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Opinião Econômica

- Publicada em 16 de Julho de 2024 às 19:20

As reações do mercado financeiro

Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Não demora nem um minuto para que a taxa de câmbio, o valor das ações de empresas e as taxas de juros saltem em resposta às notícias políticas e econômicas mais importantes.
Nesta semana, foi um tiro na orelha de Donald Trump que impulsionou o dólar, as criptomoedas e as ações de suas empresas. Na outra semana, foram as falas de Lula sobre as contas públicas que levantaram as taxas de câmbio e juros.
O sujeito que mexe nos juros, no câmbio e nas ações é o mercado. Um sujeito que não é oculto nem indeterminado, mas que também não é suficientemente bem compreendido.
Por trás do sujeito mercado, há inúmeras instituições e pessoas comprando e vendendo títulos, moedas estrangeiras, ações e derivativos nos mercados financeiros. Se o valor da Bolsa cai 2 pontos percentuais, não é porque essas pessoas conversaram e chegaram nesse número, e sim porque a esse valor, não tem gente demais querendo comprar, nem gente demais querendo vender.
Mercados financeiros fazem isso porque todos têm incentivos de vender se o preço estiver alto demais ou comprar se o preço estiver baixo demais. Então o mercado chega num preço que reflete uma espécie de opinião média dos participantes do mercado.
Então o mercado chega no preço correto?
Aí, é preciso separar tipos de erros diferentes nos preços financeiros.
O primeiro tipo é o erro proposital, como uma taxa de juros ou de câmbio alta demais com o intuito de derrubar um presidente. Erros significativos desse tipo são improváveis.
Pessoas em instituições que acreditam que um preço está alto demais têm muito incentivo para vender: se o preço cai lá na frente, elas ganham bastante dinheiro. Essas vendas fazem com que o preço caia e não fique alto demais.
Por exemplo, se as taxas de juros longas são maiores do que se espera das decisões futuras sobre a Selic, vale a pena comprar títulos de longo prazo (ou derivativos que tem o mesmo efeito de maneira um pouco mais complicada), o que derruba as taxas de juros.
Erros de avaliação, por outro lado, são possíveis. Eles requerem que muita gente avalie um cenário incorretamente. Isso pode acontecer, ainda mais porque quem opera no mercado financeiro tende a pensar de modo meio parecido -assim como quem dá aulas de ioga ou cria gado.
Ainda que existam erros, essas mudanças nos preços de mercado servem a um propósito importante.
Empresas e pessoas tomam diversas decisões com base nas taxas de câmbio e juros. É importante que essas taxas reflitam as informações que temos sobre a política e a economia para que essas decisões sejam condizentes com a realidade. Assim, os recursos escassos da sociedade são alocados de modo mais eficiente.
Se um presidente levanta dúvidas sobre a importância de reduzir o déficit, os juros e o câmbio se aproximam do que se espera em um cenário com déficit maior. Assim, empresas e pessoas tomam decisões com base em preços que melhor refletem o que se espera sobre o futuro.
Claro, a motivação principal dos operadores no mercado financeiro não é ajudar a sociedade a alocar recursos da melhor forma possível, é ganhar dinheiro. O mesmo tipo de consideração vale também para quem dá aulas de ioga ou cria gado.
Isso tudo quer dizer que os preços de mercado financeiro são bons indicadores do que se espera do futuro e devem ser tratados com respeito, não com veneração. Podem estar errados, mas refletem o que pensa quem ganha a vida avaliando os cenários econômicos e lucra quando acerta.