Os números da maior varejista de moda do Brasil, a gaúcha Lojas Renner, vieram ainda mais "azuis" no terceiro trimestre de 2024. No balanço divulgado nessa quinta-feira (7), o lucro líquido ficou 47,7% acima do mesmo trimestre de 2023, e as vendas de vestuário subiram 13%, dobro da média do setor, com base na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de agosto, do IBGE. Mas chamou a atenção o destaque que foi dado ao impacto do uso de inteligência artificial (IA) no desempenho.
"Através do uso de IA, capturamos tendências de forma ágil e precisa, por meio de um ciclo de desenvolvimento de produtos mais curto e maior produtividade e eficiência da cadeia de fornecimento", assinalou o CEO Fabio Faccio, em sua "Mensagem do CEO", texto que passou a integrar a divulgação dos dados desde o segundo trimestre deste ano (pela checagem da coluna sobre balanços anteriores).
Voltando aos números: o lucro foi de R$ 255,3 milhões ante R$ 172,9 milhões do mesmo período de 2023. A receita líquida total do varejo somou R$ 2,9 bilhões, alta de 12,1%, ante R$ 2,6 bilhões do mesmo ciclo do ano passado. Vendas digitais (GMV, Gross Merchandise Value, ou valor bruto das mercadorias), que formam o grande elo de omniocanalidade no negócio da companhia, cresceram mais: R$ 656,1 milhões, 23% acima do mesmo período de 2023.
O EBITDA total ajustado com crescimento de 59% e aumento de 5,7 pontos percentuais na margem. O caixa ficou em R$ 2,6 bilhões, o caixa líquido fechou em R$ 1,4 bilhão e o caixa livre é de R$ 412 milhões. A marca tem uma base de clientes ativos de 19,3 milhões.
Nas bandeiras, a Renner (que engloba a Ashua) respondeu por 93% da receita, somando R$ 2,7 bilhões - alta de 11,6% -, seguida por Camicado, com R$ 134,2 milhões, mais 12,5%, e Youcom, com R$ 116 milhões, elevação de 27,2%.
Varejista assinala que mais agilidade para formar e ofertar coleções puxou desempenho
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Mas é interessante trazer os motivos que lastrearam os resultados, após percalços que vinham atrapalhando as entregas da companhia: formação de preço, inadimplência na carteira da financeira (Realize) e operação do novo e gigante centro de distribuição (CD). Estes fatores influenciaram no desempenho de trimestres em 2023 e exigiram ajustes na largada de 2024.
As cheias no Rio Grande do Sul, onde a marca tem maior número de filiais, não chegaram a afetar o desempenho geral do segundo trimestre, que teve o bônus do cima para acertar as coleções, além de agilidade para dar conta da dinâmica do fluxo nas lojas (entre físicas e digitais). Este detalhe é ligado à operação mais azeitada do CD em Cabreúva, em São Paulo.
Na "Mensagem do CEO", que abre o relatório com o resumo de dados e destaques de como foi o período, Faccio, que sucedeu José Galló no cargo, apontou uma "forte execução de moda" como um dos trunfos opara vender mais, apoiada pela estrutura mais robusta de logística. Além disso, na loja física, a tecnologia reduz fricção.
A expansão de caixas de autoatendimento, com uso de RFID para ler etiquetas dos produtos (a Renner foi pioneira), hoje em cerca de 250 lojas, reduz filas e impacta em maior venda por metro quadrado, diz a varejista. E, outro efeito, mais satisfação dos clientes, segundo medições feitas nos pontos.
Sobre o segundo trimestre, Faccio já havia usado o adjetivo "sólido" para qualificar a entrega, com "crescimento tanto de volume quanto de rentabilidade". "Isso foi fruto do avanço contínuo do nosso novo modelo de negócio e das diversas iniciativas que implementamos, incluindo investimentos em TI, dados e inteligência artificial, para reforçar nossa produtividade e competitividade", escreveu o CEO.
Na gestão de crédito, área sensível devido aos índices de atrasos e custo que o mercado em geral tem registrado, a Renner indicou melhoria na originação, associada a "modelos de crédito e cobrança implementados". "Esses modelos seguirão contribuindo para a melhora do perfil de risco da Realize e sua relevância como impulsionadora do varejo", ressaltou Faccio.
E o futuro? Na "Mensagem do CEO", algumas pistas são dadas: "Concluímos o período de investimento mais significativo da nossa história para evolução do nosso modelo de negócios e entramos em uma próxima fase", comenta Facico. Nos próximos trimestres, o executivo espera ter frutos de um "ciclo renovado de crescimento e rentabilidade sem a necessidade de investimentos relevantes em infraestrutura".
Para o último trimestre do ano, a companhia espera que as condições que alicerçaram os dois últimos ciclos estejam presentes para dar "flexibilidade, precisão e agilidade do modelo" para manter "crescimento, rentabilidade e geração de caixa".
Não vão faltar desafios e concorrentes para a varejista brasileira. Players internacionais vão entrar, como a inglesa H&M, em fim de 2025, com foco no Sudeste, ou ampliar a busca por clientes e vendas. E tem ainda a sombra das aguerridas competidoras chinesas e de outros mercados asiáticos.