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Patrícia Comunello

Patrícia Comunello

Publicada em 15 de Julho de 2024 às 20:44

10 negócios fechados pela enchente reabrem diferentes no RS

Daniela perdeu o sonho que foi montar o salão em 2022 e vê-lo arrasado em 2024

Daniela perdeu o sonho que foi montar o salão em 2022 e vê-lo arrasado em 2024

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
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Patrícia Comunello
Patrícia Comunello
O sonho não acabou para uma seleção de 10 marcas ligadas ao varejo retratadas pela coluna Minuto Varejo e que ilustram negócios afetados pela enchente histórica de maio, que, além da mancha da água na parede, demarcou mudanças.
O sonho não acabou para uma seleção de 10 marcas ligadas ao varejo retratadas pela coluna Minuto Varejo e que ilustram negócios afetados pela enchente histórica de maio, que, além da mancha da água na parede, demarcou mudanças.
As histórias a seguir servem de guia a empreendedores atrás de saídas. Uma das protagonistas desse momento histórico é Daniela Bica Aprato, que teve o salão montado em 2023 destruído pela inundação no Quarto Distrito. "Era meu sonho", disse ela, nas redes sociais. Mas dois meses depois, Dani está prestes a abrir seu novo ponto, mas agora em uma das cidades da Região Metropolitana.   
Mas nem tudo se encaminha para rumos promissores. O Sebrae-RS faz um alerta, mais de dois meses após os eventos climáticos, em sua Pesquisa de Impacto das Enchentes no RS: 35,7% das empresas afetadas não reabriram ainda e 25% parcialmente. Já 82% precisam de crédito, mas 77% desconhecem as linhas. Quase 70% precisa de até R$ 50 mil para renascer. Impossível?

1. Café do Mercado: precavido e em expansão

"Tem de ser louco mesmo", diz Althaus sobre os desafios para recompor as operações e investir

/PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"Volta com tudo!", dá o tom Clovis Althaus Júnior, sócio-proprietário da Café do Mercado, no Mercado Público de Porto Alegre, que teve água acima de 1,7 metro. A cafeteria ficou dois meses fechada e voltou diferente. Paredes com cor mais aconchegante e cadeiras de plástico. "Vai que inunda de novo", justifica Althaus. A empresa perdeu parte do mobiliário e teve dano no maquinário importado. O espaço acomodou o café moído na hora para levar para fazer em casa - até voltar a banca mais antiga da marca. A cafeteria menor, acessada pelo Largo Glênio Peres, vai demorar a reabrir. Já a fábrica, no 4º Distrito, coração da operação, voltou a fazer torrefação e abastecer varejos em todo o Brasil. Agora, a Café vem outro desafio: montar a cafeteria no Praia de Belas Shopping, que estreia até dezembro. "Tem de ser louco mesmo", descontrai Althaus, sobre empreendedores que não desistem nunca. 

2. Cris Boaretto: araras compartilhadas

Cris dedicou uam das araras de modelos para venda, com receita que vai ajudar costureiras

Cris dedicou uam das araras de modelos para venda, com receita que vai ajudar costureiras

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
A inundação atingiu o coração da marca da designer de moda Cris Boaretto, com duas lojas em Porto Alegre, uma, a mais recente, na região do Iguatemi, foi aposta nos modelos de alfaiataria. "Nossa fábrica era em Canoas, a água atingiu máquinas de costura e meus moldes da coleção de Primavera-Verão", descreve a lojista, que, enquanto tentava salvar os desenhos em papel, também decidiu se mobilizar para ajudar as costureiras a reconstruir a casa. Cris é uma empreendedora de referência, sempre antenada com novidades, uso de mídia, vendas on-line e modelo de negócio. "Ela dependem de mim e eu delas", resumiu a designer. De pronto, Cris fez campanhas para venda de modelos, cuja renda se destinou às profissionais. Para repor coleção, ela tenta recuperar moldes. Apostou forte nos modelos para inverno. A designer de alfaiataria não para de traçar a retomada.
 

