O Rio Grande do Sul tem quase 70 mil pessoas em abrigos mais de 100 dias após as cheias históricas. Sem contar que há muita gente residindo com familiares ou amigos por não poderem retornar às moradias que sofreram danos extensos ou não existem mais. Paradoxalmente, tem um fabricante gaúcho de casas temporárias e permanentes que não entregou nenhuma unidade. Ainda.
"Há um mês diria que íamos ter grande demanda porque todos falavam em reconstrução das áreas atingidas. Mas parece que nada disso aconteceu (desse clima de reconstrução). Não montamos nenhuma casa até agora", lamenta Júlio César Delfino, diretor comercial e um dos sócios da Modutech, com sede em Esteio, na Região Metropolitana, que faz parte do integra o grupo Colmeia, com 80 funcionários.
Para reforçar a competitividade no segmento, Delfino cita que a empresa implanta moradias que compõem empreendimentos estilo resort, para residentes de usinas hidrelétricas ou outros tipos de projetos de complexos industriais, mas no Nordeste. Mas a abertura de mercado no Estado ainda está devagar, avisa o diretor comercial.
"Conseguimos montar uma casa em poucas horas", lista o empresário. As unidades são modulares, por isso se ajustam às necessidades e ambientes variados. A empresa também atua com montagem de hospitais, escolas e ambulatórios.
"Já fizemos pousadas inteiras, estilo resort, em usinas na Bahia e em outros estados. Até creche estamos enviando para Minas Gerais", descreve Delfino, que com o irmão Guilherme dirige o negócio que foi montado pelo pai, Júlio Delfino, há 30 anos.
Unidades são transportadas até o destino em módulos e montadas em poucas horas
MODUTECH/DIVULGAÇÃO/JC
A empresa vem sendo sondada por prefeituras que preparam licitações e organizações não governamentais (ONGs) que estão engajadas na ajuda a comunidades. Delfino acredita que estas demandas podem resultar em encomendas futuras. Os empreendedores também conversam com áreas do governo, como Secretaria da Educação, para projetos escolares.
Mesmo com demanda de unidades "temporárias", Delfino lembra que os modelos da empresa podem podem "ficar para sempre". "Nossas moradias seguem normas de eficiência térmica e podem ser usadas mais de 100 anos", comenta o diretor comercial, acrescentando que a fábrica tem opções de uso temporário.
Em meio ao cenário e as demandas pós-cheias, a Modutech desenvolveu projeto para acelerar a produção e a montagem das moradias. Delfino explica que consegue fazer mais de uma casa por dia na sede em Esteio. "Para entregar 50 casas ou uma é o mesmo prazo. Em 90 dias, conseguimos entregar 100", garante ele. As unidades são transportadas em módulos ao destino. "A montagem no destino leva poucas horas", destaca ele.
Os preços das permanentes vão de R$ 105 mil, com 28 metros quadrados, a R$ 145 mil, com 42 metros quadrados. "Os moradores podem escolher a cor e ainda ampliar o espaço, com mais módulos, para ter mais dormitórios ou ambientes", sugere Delfino. O modelo temporário tem 14 metros quadrados e custa R$ 42 mil, com vida útil de 50 anos.
Outro detalhe importante: a Modutech tem pequenos e médios fornecedores locais para a maioria dos componentes, como telhado e tens usados na montagem, o que permitiu reduzir custos em até 10% para facilitar as aquisições. As estruturas mais robustas são de fabricantes nacionais - termo painel, do Paraná, e o aço, da Gerdau.