O Natal de 2024 foi salvo pelos presentes de última hora. Passada a data, a percepção de lojistas, ainda sem uma medição de vendas do setor, é que o movimento registrado no último fim de semana e nos dois últimos dias antes da data, nesta quarta-feira (25), deram o fôlego para melhorar o desempenho.
Além disso, fontes de entidades e setores do comércio ouvidas pela coluna Minuto Varejo confirmam outras duas marcas da temporada recente de compras: antecipação de consumo na Black Friday (BF), consagrada como a melhor campanha promocional do ano, ainda sem computar o Natal, e o gasto para repor itens e resolver demanda pessoais e para familiares, ainda rescaldo da enchente do primeiro semestre.
Até mesmo o pagamento do 13º salário bem antes a data normal para muitos segmentos, devido às cheias, retirou capacidade de gasto na reta final do ano, indicam varejistas. Além disso, o rendimento extra caiu justamente no dia da Black Friday, em 29 de novembro, o que deu mais um motivo para gastos na data, mostrou pesquisa da Nielsen.
"Este ano tivemos um Natal um pouco diferente. No final de novembro e início de dezembro, tivemos um desempenho surpreendente e empolgante. Vendas parecidas com o que historicamente fizemos nos dias que antecedem a data comemorativa", observa o vice-presidente do Sindilojas Porto Alegre, Carlos Klein, lembrando que, de 5 a 15 de dezembro, "as vendas caíram muito".
"A sensação era de período normal do ano e não de mês natalino", confronta o dirigente do SindilojasPOA. Klein cita que o movimento "foi aumentando aos poucos e se intensificou muito no final de semana que antecede o Natal até a véspera".
"Estamos com vendas iguais ao dezembro de 2023", opina o vice-presidente do SindilojasPOA, citando antecipação de compras de presentes na BF e do décimo terceiro como variáveis que influenciaram a fisionomia de vendas natalinas.
Varejistas apontam que a reação foi sentida também no Centro, com lotação nas ruas antes do Natal
EVANDRO OLIVEIRA/JC
"Apesar disso, a demanda reprimida, provocada pelas perdas nas enchentes, ainda trouxe resultados positivos. As vendas de itens específicos de verão (bermudas, camisetas, camisas manga curta) tiveram incremento de 18%, equilibrando a venda na reta final", exemplifica Klein.
O presidente da CDL Porto Alegre, Irio Piva, citou também o "último momento forte do comércio", que abrangeu os quatro dias antes do Natal. A entidade já tinha previsto, em sondagem com consumidores, que quase um quarto das pessoas iria comprar na reta final da tradicional maior campanha do varejo.
"Isso surpreendeu. O Centro, por exemplo, vinha vinha esvaziado, mas a movimentação mais forte nos dias recentes pode ter chancelado crescimento de 5% a 7% nas vendas sobre o mesmo período de 2023", aposta Piva.
A entidade reforça a tese do "Natal racional", com quase nada de decoração que ativasse o "espírito da data" e a intenção de resolver as demandas mais necessárias. "O certo é que teve movimentação forte na última hora", atesta o presidente da CDL-POA. O que já entra no radar agora é o pós-Natal.
Piva admite que o botão de alerta acende "para o médio e longo prazo", ante perspectivas "preocupantes sobre o dólar altíssimo e juro em elevação". "Para o consumo, isso é terrível. O dólar afeta tudo, pois está presente nos custos das empresas", atenta Piva.
Para ele, a BF se consolidou tanto para a agenda do consumidor (que espera o período) como para o comércio físico, não só o digital. "O lojista trabalha melhor a data, não só o e-commerce, e o consumidor busca promoções. A Black Friday entrou na cultura do setor e vai crescer mais em 2025", projeta o presidente da CDL-POA.
"O Natal, em uma primeira tomada de informações, foi positivo em relação ao ano passado", comenta o presidente da Federação Varejista do RS, Ivonei Pioner, sinalizando que empresas que planejaram e se guiaram por indicadores tiveram melhor resultado.
Pioner também citou regiões turísticas com mais vendas e pontos que conseguiram envolver mais os clientes, oferecendo experiência. "O Natal de 2024 superou o de 2023, apesar das dificuldades vividas pela economia como um todo", pondera Pioner.
A coluna conversou com gestores de marcas com forte presença em Gramado e Canela, que citaram que o fluxo não estava agradando nos dias pré-Natal. Mesmo com o retorno do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, com pista completa liberada para voos em meados de dezembro, varejistas da Serra ainda não recebem a movimentacão potencial, devido ao prazo que leva para reação na venda de pacotes de viagens e também preços mais altos neste fim de ano, pela menor oferta de viagens, dizem os lojistas.