Teve vida curta o Book Hall, criado há 16 meses como modelo "compartilhado" para povoar o mega espaço deixado pela Livraria Cultura em um dos shopping centers do Grupo Zaffari, em Porto Alegre. A megaloja no segundo piso do Bourbon Country, que chegou a ser dividida entre seis operações, vai literalmente virar a página e sair de cena, abrindo caminho para a nova fase com apenas uma livraria. A decisão do Zaffari gerou críticas de distribuidores que estão e saída.
A Paisagem, rede novata que nasceu no Rio de Janeiro em 2021 e tem por trás a maior distribuidora de livros de arte importados do País, assinou contrato este mês com a Airaz, gestora de shoppings, centros e galerias comerciais do Zaffari, para assumir os 1,5 mil metros quadrados de área de venda - chega a 2,2 mil metros quadrados com a retaguarda -, onde é ainda o Book Hall. É o terceiro maior espaço de compra do complexo, atrás do hipermercado Bourbon e do Food Hall Country.
A virada de chave (ou folha) é neste sábado (1 de março).
O shopping tem a segunda mudança em uma grande área do complexo em poucos meses. No fim de 2024, o Food Hall Dado Bier passou a ser Food Hall Country, concluindo acordo do começo do ano que havia encerrado a parceria.
No ramo livreiro, a Capital registra expansão, com entrada de mais marcas de fora do Estado. A Livraria Travessa, também carioca, vai ter unidade no Iguatemi, vizinho ao Country, com abertura prevista para julho, ao lado da Zara.
O sócio-diretor da Paisagem, Aguimério Silva, adiantou à coluna Minuto Varejo que a cafeteria, que fechou no fim de 2024, volta com a nova fase do espaço. "Vamos usar toda a operação. O Book Hall, com mais marcas, foi um projeto positivo, para não deixar o espaço morrer. Foi uma parceria com editoras. Fizemos um bom trabalho", avalia Silva.
Espaço compartilhado, uma experiência alternativa no mega espaço, teve quatro distribuidoras
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Silva diz que a intenção é ter 200 mil livros na megaloja. Neste sábado (1), a oferta e ocupação ainda não estarão completas, pois depende da saída completa dos outros dois distribuidores. Também a fachada deve mudar mais à frente, para Paisagem. A cafeteria que tinha fechado no fim do ano voltará à megaloja e já funcionando no sábado.
Na prática, a Paisagem reforça ainda mais a presença em empreendimentos do Zaffari, maior grupo de shoppings e supermercados do Rio Grande do Sul. A rede já abriu no Moinhos Shopping, na Capital, e no Bourbon São Paulo, na capital paulista. Também terá uma unidade no novo complexo do grupo, o Bourbon Carlos Gomes, que deve ser aberto até agosto.
Último capítulo gera dissabores entre livreiros
O último capítulo do Book Hall teve reação de quem está saindo. Também fez emergir o contraste entre redes de fora e livrarias locais e o retorno do modelo de grandes áreas, como a da antiga Cultura, em detrimento a espaços menores. O Zaffari comunicou por e-mail para a AJR, dona da livraria Mania de Ler, e Santos, com 20 unidades em diversas cidades, que deveriam se retirar. A mensagem avisava que o prazo para esvaziar as prateleiras era esta sexta-feira (28).
Com aviso de troca de operador, livros foram removidos, esvaziando prateleiras
THAYNÁ WEISSBACH/JC
A movimentação de remoção de publicações começou na semana passada. O espaço vinha perdendo operações. Já tinham fechado papelaria Cervo, Sinopsys e cafeteria. O fluxo mais baixo de clientes teria influenciado as saídas.
"Quando me convidaram para abrir não sabia que era temporário. Fiz uma loja sob medida e seis meses depois me pedem para sair", lamenta Jonatas Santos, dono da Santos, que abriu em agosto no mezanino, com mais de 10 mil livros religiosos. O aporte foi de R$ 30 mil, segundo o livreiro, principalmente em estoque, que agora não teria como escoar, pois era focado no Book Hall.
"Faltou respeito", desabafa o livreiro, com lojas inclusive em shoppings do grupo. "Disseram (Zaffari) que a Paisagem fez proposta para assumir tudo. Acho que é regredir ao modelo que fracassou de áreas grandes", completa.
O sócio-diretor da paisagem disse à coluna que teve proposta do Zaffari para ocupar a área total: "Era um sonho nosso".
Cláudia Valsirene Rosa, dona da Mania de Ler, conta que as vendas tiveram queda nos meses recentes e que as operações precisavam de mais apoio para promover o espaço.
"Não está pagando a conta, mas não queria sair", admite Cláudia, que tem livrarias em três complexos do Zaffari na Capital. A livreira também comenta que a regra de cada ocupante atuar com editoras diferentes não estava dando certo, com mesmos títulos sendo vendidos e gerando concorrência. "Estava ruim dividir espaço. As pessoas daqui gostam mais do que vem de fora", lamenta Cláudia, confrontando as marcas nativas e menores com as redes que vêm ganhando terrenos nos estados.
Em nota, o grupo varejista alega que "o espaço cultural do Book Hall deverá ter gerenciamento por uma tradicional operadora". O Zaffari diz que a "nova operadora" ampliará "as opções para aficionados da boa leitura". "Essa transição beneficiará editoras, leitores e o mercado livreiro, garantindo a continuidade de um espaço icônico para a literatura em Porto Alegre", conclui a varejista, na manifestação ao Minuto Varejo.