Na mira do varejo por disputarem e sugarem parte de dinheiro que poderia elevar as vendas, as apostas online, popularizadas como bets, do inglês, têm adeptos com perfil mais jovem, masculino e de renda mais baixa. Além disso, as pessoas admitem que deixam de comprar roupas para buscar a sorte, principalmente em palpites de futebol, tudo pelos aplicativos.
Estes achados estão em pesquisa que o Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (SindilojasPOA) acaba de divulgar e que a coluna Minuto Varejo traz aos leitores. O que chama a atenção é que um terço dos entrevistados é indiferente ao assunto ou não conhece. Já 41% são contrários, enquanto 23% são a favor das bets.
Foco da preocupação do comércio - a redução de gastos com itens básicos, a pesquisa mostra que 83,3% do público que aposta não deixa de fazer as compras de "itens de maior necessidade". Já "16,7% revelaram que já deixaram de comprar roupas, produtos de mercado, itens de higiene ou refeições fora de casa" para fazer a bet.
Outro tópico de alerta: o endividamento. No levantamento, 10,7% das pessoas relataram que contraíram dívidas em função das apostas - empréstimos de amigos e familiares (44,4%), cartão de crédito (22,2%) e contas de serviços essenciais, como a luz (11,1%).
Homens são mais aderentes aos jogos de azar (ou sorte), e as mulheres menos favoráveis. Apesar de as apostas estarem disseminadas por aplicativos (com apelos fortes sobre ganhos fáceis) e na mídia (anúncios), 60% das pessoas garantiram que nunca arriscaram a sorte nessas modalidades que mais tiram o sono e, tudo indica, fluxo de caixa dos lojistas.
Entre apostadores, 8% são frequentes e 13% mais esporádicos. Outros 17,3% garantiram que deixaram de fazer as bets.
Faixas de média a mais baixa de renda gastam mais. O maior valor é de R$ 255,00 de quem ganha quatro a 10 salários mínimos. Depois, vem a faixa de até dois mínimos, que destina R$ 242,00. Ganhos de 10 a 20 salários dispendem R$ 235,00, de dois a quatro mínimos, R$ 229,00, e os mais abonados, com renda acima de 20 salários mínimos, aplicam R$ 156,00.
O gasto médio anual com apostas é de R$ 249,00 por pessoa. O valor é bancado com renda principal (71,4%) - 25% dos que usaram esse recurso perderam dinheiro -, como salário (52,4%), renda que sobra (27,4%) e renda extra (20,2%). Um dado preocupante é que 4,8% relataram usar o Bolsa Família para apostar.
Mais jovens são mais "clientes" das apostas. Segundo o sindicato, 35% da chamada Geração Z, de 18 a 29 anos, disseram "apostar ocasionalmente ou frequentemente". Já 28,5% dos Millennials ou Y, 30 até os 40 anos, já fizeram alguma investida.
Futebol lidera entre segmentos de apostas, segundo 53,6% dos entrevistados. Jogos de cassino (52,4%), como caça-níqueis, e ao vivo, como poker e cartas (20,2%). Times e jogador de futebol é o que leva às bets, e o que menos justifica as tentativas de ganhar algo é o motivo financeiro.
O presidente do Sindilojas POA, Arcione Piva, destaca, em nota, que o “uso do dinheiro para apostas em vez de consumo impacta o comércio e a economia local". Rodrigo de Assis, economista do Sindilojas Porto Alegre, alerta para as faixas que mais gastam: “As finanças pessoais têm sofrido um descuido, comprometendo famílias”, atenta Assis.
Outros achados da pesquisa do SindilojasPOA sobre bets:
Pagamento: Pix (90,5%), cartão de crédito (13,1%) e transferência bancária (7,1%).
Por que aposta: envolvimento com atletas ou times favoritos (45,2%), hobby (34,5%), influência de amigos, parentes ou influenciadores (25%) e por necessidade financeira (19%).
Segurança das plataformas de apostas: "nem confia nem desconfia" (48,8%), confiam (40,5%) e desconfia (7,1%).
Por que nunca apostou: falta de interesse (58,3%), desconfiança nas plataformas (32,8%), medo de vício (19,4%), desinteresse por esportes (17,8%) e falta de dinheiro (11,3%).
Pode apostar: não pretende (57,9%) e se tivesse maior transparência das políticas de segurança (17,1%).
Valor apostado: 32,1% mantiveram o mesmo nível em 2024 e 25% aumentaram levemente o volume de apostas e 34,6% apostaram menos.