Muita inovação, seja para melhorar a loja física ou na adoção da inteligência artificial (IA), que protagoniza disputas entre as grandes companhias de tecnologia, como nos Estados Unidos. Mas o olhar do presidente da Federação do Comércio de Bens e Serviços do RS (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, registrou um comportamento no varejo norte-americano, em meio a mais uma edição da NRF Retail's Big Show, que ele faz questão de usar como exemplo.
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"Todos se referem à 'nossa indústria do varejo', que engloba de logística, fornecedores, indústria até a ponta, como franqueados e outros modelos de loja", descreve Bohn, que esteve na missão gaúcha que foi à feira e fez visitas técnicas, ao lado da Federação Varejista do RS, CDL Porto Alegre, SindilojasPOA e Sebrae-RS.
Na conversa com a coluna, em que faz um balanço da imersão em Nova York - a NRF foi de 12 a 14 de janeiro -, o dirigente cita que os lojistas têm oportunidades usando IA, mas precisam cuidar do caixa e valorizar a loja física. Bohn também está animado com a nova edição da Feira Brasileira do Varejo (FBV), que será em maio em Porto Alegre. A novidade é a parceria inédita na co-realização entre SindilojasPOA e Sebrae-RS.
Comitiva gaúcha fez imersão em feira e lojas durante uma semana em Nova York
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Minuto Varejo - A IA vai elevar a produtividade?
Luiz Carlos Bohn - Certo que vai melhorar a produtividade e veio para gerar uma experiência fantástica, porque se você não gostou da solução, a AI, em poucos segundos, vai detalhando e indica ajustes. A tecnologia veio para ficar e ajudar da melhor maneira para ter resultados, tanto para empresas como para trabalhadores. O recado que foi trazido na NRF é que as empresas precisam começar a usar.
MV - Há diferença na condução do varejo nos Estados Unidos e no Brasil?
Bohn - Tem uma coisa muito importante que observei em Nova York: todos se referem à "nossa indústria do varejo", que engloba desde logística, fornecedores, indústria até a ponta, como franqueados e outros modelos de loja. No Brasil, cada um dos nossos líderes, seja do agro, da indústria ou do comércio, sempre se refere ao "meu setor é o mais importante". "Um país sem indústria não vive, precisa de indústria", diz o industrial. O líder do agro fala: "o Brasil só está indo bem porque tem o agro". E o do comércio, que envolve bens e serviços e com a maior fatia do Produto Interno Bruto (PIB) e mais empregos, segue o mesmo. Mas são os três juntos que formam a cadeia produtiva. Temos de começar a dizer: a nossa indústria, o nosso centro de distribuição, os nossos fornecedores, as nossas franquias. Acho que juntos somos importantes: comércio, agricultura e indústria. Temos de refletir sobre isso e espero que essa entrevista possa mexer com algumas cabeças, para que entendam que todos juntos somos importantes. No Rio Grande do Sul, as três federações sindicais empresariais estão muito afinadas e estão dando exemplo de atuação.
MV - Como o senhor vê a estreia da reforma tributária?
Bohn - Ela tem dois pilares: simplificação e neutralidade na carga. Ninguém queria pagar menos e nem mais. O que a gente está vendo? O grande risco de pagar mais, principalmente no setor terciário. O varejo terá mais carga para alguns segmentos, neutralidade em outros e redução para alguns. O risco da reforma tributária, o que ela tinha de bom foi mantido, era a transição demorada e podemos regular isso. Em 2026, vamos começar a pagar 1% da CBS. Tomara que a simplificação resulte em produtividade e que, por conta disso, tenhamos ganho. Com isso, podemos reduzir o peso do que pode acontecer com a reforma do jeito que ela está colocada.
MV - Quanto os juros serão a maior dor de cabeça do varejo este ano?
Bohn - Este ano não tem jeito. Vai ter recessão no segundo semestre. O primeiro semestre vai ser beleza, pois o desemprego continuará em baixa. O dólar deu uma cedida. Diante desse cenário, as empresas têm de estar preparadas. Não gastem demais em estoque. Não contratem empréstimos demais, porque o juros vão ficar muito altos.
MV - O que é importante para quem está na linha de frente da operação?
Bohn - A mensagem é: cuide do essencial, que é vender para quem compra com lucro. Isso tem de estar sempre no radar. Quem vende bastante, mas sem lucro, não vai receber. E cuide de um detalhe: do atendimento, da loja e do encantamento do cliente. Sabemos do desafio trazido pelas plataformas digitais, mas não esqueça que as lojas físicas têm uma grande vantagem: 78% das pessoas (pesquisa divulgada na NRF) gostariam de comprar no ponto físico, mas estão indo para a internet. Por quê? A loja tem competitividade muito grande, pois pode encantar o cliente, gerando o tão falado momento de experiência de compra.
MV - O que esperar da FBV 2025?
Bohn - A grande novidade é a co-participação do Sebrae, que era um apoiador. Devido à parceria com o Sindilojas Porto Alegre, o organismo agora é co-patrocinador e co-realizador. Dessa maneira, a gente pretende dar nova dimensão, como já temos na Mercopar, em parceria com a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). O Sebrae vai trazer mais visitantes, parceiros e palestrantes de fora do Estado. Esse formato fará realmente a diferença frente a anos anteriores.