Cadastre-se para receber as Newsletters gratuitas do JC
As notícias que você não pode deixar de ler irão chegar cedinho no seu e-mail, para começar o dia bem informado!
Faça cadastro no site do JC para comentar.
Não é necessário ser assinante
Corrigir texto
Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.
Entre com seus dados e boa leitura!
Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies. Para mais informações, consulte nossa Política de privacidade.
A coluna foca novidades sobre operações, tendência e desempenho do consumo e traz olhar de quem empreende no varejo do Rio Grande do Sul, com conteúdo multimídia.
Publicada em 18 de Junho de 2024 às 21:01
"Alma" do Mercado Público voltou com clientes e mais de 50% das lojas abertas
Burburinho e grande fluxo de frequentadores em corredores voltaram à cena do Mercado Público
TÂNIA MEINERZ/JC
Compartilhe:
Patrícia Comunello
No comércio, a venda é tudo, mas nesta terça-feira (18), o caixa falou bem mais baixo entre os permissionários do Mercado Público de Porto Alegre, mesmo que eles estejam precisando, e muito, de dinheiro. A conta da remontagem das lojas, após a inundação, é alta. Só que a "alma" do Mercado ecoou soberana em mais uma etapa da reabertura. Agora 53 operações voltaram a erguer as cortinas (portas). O empreendimento tem 104 estabelecimentos.
No comércio, a venda é tudo, mas nesta terça-feira (18), o caixa falou bem mais baixo entre os permissionários do Mercado Público de Porto Alegre, mesmo que eles estejam precisando, e muito, de dinheiro. A conta da remontagem das lojas, após a inundação, é alta. Só que a "alma" do Mercado ecoou soberana em mais uma etapa da reabertura. Agora 53 operações voltaram a erguer as cortinas (portas). O empreendimento tem 104 estabelecimentos.
VÍDEO: O astral na reabertura do Mercado Público
"O Mercado na vida do porto-alegrense é a alma da cidade", define o paulista e chef de cozinha Fernando Gadelha. "A alma ainda está afetada, mas vai melhorar", define Gadelha, que foi cedo ao empreendimento para reabastecer produtos de sua cafeteria, a Verissimo, no bairro Menino Deus.
"O Mercado na vida do porto-alegrense é a alma da cidade", define o paulista e chef de cozinha Fernando Gadelha. Fotos: Tânia Meinerz/JC
Frequentadores e mesmo operadores destacaram que o ambiente, e até as bancas, estão mais limpas. Muitas aproveitaram, devido aos danos e à perda total de mobiliário, para renovar os modulados e prateleiras, além de nova pintura. Houve um processo bem forte de desinfecção e higienização. A abertura está sendo de segunda a sábado, das 8h às 19h.
Trabalhadores das bancas estavam bem animados: "Voltei mais apaixonado", gritou o funcionário de um açougue, quando a coluna Minuto Varejo estava fazendo a reportagem.
Aquele burburinho, que se espraia pelos corredores centrais em tempos sem cheias, voltou a ser ouvido. Até essa segunda-feira (17), mesmo com a abertura desde sexta-feira (14), ainda não estava liberado para o público circular pela área interna. Apenas o segundo piso, com a maior parte dos restaurantes, e lojas de rua podiam ser acessadas.
"O Mercado está oficialmente aberto", avisa mãe Melissa, após um rápido ritual da religião de matriz africana
Também teve um grupo de religião de matriz africana, que concluiu a obrigação, uma das etapas da formação, no Bará, o orixá que abre caminhos e fica no centro do prédio icônico. "O Mercado está oficialmente aberto", avisa mãe Melissa, após um rápido ritual e dando a mensagem:
"A gente está passando por um momento muito difícil. As pessoas precisam ser mais humildes. A união faz a força", recomenda Melissa.
"Muitos clientes chegam e perguntam primeiro se estamos bem, como está a nossa casa, se fomos atingidos (pela cheia), antes de fazer pedido", conta Gilson Biermann, da Banca 43.
"Já teve gente emocionada e chorando ao chegar na banca", descreve o gerente Alex Rondon, da Banca do Holandês. "Tirei foto com a primeira cliente pós-enchente. É tudo memória afetiva. Para as pessoas, também é importante voltar aqui", observa Rondon.
Rondon (esq.) e Schaeffer destacaram a emoção de voltar ao complexo e ter a recepção de clientes. Foto: Patrícia Comunello/JC
Na banca, a equipe estava em peso na linha de frente do balcão. "O pessoal (clientes) vem pegar queijo, mortadela, presunto parma, e o bom atendimento", lista Danilo Schaeffer. "Estava trabalhando em uma filial, mas meu coração batia aqui no Mercado. Tenho clientes de carteirinha. Não é só compra e venda, tem aquela amizade e carisma", resume Schaeffer.
