Atualizada às 18h24min de 04/02/2022 - Os cartazes com descontos de até 50% que decoram a vitrine não têm nada a ver com a campanha de liquidação de um dos shopping centers de Porto Alegre. O torra-torra é para reduzir estoques porque a loja do Tevah, bandeira mais tradicional de moda masculina entre os gaúchos, vai fechar em fevereiro no Praia de Belas.
A marca vai encerrar uma história de 30 anos com o empreendimento. O Tevah se instalou no local na fundação do Praia de Belas, em outubro de 1991. A operação deve se manter aberta este mês, dependendo da disponibilidade de itens. Cliente que vai à loja é informado que a previsão é ficar aberta até o dia 10. O franqueado Lúcio Costa comenta que não descartado abrir mas alguns dias.
"Estamos frechando por causa dos custos e pela queda de clientes (desde o começo da pandemia)", justifica Costa, que assumiu o ponto há 15 anos, quando a marca virou franquia. Costa foi diretor comercial do Tevah por 17 anos e acompanhou a instalação no Praia. A transformação em franquia e venda pela família fundadora ocorreu em 2006.
"Abrimos no segundo piso, em 1991, em uma loja menor e mais escondida. No começo dos anos 2000, descemos para o primeiro nível, em 130 metros quadrados de área de vendas", conta o franqueado. A loja fica em uma das esquinas com maior visibilidade do estabelecimento, ao lado da filial da Riachuelo.
Procurada pela coluna, a administração do shopping informou que não tem conhecimento que a loja vai fechar.
Sobre o fim da relação que começou na estreia do shopping, Costa resume: "A gente fica triste, temos uma carteira muito grande de clientes". Logo depois, adianta outra novidade:
"O Tevah está fechando no Praia de Belas para abrir na rua."
O fraqueado garante que já acertou a migração para um espaço fora de shopping com o gestor da franquia. A intenção é abrir na Zona Sul da Capital, possivelmente em maio, para "aproveitar o inverno e o Dia dos Pais", diz Costa, que considera a região como a mais promissora para negócios.
Marca ocupa área de 130 metros quadrados e está com desconto de até 50% em produtos. Fotos: Patrícia Comunello/JC
"Vamos ficar mais perto dos nossos clientes", aposta ele, citando que regiões mais ao Sul têm condomínios e muitas áreas novas para expansão, além de perfil de renda média e alta.
A pandemia atingiu em cheio varejos como o do Tevah. O home-office, que só começou a ser reduzido em meados do ano passado mas ainda se mantém em nível elevado, esvaziou o fluxo normal do entorno do Praia formado por juízes, desembargadores, procuradores, servidores do Judiciário em geral, advogados e outros frequentadores dos tribunais estadual, federais e do Trabalho, procuradorias, Ministério Público e Fórum de Porto Alegre.
O aluguel atual de R$ 90 mil, após reajuste pelo IGP-M, índice oficial dos aluguéis, em 2021, pesou ainda mais na decisão da loja. Costa cita que pretendia ter fechado em 2020, logo após a eclosão da crise sanitária.
"Queria entregar chaves, mas o shopping não aceitou abonar a multa contratual", recorda ele, que critica o empreendimento, pertencente ao grupo Iguatemi, dono ainda do Shopping Iguatemi, na Capital. A multa seria de quase R$ 1 milhão, segundo ele.
Costa cita que o Praia deu abatimento de 50% na locação até novembro de 2020, ano que o comércio ficou sete meses fechado, a maior parte desse tempo, e com restrição de horários. A condição era para quem estava em dia com os pagamentos.
Só que a diferença para o valor integral foi parcelada em seis vezes para ser paga em 2021, informa o lojista.
"Imagina com a queda de clientes, tinha de pagar o boleto normal e mais os parcelamentos. Não querem negociar (gestão do shopping) e não ajudaram nada", lamenta o franqueado. "Se estava difícil no normal, imagina no novo normal." Mesmo em 2021, que teve menos interrupções, a loja registrou venda 60% menores.
O fechamento este mês ocorre com o fim do contrato, diz Costa. Os seis funcionários que restaram dos 14 do período pré-pandemia foram demitidos e cumprem aviso prévio.
Tapumes desocupados em espaços de diferentes tamanhos estão em muitos pontos dos três pisos do Praia de Belas
Mesmo assim, há pendências que fizeram o empreendimento abrir processo na Justiça, acrescenta o varejista.
A coluna apurou que mais lojistas estariam analisando encerrar as atividades no empreendimento, pressionados pelos custos que subiram e as vendas abaixo de 2019, ano que é usado como base mais real de comparação, mas devem aguardar o fim dos contratos devido a multas e outros encargos.
A saída da grife de moda masculina reduz mais as opções neste segmento. Outras operações focadas em trajes, acessórios e outros itens para homens fecharam no Praia de Belas na pandemia, como a Aduana, de Porto Alegre. Também as lojas Via Veneto e Brooksfield, do mesmo grupo, viraram uma só.
Além da moda masculina, outros varejos fecharam nos últimos meses, tanto de redes nacionais, como a Polishop e Oi. Pelos corredores dos três níveis do shopping, são visíveis tapumes em pontos de diversos tamanhos que tinham operações. A coluna contou mais de 10 locais. Também há estreantes, tanto em varejos como em alimentação.
A franquia do Tevah tem hoje 23 lojas, 21 no Estado, sendo três na Capital, incluindo a do Praia de Belas. As outras duas estão no Centro e no Iguatemi.
Por nota, a gestora da marca, a Top Marcas & Franquias, disse que não falaria sobre as operações e o fechamento no Praia. Porta-voz da Top Marcas & Franquias, Valdimir Portz Machado informou que "a empresa encontra-se com dificuldades financeiras, passando por uma reestruturação geral importante". Portz observa que, após a conclusão da reestruturação, poderá se manifestar.