
A China foi o destino de aproximadamente 30% das exportações brasileiras (mais de US$ 100 bilhões) em 2023, com base nos dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Os EUA ficaram com cerca de 10% do que vendemos (equivalente a US$ 36,9 bilhões).
Para quem cresceu na "geração Coca-Cola", programado para receber o que era empurrado com os "enlatados dos USA", começar o dia com um chá chinês pode ser uma boa mudança de hábitos.

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