A Holandês tem duas unidades de rua, fora do complexo em outros bairros da Capital, que foram decisivas para a operação em 45 dias com Mercado fechado.
"A erva a granel é diferente da empacotada. É outro sabor", frisou o aposentado Lauro Alves da Costa, que admitiu: "Tava com saudade de comprar erva aqui", descreve Costa, que mistura sentimentos diversos no retorno: "Uma sensação de tristeza e de alegria ao mesmo tempo. Frequento aqui há 53 anos e é difícil ver o que eles passaram".
"A gente estava sentindo falta. Estamos acostumados a vir ao Centro e passar no Mercado", diz Dayse
"Vim buscar queijo, sempre compro aqui, tem mais variedade. O Mercado é tradição", opina o aposentado Ivo Didoné.
Açougues, armazéns, peixarias. As opções entraram no roteiro da aposentada Dayse Assmann, que saiu do bairro Menino Deus para o Centro e repetiu um ritual anterior à inundação. "A gente sente falta do Mercado. Estamos acostumados de vir ao Centro e passar no Mercado. Fiquei bem feliz que abriu", rende-se a aposentada.
A proprietária da Comercial Martini, Adriana Kauer, admitiu que vem alternando dias bons e outros nem tanto - devido aos danos e prejuízos altos com a inundação no empreendimento e no depósito onde perdeu todo o estoque -, mas que reabriu a loja, e o sentimento veio com força. "Agora já 'baixou' o espírito mercadeiro", avisou Adriana.
"Cancelei todos os compromissos que tinha de manhã, peguei um ônibus e vim correndo para cá", conta Tatiana. Foto: Patrícia Comunello/JC
Na "loxinha", como chama a permissionária, a fila no caixa já era grande. A empreendedora e estudante de gastronomia Tatiana Retamozo encheu o cestinho de produtos, desde chocolates, forminhas a embalagens. "Assim que ela (Adriana) publicou que ia reabrir, cancelei todos os compromissos que tinha de manhã, peguei um ônibus e vim correndo para cá", descreve Tatiana. "Minha saudade da loja era enorme."
A confeiteira autônoma ainda define o que é o Mercado Público para clientes como ela: "O Mercado é o coração da cidade e tudo que a gente precisa para manter o comércio em dia".
"Abriu devagarinho. Amanhã (quarta) vai estar 'mais normal'", avisa Leonardo Fachin, do Armazém Metropolitano, que vende cereais. "Faltam computadores, mobiliário. Falta pouquinho", garante ele. "É tudo novo 'de novo'", diz o mercadeiro. Por quê? "Tínhamos feito reforma no começo do ano. Agora nem sei quanto vou gastar." A loja pediu financiamento pelo Pronampe, no valor máximo, de R$ 150 mil.
Kaiper mostra altura que a água atingiu dentro da peixaria que costumava receber 400 clientes por dia, antes das cheias
"Ficou destruído", resume Joás da Silva Kaiper, gerente da Japesca, uma das peixarias do complexo. A marca é dona ainda de temakeria, distribuidora e Banca 40. A peixaria reabriu, mas ainda falta instalar geladeiras e algumas estruturas dos balcões. "Estamos finalizando, mas não ficou completo para este dia tão especial de reabertura", lamentou Kaiper. Por dia, costumavam passar 400 clientes pela loja. "Esperamos que, com o tempo, eles voltem".
No Ponto do Chimarrão, a operação é ainda parcial, com 50% dos produtos, porque ainda não foi possível repor todo o estoque perdido na inundação. Outro detalhe que mercadeiros e funcionários observaram é que a ausência do trem metropolitano também impacta o fluxo.
A Trensurb faz a limpeza da estação Mercado, mas ainda não tem data de reativar a ligação. Por enquanto, o trem está sendo ofertado entre Novo Hamburgo e a estação Mathias Velho, em Canoas.
Aberto desde sexta-feira, Cesar Salami, da Banca 15, avalia que mais lojas em operação gera mais fluxo. "Pessoal tá vindo e comprando", atesta Salami. "Muitos estavam na expectativa pela reabertura, com vontade de vir aqui."
Estação Mercado de trens ainda está fechada, o que acaba restringindo o fluxo de pessoas para o empreendimento
Ainda faltam pontos clássicos para abrir, como a Banca 40, de sorvetes, e a Café do Mercado, con duas unidades no complexo. A cafeteria teve impacto grande em equipamentos e está tentando recuperar maquinários.
Segundo a Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc), são 53 pontos entre lojas, bancas e boxes. O total do complexo é de 104 estabelecimentos, sendo que alguns têm mais de um espaço. A abertura aos domingos ainda está sendo avaliada, informa a entidade.