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Patrícia Comunello

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Publicada em 11 de Agosto de 2024 às 18:50

"Vamos nos reerguer", diz presidente de rede de supermercado pós-cheias

Formenton diz que sócios usaram recursos próprios para reabrir lojas com negativa de BNDES

Formenton diz que sócios usaram recursos próprios para reabrir lojas com negativa de BNDES

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
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"Se é para cair, vamos cair atirando." Quando o dirigente de uma das maiores redes de super mercado gaúcha ouviu a frase do filho de 22 anos só teve um pensamento: “Vamos nos reerguer”.
"Se é para cair, vamos cair atirando." Quando o dirigente de uma das maiores redes de super mercado gaúcha ouviu a frase do filho de 22 anos só teve um pensamento: “Vamos nos reerguer”.

LEIA MAIS: Rede que teve 70% da operação fechada pela enchente reabre 1ª loja

O presidente da Unisuper, Sandro Formenton, chorou ao relembrar para a coluna Minuto Varejo como foi ver nove das 22 lojas inundadas pelas águas em 4 de maio. O drama do varejista não foi exceção. Talvez o tombo, sim, pode ter sido um dos maiores do setor.
"Perdemos as lojas que mais faturavam, que respondem por mais de 70% da receita total”, contabiliza. A rede faturou R$ 885 milhões em 2023.
Quinta-feira passada, o presidente, o filho Gabriel e funcionários reabriram a primeira loja das duas fechadas em Porto Alegre. Faltam ainda oito. A unidade que voltou ao dia a dia da vizinhança no bairro São Geraldo, no Quarto Distrito, fica na avenida Brasil, 1183, inaugurada em 2022 e considerada a loja conceito da rede.
“Vamos abrir uma a cada 15 dias”, adianta o dirigente. O varejista lamenta, porém, não ter conseguido nenhum crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O banco pediu nosso Patrimônio Líquido (PL) de 2023, que foi negativo. Foi a barreira. Não olharam os empregos que geramos.”
Minuto Varejo - O que significou a reabertura da primeira loja?
Sandro Formenton - Sofremos muito para retomar. O estrago foi muito grande. Para todo mundo, é um recomeço. Uma força que tiramos nem sei da onde para recriar o negócio, re-cri-ar. Neste processo, vamos manter todas as lojas. Queremos reabrir uma a cada 15 dias. São duas na Capital e sete em Canoas das 13 que temos (três no Rio Branco, uma no Harmonia e três no Mathias Velho afetadas). Trocamos o CD para outro endereço, para um local mais alto, que já opera desde começo de agosto. Alagou ali, mas pegou menos água que outros.  
MV - Qual é o tamanho da conta para recolocar a rede de volta ao seu tamanho?  
Formenton - A perda foi de R$ 39 milhões em mercadorias. A projeção é de gastarmos R$ 50 milhões a R$ 52 milhões nas reformas (lojas e CD, que teve quase 5,5 metros de água). São cerca de R$ 90 milhões em tudo. A demora na retomada se deve à falta de recursos. Não tivemos nenhum tipo de ajuda ou acesso ao financiamento do BNDES. Para este início, é capital das cinco famílias acionistas. Todo mundo está colocando suas economias e não temos dinheiro suficiente, nem para reabrir a metade.  
MV - Por que não conseguiram o crédito? 
Formenton - Não sei. Fizemos o cadastro para buscar o valor total. Apresentamos toda a documentação pedida. O banco olhou para a empresa e não sei o que não enxergou. O crédito não foi aprovado. O governo diz na mídia que ajuda e ajuda, mas conto nos dedos amigos empresários que conseguiram algo. O único apoio foi fazer o lay-off de mais de 500 funcionários (são 1,2 mil no total) para seguro-desemprego, mas que em dois meses vamos ter de garantir o emprego de todos. Este é o nosso desfio e caos. Se não conseguir reabrir as lojas, vais ter desemprego e bastante após dois meses do retorno deles.    
MV - O que eles indicaram como motivo?
Formenton - Nada. A única coisa que disseram é que, como em 2022 e 2023 não tivemos resultado positivo (efeito da fusão e mudança societária em 2021) - mesmo sem dever nada -, isso teria sido a barreira. Não pediram garantia nem nada. Alegaram que o PL tinha sido negativo. Seguiram a regra do banco. Não olham quantos empregos geramos e que não temos nada em atraso (bancos ou tributos).
MV - Este ano qual era a previsão de receita e com bancos comerciais?
Formenton - Este ano íamos ter o mesmo desempenho, mais a inflação. A empresa é saudável. Com os bancos, temos crédito, mas o prazo é mais curto e o juro mais alto. Não posso pegar recurso vendendo R$ 40 milhões a menos por mês. Preciso agora dinheiro mais barato e prazo, mas não vamos ter. Tivemos reunião com o ministro Paulo Pimenta, a equipe dele se esforçou, mas não conseguiu nos ajudar.
MV - Qual foi o momento mais difícil?
Formenton - (pausa, voz embargada). Difícil responder. Dia 4 de maio enxergar tudo dentro da água. São 24 anos trabalhando, começamos com um armazém de 50 metros quadrados. Não é mole. 
MV - Chegou a cogitar de desistir devido ao tamanho do impacto?
Formenton - Os primeiros dias são difíceis. Aí tu pensa: precisava ser tão pesado? Tenho uma família guerreira e sócios e funcionários gigantes. O meu filho de 22 anos disse para mim: "Pai, se é para cair, vamos cair atirando. Vamos levantar a cabeça e trabalhar". É o que estamos fazendo.

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