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Opinião Econômica

- Publicada em 31 de Julho de 2024 às 18:46

Renda traz mais medalhas?

Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Os dados mostram que dois fatores são cruciais para explicar o desempenho dos países nos Jogos Olímpicos.
O primeiro é a população. Quanto mais gente há no país, maior a chance de encontrar pessoas com dom para correr, nadar, lutar, jogar bola e manobrar o skate.
O segundo, a renda por habitante, parece tão importante quanto o primeiro. Em países mais ricos, as crianças e os jovens têm mais condições de desenvolver seus potenciais e se tornarem atletas de elite.
Assim, o produto total do país (que é a renda por habitante multiplicada pela população) dá uma boa ideia sobre a quantidade de medalhas que um país vai ganhar. De fato, China e Estados Unidos, países com os maiores produtos do mundo, devem estar lutando pelo topo do quadro oficial de medalhas daqui ao final destas Olimpíadas.
Se é assim para países, a mesma lógica vale para localidades dentro de uma nação?
As três primeiras medalhas brasileiras nesta Olimpíada foram para uma menina prodígio maranhense e para dois judocas paulistas que treinam no Esporte Clube Pinheiros.
Quem nasce em um estado mais rico como São Paulo tem mais chances de medalha que alguém que nasce em um estado mais pobre como o Maranhão?
Será que a relação para os estados é parecida com a relação para os países? Será que a renda fica menos importante?
A resposta não é óbvia.
Por um lado, migrar para outro estado é muito mais fácil que mudar para outro país. Assim, jovens talentosos podem migrar para clubes em estados mais ricos que oferecem infraestrutura para treinar, apoio médico e acesso a treinadores e competições de alto nível, por exemplo.
Além disso, políticas de alcance nacional podem reduzir o impacto das disparidades regionais de renda. Por outro lado, crianças mais pobres terão, em média, menos possibilidades de desenvolver seu potencial. Assim, em estados com renda menor, deve haver mais crianças com talento que não se tornam atletas.
O que dizem os dados?
Não achei trabalhos publicados sobre isso. Então, Julia Marasca e eu fomos olhar os dados de medalhas no Brasil para tentar responder a essa pergunta.
Os dados indicam que população e renda por habitante são também muito importantes para determinar os estados de nascimento dos medalhistas brasileiros.
Como não há muitos estados na Federação e o número de medalhas não é tão grande, a análise estatística não nos dá resultados muito precisos.
Ainda assim, as estimativas com os dados existentes mostram um efeito semelhante da população e da renda per capita no número de medalhistas dos estados -assim como acontece nas estimativas de medalhas por país.
Quando a questão é o número de medalhas olímpicas, as diferenças de renda dentro do Brasil parecem, em linhas gerais, importantes como as diferenças de renda entre os países.
Claro, ganhar medalha olímpica é uma tarefa extremamente difícil para qualquer um. Mas é ainda mais difícil para quem nasce em países ou estados mais pobres. Ao que parece, a possibilidade de migrar para os principais clubes do Brasil tem bem menos efeito que o desenvolvimento do potencial das crianças.