O consumidor brasileiro está mais atento a temas como proteção de dados, agenda do clima e ações em relação a produtos sustentáveis e destinação de resíduos. Estes itens pesam mais na cesta de confiança ao escolher marcas e onde comprar.
O perfil mais exigente se descola da média de outros países, segundo pesquisa global da consultoria PwC e que indicou caminhos que varejistas podem ficar plugados para entender o negócio e conseguir literalmente conversar com os potenciais públicos. "É essencial manter as prioridades alinhadas e sempre tentar se antecipar às tendências, principalmente diante das rápidas mudanças no mercado", atenta a sócia e líder da indústria de Consumo e Varejo na PwC Brasil, Luciana Medeiros, em nota à coluna Minuto Varejo.
A pesquisa "Voz do Consumidor", aplicada pela consultoria a mais de 20 mil consumidores em 31 países, faz um checklist de temas que ronda a vida das pessoas. O uso de dados pessoais pelo comércio e pelos serviços, que ganha mais relevância na cena nacional devido à aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) brasileira, subiu a escala de atenção muito pela emergência de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA), cuja matéria-prima é informação m grande volume.
A hiperpersonalização, outro movimento que também pauta muitos empreendedores em busca de melhor retorno da operação, coloca no centro a gestão de perfil e conhecimento de clientes. Mas é importante colocar atenção na gestão dos dados: 86% das pessoas dizem que exigem garantias de que as informações não serão compartilhadas, mas 59% não sabem bem como seus dados são armazenados e o destino.
A PwC mostra que a os brasileiros levam muito mais em conta a confiança no uso das informações que a média do quadro pesquisado. Esta condição na relação com os locais ou marcas dos quais as pessoas consomem é apontada por 90% das pessoas. Na média de todos os países, o tema é indicado por 83% dos entrevistados.
Sobre as mudanças climáticas, 94% dos brasileiros e 85% dos consumidores no mundo sentem as alterações em seu dia a dia. Desses impactos, 47% das pessoas no País dizem que compram mais produtos sustentáveis pensando em ajudar a reduzir os danos ao ambiente. O uso de IA divide opiniões, como a substituição do ser humano em muitas funções.
"Não dispensem o elemento humano", recomenda a sócia da PwC, na análise dos achados da pesquisa. Também as redes sociais colhem algumas reservas. Mas a evolução e uso dos canais digitais para compras crescem, pela comparação da nova apuração com anteriores. Em 2024, 49% dos brasileiros (46% no mundo) recorrem às plataformas, ante 21% de 2019. As pessoas também se pautam cada vez mais pela "voz das redes".
Descobertas e avaliações que transitam pelo universo on-line são feitas por 78% dos brasileiros, enquanto, na média, 67% das pessoas buscam as referências.
"Os dados dos consumidores são diamantes, mas eles precisam ser bem trabalhados. Uma abordagem muito agressiva pode afastar o consumidor da sua marca", pontua Luciana, ao avaliar as razões de maior rejeição ou reserva de segmentos com determinadas marcas.
A executiva de varejo da Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, Daiane Quesada, alerta que o que vai fazer a diferença na condução de campanhas das marcas é como é a comunicação com os consumidores. "Vai além do que as empresas vão comunicar", cita ela. Entender os fluxos e como as pessoas tomam decisão pode guiar as ações sobre de produtos e serviços. Dois dados mostram o peso do digital: o brasileiro é o maior usuário no mundo de WhatsApp e é o que mais tempo fica em redes sociais, mais de cinco horas por dia, reforça Guga Schifino, sênior advisor da Linx Stone e co-fundador da FFX.
Schifino é crítico de lojistas que resistem a perceber o valor do online e atenta que o fator local, o comprar de negócios onde as pessoas residem, ganha mais relevância. "É fundamental a nossa marca, a convivência e o apelo com o cliente na cidade onde ele está. Isso vai fazer o varejo prosperar na rede social com altíssima competitividade", orienta o co-fundador da FFX. A Meta apurou em pesquisa que 78% dos usuários querem comprar do comércio de vizinhança.
Um tema que despontou no estudo da PwC também é citado por Schifino e tem relação com compras e retorno de itens aos vendedores. "De tudo que é vendido pela internet, 12% hoje retorna. E ainda tem varejista despreocupados com a lógica de logística reversa", inquieta-se o especialista.
Outra influência da rede social está ligada à Black Friday. Daiane adverte que os consumidores lembram de itens que estavam em oferta na campanha de 2023. Esse registro pode ser considerado na ação deste ano. Um alerta: "As pesquisas de promoções começam a ficar super aquecidas no início de novembro", cita a executiva da Meta. "Na hora da Black Friday (29 de novembro), tem queda nas buscas porque as pessoas já estão decididas", explica Daiane. Isso valida o que já vem sendo uma máxima no varejo. Não é mais campanha de um dia de descontos, mas de um mês inteiro. As pessoas também estão valorizando mais o dinheiro que têm, reforçando o que a pesquisa da PwC indicou sobre o temor da inflação, que atinge do Brasil aos Estados Unidos, ciclo recente de alta de preços que começou na pandemia de Covid-19,