"Se é para cair, vamos cair atirando." Quando o dirigente de uma das maiores redes de super mercado gaúcha ouviu a frase do filho de 22 anos só teve um pensamento: “Vamos nos reerguer”.
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O presidente da Unisuper, Sandro Formenton, chorou ao relembrar para a coluna Minuto Varejo como foi ver nove das 22 lojas inundadas pelas águas em 4 de maio. O drama do varejista não foi exceção. Talvez o tombo, sim, pode ter sido um dos maiores do setor.
"Perdemos as lojas que mais faturavam, que respondem por mais de 70% da receita total”, contabiliza. A rede faturou R$ 885 milhões em 2023.
Quinta-feira passada, o presidente, o filho Gabriel e funcionários reabriram a
primeira loja das duas fechadas em Porto Alegre. Faltam ainda oito. A unidade que voltou ao dia a dia da vizinhança no bairro
São Geraldo, no Quarto Distrito, fica na avenida Brasil, 1183,
inaugurada em 2022 e considerada a loja conceito da rede.
“Vamos abrir uma a cada 15 dias”, adianta o dirigente. O varejista lamenta, porém, não ter conseguido nenhum crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O banco pediu nosso Patrimônio Líquido (PL) de 2023, que foi negativo. Foi a barreira. Não olharam os empregos que geramos.”
Minuto Varejo - O que significou a reabertura da primeira loja?
Sandro Formenton - Sofremos muito para retomar. O estrago foi muito grande. Para todo mundo, é um recomeço. Uma força que tiramos nem sei da onde para recriar o negócio, re-cri-ar. Neste processo, vamos manter todas as lojas. Queremos reabrir uma a cada 15 dias. São duas na Capital e sete em Canoas das 13 que temos (três no Rio Branco, uma no Harmonia e três no Mathias Velho afetadas). Trocamos o CD para outro endereço, para um local mais alto, que já opera desde começo de agosto. Alagou ali, mas pegou menos água que outros.
MV - Qual é o tamanho da conta para recolocar a rede de volta ao seu tamanho?
Formenton - A perda foi de R$ 39 milhões em mercadorias. A projeção é de gastarmos R$ 50 milhões a R$ 52 milhões nas reformas (lojas e CD, que teve quase 5,5 metros de água). São cerca de R$ 90 milhões em tudo. A demora na retomada se deve à falta de recursos. Não tivemos nenhum tipo de ajuda ou acesso ao financiamento do BNDES. Para este início, é capital das cinco famílias acionistas. Todo mundo está colocando suas economias e não temos dinheiro suficiente, nem para reabrir a metade.
MV - Por que não conseguiram o crédito?
Formenton - Não sei. Fizemos o cadastro para buscar o valor total. Apresentamos toda a documentação pedida. O banco olhou para a empresa e não sei o que não enxergou. O crédito não foi aprovado. O governo diz na mídia que ajuda e ajuda, mas conto nos dedos amigos empresários que conseguiram algo. O único apoio foi fazer o lay-off de mais de 500 funcionários (são 1,2 mil no total) para seguro-desemprego, mas que em dois meses vamos ter de garantir o emprego de todos. Este é o nosso desfio e caos. Se não conseguir reabrir as lojas, vais ter desemprego e bastante após dois meses do retorno deles.
MV - O que eles indicaram como motivo?
Formenton - Nada. A única coisa que disseram é que, como em 2022 e 2023 não tivemos resultado positivo (efeito da fusão e mudança societária em 2021) - mesmo sem dever nada -, isso teria sido a barreira. Não pediram garantia nem nada. Alegaram que o PL tinha sido negativo. Seguiram a regra do banco. Não olham quantos empregos geramos e que não temos nada em atraso (bancos ou tributos).
MV - Este ano qual era a previsão de receita e com bancos comerciais?
Formenton - Este ano íamos ter o mesmo desempenho, mais a inflação. A empresa é saudável. Com os bancos, temos crédito, mas o prazo é mais curto e o juro mais alto. Não posso pegar recurso vendendo R$ 40 milhões a menos por mês. Preciso agora dinheiro mais barato e prazo, mas não vamos ter. Tivemos reunião com o ministro Paulo Pimenta, a equipe dele se esforçou, mas não conseguiu nos ajudar.
MV - Qual foi o momento mais difícil?
Formenton - (pausa, voz embargada). Difícil responder. Dia 4 de maio enxergar tudo dentro da água. São 24 anos trabalhando, começamos com um armazém de 50 metros quadrados. Não é mole.
MV - Chegou a cogitar de desistir devido ao tamanho do impacto?
Formenton - Os primeiros dias são difíceis. Aí tu pensa: precisava ser tão pesado? Tenho uma família guerreira e sócios e funcionários gigantes. O meu filho de 22 anos disse para mim: "Pai, se é para cair, vamos cair atirando. Vamos levantar a cabeça e trabalhar". É o que estamos fazendo.