O fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, já provoca baixas, além do grande impacto à economia geral do Rio Grande do Sul. Demissões já estão ocorrendo em operações comerciais no terminal de passageiros. Uma rede de fast-food com quatro lojas dispensou quase todo o quadro e promete voltar a contratar quando o aeroporto reabrir.
A Casa do Pão de Queijo (CPQ), com cerca de 200 lojas no País, dispensou quase todos os cerca de 30 empregados que atuavam nas unidades. Nenhum dos pontos chegou a ser inundado, pois estão em andares onde a água não alcançou - segundo piso, praça de alimentação e embarque.
"Ninguém gosta de ouvir a notícia de demissão e não gosto de dar a noticia. A demissão é horrível, é triste, mas não tem como manter no nosso tipo de negócio de conveniência, que depende do passageiro que passa e come", esclarece o diretor de marketing da marca, Mario Carneiro Neto.
"A gente quer os colaboradores de volta quando reabrir", garante ele, projetando o retorno. O contrato com a concessionária Fraport Brasil foi mantido e já tinha sido renovado.
A coluna Minuto Varejo solicitou à concessionaria informações sobre este movimento de cortes nas operações comerciais, devido à paralisação do complexo, e como está procedendo em relação à cobrança de locações.
São mais de 80 estabelecimentos de comércio e serviços no terminal. Novas marcas estavam se preparando para abrir, como o
Bob's e
Living Heineken. A
livraria Cameron, que foi inundada no térreo, junto com a
unidade da Starbucks e outras operações, deslocou pessoal para outras filiais.
As demissões na CPQ foram comunicadas no dia 3 de junho aos empregados. O diretor de marketing diz que a decisão foi repassada pessoalmente à parte do quadro e por mensagem em grupo de WhatsApp para quem não conseguiu comparecer. Apenas três funcionários foram mantidos para ficar na interface com a concessionária.
Livraria Cameron teve uma das unidades do terminal inundada e deslocou funcionários a outras filiais. Foto: Tânia Meinerz/JC
Carneiro Neto justifica que "pesou" para o encaminhamento
"não saber quando ia voltar (a operação do aeroporto)". Coincidentemente, no mesmo dia, a direção da concessionária repassou ao governo federal a primeira expectativa de reabertura:
apenas no fim de dezembro. Mas o prazo ainda é condicionado à avaliação sobre impactos à pista e a equipamentos e tempo para recompor tudo.
No grupo dos demitidos, há pessoas que tiveram as residências inundadas. O diretor de marketing diz que a empresa estava acompanhando os casos e deu apoio com doações. Uma vaquinha com ajuda de empregados obteve R$ 40 mil, com pagamento de R$ 1,5 mil por funcionários que atuava no aeroporto.
"Antes das demissões, fizemos de tudo para ajudar: antecipamos 13º e férias, até para quem não tinha direito ainda", lista o diretor, lembrando que não foi possível esperar o programa do governo federal. "Demorou", avisa ele. Medida Provisória foi publicada em 7 de junho, prevendo pagamento de um salário-mínimo por dois meses para cada empregado de empresa atingida no Estado.
Segundo Carneiro Neto, a rede teria dificuldade de cobrir a despesa, sem operação, pois ainda acumula passivo herdado da pandemia de Covid-19, que afetou em cheio os serviços de alimentação, incluindo as marcas em aeroportos.
"A situação da empresa não permite que tenhamos pessoas empregadas sem faturamento", reforça o executivo, citando que o aeroporto de Porto Alegre é a terceira maior praça em faturamento entre as unidades próprias situadas em terminais.
"São R$ 1 milhão ao mês", contabiliza Carneiro. A marca tem 23 a 25 lojas próprias. As demais são franquias, algumas também em terminais.
Além de não ter a receita devido ao fechamento, a rede teve prejuízo avaliado em R$ 250 mil com estoques e equipamentos de refrigeração que estavam em uma sala locada no andar térreo do Salgado Filho, que foi atingido pela inundação.
Com o fechamento do terminal, a CPQ teve desconto de 90% do aluguel. Na operação normal, o lojista pode optar por valor de locação ou com base na receita. Outros custos como energia não estão sendo cobrados. "A Fraport é muito parceira. Já tínhamos antecipado a renovação do contrato. Tínhamos intenção de abrir uma quinta loja, mas agora vamos avaliar", adianta Carneiro.