Maquininha de cartão, computador, móveis, mercadorias, loja fechada. A cheia de maio deste ano afetou o coração das operações de comércio e serviços. A retomada teve diferentes ações e estratégias deram a largada na Expoagas 2024, nesta terça-feira (20), no Centro de Eventos da Fiergs, na Zona Norte de Porto Alegre.
No palco da Arena do Conhecimento, palco montado este ano em substituição ao Teatro do Sesi, fechado devido aos danos da enchente que inundou a área da federação das indústrias, o painel com participantes de quatro segmentos - de supermercado, banco, lojas a restaurante - reforçou a pegada da edição da feira, de superação. O recado mais contundente foi feito justamente por uma integrante do varejo supermercadista:
"A superação é resultado de muitas ações. Estamos vivos e com capacidade para fazer tudo isso", avisou Roberta Barreto, diretora da rede Codebal, situada em Eldorado do Sul, e presidente da Agas Jovem.
A jovem listou os impactos da cheia, que fechou três unidades, duas pela inundação e uma por ter sido completamente saqueada. Uma ainda não foi reaberta pela incerteza sobre riscos de nova cheia. Roberta observou que a família conseguiu reabrir as unidades com capital próprio e apoio de fornecedores. "Até concorrentes nos ajudaram. No meio do caos, há os que param. Nós não paramos", recorda ela.
A diretora da Codebal apontou que o acesso a empréstimos foi limitado, mas lembrou que é crédito que terá de pagar. Para a varejista, a melhor medida foi o apoio para pagar a folha de salários. "Nossa esperança é que o governo prorrogue o benefício de um salário mínimo para empresas na mancha (áreas com cheias)", destacou ela, que pontuou uma preocupação:
"Escuto que o dique será construído. Nós continuamos injetando recursos na economia, mas precisamos de segurança e infraestrutura. O resto a gente faz", garantiu Roberta.
Roberta, Geremia, Drebes e Lemos (esq. p/ dir.) destacaram impactos e ações pós-cheias
TÂNIA MEINERZ/JC
"Trocamos mais de 4 mil POS (maquininhas de registro de compras com cartões) de estabelecimentos atingidos pela enchente. Nas cheias, mais de 30 mil POS ficaram fora do ar", citou Lemos, lembrando que a substituição dos equipamento perdidos foram sem custo para os varejistas. Mesmo sem ter os números divulgados do balanço do segundo trimestre de 2024, o presidente do banco citou que o período "vem com crescimento e mostra capacidade dos ativos" da instituição.
"O Banrisul é a maior empresa de capital aberto no Estado e havia a preocupação com a situação do banco devido à operação majoritária no mercado gaúcho", comentou o dirigente. O banco também foi atingido em sua operação física. A sede, no Centro de Porto Alegre, foi inundada, com danos a estruturas de tecnologia de informação (TI) e demais instalações. "Ficamos 60 dias fechados", detalhou.
Com o peso de ser repassador de recursos de grandes instituições, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lemos citou que o Banrisul tem carteira de R$ 7 bilhões para repassar e já aprovou R$ 1 bilhão. Mais de 4 mil empresas já teriam obtido aprovação, com liberação até agora de R$ 400 milhões.
Sobre queixas de setores de dificuldades de aprovar financiamento, muito por limites devido à negativação de cadastro.
"A CND (Certidão Negativa de Créditos) é exigência de Receita Federal. O Banrisul quer atender todos, mas tem regras do sistema bancário a seguir", justificou o presidente, que lamentou que o banco obteve menos recursos que o solicitado das linhas federais: "A opção política foi por uma instituição que fica em Brasília".
O dono da rede de galeterias Di Paolo e presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Paulo Geremia, destacou os impactos maiores nas estruturas das unidades, com efeito ainda para turismo e negócios do fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho para voos desde 3 de maio, com previsão de reabertura em 21 de outubro.
Na Di Paolo, a direção aproveitou até mesmo para atualizar da configuração. "Foi um projeto de oportunidade. Reabrimos em 28 dias", indicou o empresário. A loja é do Boulevard Laçador, ao lado do aeroporto, que foi todo inundado. Para dar mais segurança a empresas, Geremia cobrou recursos financeiros e plano de contenção "para evitar que nova enchente faça estragos".
O presidente da Lebes, Otelmo Drebes, relembrou que sua primeira atitude foi ligar para os principais fornecedores e pedir prazo. "Nos concentramos no apoio a funcionários que perderam tudo e clientes. Vendemos 70% por crédito. Não ligamos para os clientes com prestações atrasadas. Muitos tinham perdido a casa, com móveis comprados nas nossas lojas", explica Drebes. "Imagina ligar para eles", disse o varejista. "A inadimplência subiu, reduziu em junho e julho e em agosto está no nível do pré-maio".