3. Intense Sobrancelhas: o sonho não acabou

Daniela deixou para traz o antigo ponto na Capital e terá nova operação em Esteio: "Bem feliz"

Daniela deixou para traz o antigo ponto na Capital e terá nova operação em Esteio: "Bem feliz"

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"Tô tremendo toda. Não sobrou nada." Foi assim que a jovem Daniela Bica Aprato descreveu, em vídeo postado nas redes sociais, a cena que encontrou ao voltar em fim de maio, após a água baixar, ao salão da Intense Sobrancelhas, na Zona Norte de Porto Alegre. "É muito triste. Meu sonho acabou", resumiu Dani. Ela tinha aberto o negócio próprio um ano antes. Da operação, ela não conseguiu salvar nada. A microempreendedora decidiu deixar a Capital e montar a Intense em Esteio, onde mora. "O Quarto Distrito estava crescendo, mas não dá para continuar aqui", lamenta. Em Esteio, o novo ponto volta em julho, depois da ajuda de parentes e amigos e de R$ 10 mil do Sebraetec, a fundo perdido, e parte de Pronampe. "Estou empolgada e agora mais feliz."

4. Comercial Martini: "loxinha" movida à solidariedade

"É uma onda muito bacana que está acontecendo", resume Adriana, sobre os clientes

"É uma onda muito bacana que está acontecendo", resume Adriana, sobre os clientes

/PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"O rio estando no leito dele, a gente já fica bem." Frase que diz tudo e é assinada pela mercadeira Adriana Kauer, com sua "loxinha", a Comercial Martini, de confeitos e embalagens, no Mercado Público da Capital, que foi coberta pela água. Adriana reabriu o ponto 45 dias após a inundação cobrir a "loxinha". "Novo de novo", resume ela, que tinha estreado nova área da loja familiar, de mais de 40 anos. A mercadeira perdeu ainda todo o estoque, que ficava em outro prédio, perto do Centro e que foi arrasado pela água. Tem estoque ainda limitado? "Tem", confirma ela. Tem dívida? "Quase R$ 2 milhões", contabiliza. "Estamos adaptando muita coisa, mas o que a gente mais vê dos clientes é a solidariedade. Muitos chegam e dizem: 'Nem precisava comprar, mas quero estar contigo neste momento'. É uma onda muito bacana que está acontecendo", emociona-se Adriana. 
 

5. Nostro Galeto: os "guerreiros" venceram

"Conseguimos vencer!"", comemora Clavio (2º esq/dir), com os familiares que tocam casa

"Conseguimos vencer!"", comemora Clavio (2º esq/dir), com os familiares que tocam casa

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
A tradição de família italiana que pega junto salvou o Nostro Galeto, na Zona Norte de Porto Alegre. A "família" vai dos donos, o casal Elda e Clavio Battisti, e os primos William e Leonardo Battisti, e os "guerreiros", os mais de 30 funcionários. "Queria fazer uma foto dos guerreiros e postar no Instagram. Todo mundo com braço erguido e dizendo: "Conseguimos vencer!"", resume Clavio. No salão, os "guerreiros" não param. Flanam entre as mesas com bandejas repletas de radiche, massa, polenta frita e o galeto. "Foram 25 dias fechados e 10 de faxina", conta Leonardo Battisti. O prejuízo foi de R$ 500 mil. São 200 a 250 refeições em dias de semana, que dobram em sábados e domingos. 
 

6. Odara: a volta com mais demanda

Scheid, que começou a Odara vendendo alfajores na praia, diz que é emocionante voltar

Scheid, que começou a Odara vendendo alfajores na praia, diz que é emocionante voltar

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Eles voltaram e com mais pedidos. Após a repercussão da pré-venda, na qual consumidores pagaram para ter os Alfajores Odara depois e ajudaram a quitar os salários de 60 funcionários, a marca retomou a produção na Zona Norte de Porto Alegre, após parar 60 dias devido à inundação e reconstrução. "A água chegou a dois metros de altura. Depois que baixou nas instalações, a gente só conseguia acessar de bote", recorda o fundador e diretor da Odara, Jeison Scheid, que chegou a duvidar que a operação fosse voltar tão rápido. "A galera pegou junto e vimos que daria para retomar", comemora. O prejuízo foi estimado em quase R$ 2 milhões (máquinas e muito estoque de itens). Sobre a pré-venda, quem comprou terá uma embalagem especial dos biscoito, diz Scheid. Foram quase R$ 600 mil arrecadados. No mercado, a marca já capta mais clientes. "É emocionante estar de volta e com força total", resume. "É um novo reinício."
 

