Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance. É doutor em economia pela USP
O câmbio fechou 2023 a R$ 4,9 por dólar. Na quarta-feira passada, fechou a R$ 5,4, uma desvalorização de 11,5%. Esse movimento pode ser decomposto em três intervalos: de 29 de dezembro de 2023 até 10 de maio a moeda desvalorizou-se 6,2%, saindo de R$ 4,9 para R$ 5,2; de 10 de maio até 2 de julho desvalorizou-se 10%, saindo de R$ 5,2 para R$ 5,7; e de 2 de julho até 10 de julho, quarta-feira Samuel Pessôa passada, valorizou-se 4,6%, de R$ 5,7 para R$ 5,4.
Temos, portanto quatro datas: 29/12 do ano passado, 10/5, 2/7 e 10/7; e, respectivamente, quatro cotações, R$ 4,9, R$ 5,2, R$ 5,7 e R$ 5,4.
No FGV Ibre, com meu colega Livio Ribeiro, desenvolvemos um modelo em duas etapas para desagregar, de um lado, movimentos do câmbio devidos a fundamentos externos; e, do outro, movimentos do câmbio devidos à elevação da percepção do risco no Brasil, que não estão associados a fatores externos. O modelo tenta descrever mudanças de curto prazo da cotação da moeda.
O objetivo do estudo é decompor alterações do câmbio em fatores externos e um fator doméstico. O fator doméstico é a parcela da alteração do risco país que não pode ser explicada por fatores externos.
Assim, a componente doméstica é obtida por resíduo. Há uma atribuição do resíduo aquilo que não pode ser explicado por fatores externos observados a fatores domésticos.
A decomposição sugere que o primeiro movimento, de R$ 4,9 para R$ 5,2, foi em 2/3 causado por fatores externos. De fato, como noticiado nesta Folha em meados de abril, o ministro Haddad atribuía 2/3 do movimento da moeda a fatores externos. O termômetro do ministro está bem calibrado!
jc