7. Patchwork: novas ferramentas do lojista

"Não estava sendo um ano fácil. É uma batalha, mas seguimos!", diz Karine

"Não estava sendo um ano fácil. É uma batalha, mas seguimos!", diz Karine

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"Mobília, provadores, espelhos, foi tudo fora, fizemos tudo novo", listou a lojista Karine Kruse, uma das proprietárias da Patchwork, rede de vestuário da malha. Karine está à frete de cinco unidades. Em fim de maio, quando a água baixou no Centro Histórico da Capital, Karine aprendeu a manobrar lava-jato para limpar. A ferramenta foi essencial na retomada, além de recursos de programas públicos e gerador, outro item essencial. Mais de um mês após abrir, precisa do equipamento para ter energia na loja da rua Uruguai. "Já não estava sendo um ano fácil. É uma batalha, mas seguimos!", define ela, sobre a peleia com ou sem cheias. "Reabrimos não como as nossas clientes merecem, mas temos de estar com as portas abertas."   
 

8. Pop-Up Livros: novo ponto e foco na Feira do Livro

Pop-Up Livros, no Centro Histórico de Porto Alegre, foi fortemente atingida pelas enchentes

Pop-Up Livros, no Centro Histórico de Porto Alegre, foi fortemente atingida pelas enchentes

/POP-UP LIVROS/DIVULGAÇÃO/JC
A inundação no Rua da Praia Shopping, Centro Histórico de Porto Alegre, pegou justamente a área onde estava a Pop-Up Livros, do ex-gerente da Saraiva Rafael da Silva Pereira. A livraria vai reabrir, mas em outra posição no complexo, um pouco menor e em nova fase pós-cheias. “Vamos ter mudanças, com mix de mais vendidos e sebo”, explica Pereira. “Estamos de olho no fluxo da Feira do Livro.” Sem o ponto no Centro, o livreiro conseguiu estrear uma loja no Boulevard Assis Brasil, na Zona Norte. “Vamos testar por três a seis meses. A região é promissora”, anima-se. A Pop-Up tem no conceito a ideia de ser itinerante, cita o livreiro.
No Bourbon, a unidade mudou um pouco, é mais aberta e interage com a praça de alimentação. O recomeço do varejo de Pereira é com novidade.

9. Sal Fino: sob nova direção

Leandro Theobald perdeu seu ponto em outro centro comercial e encontrou novo espaço

Leandro Theobald perdeu seu ponto em outro centro comercial e encontrou novo espaço

PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"É um novo começo, depois da enchente", avisa Leandro Theobald, que perdeu seu ponto no Centro Shopping, da rede Grazziotin, na rua Voluntários da Pátria, no Centro Histórico, atingido pela água. Sua cafeteria não foi inundada, mas o local permanece fechado, e o contrato acabou. Theobald, que deixou a vida de caminhoneiro, em 2007, para empreender na Capital, faz o recomeço em um espaço ainda melhor, diz. Ele descobriu o bistrô fechado na Galeria Chaves e alugou, mantendo o nome: Sal Fino. "Tô gostando dos clientes novos e trouxe os antigos também. Novo desafio."    
 

10. Via Condotti: clientes fiéis e olho em riscos

"Fizemos uma boa venda", festeja Klein, na reabertura da filial na Capital

"Fizemos uma boa venda", festeja Klein, na reabertura da filial na Capital

/VIA CONDOTTI/DIVULGAÇÃO/JC
"Abrimos em 3 de julho no Centro de Porto Alegre", avisa Carlos Klein, dono da Via Condotti, de moda masculina, com três lojas, sendo uma em Canoas. A filial no Centro foi arrasada pela água. Ficou dois meses fechada. No Canoas Shopping, o dano foi menor. O ponto do Centro foi expansão pós-pandemia. Klein ainda não quitou o aporte e gastou R$ 45 mil para remontar. Mas aproveitou mobiliário de outra filial, temendo nova cheia. Ele buscou crédito, que demorou: "O tempo do governo não é o nosso". No retorno, ânimo. "Fizemos uma venda boa. Clientes fiéis fizeram questão de comprar para nos dar impulso."
 

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